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Queda do IPCA-15 reforça decisão de BC interromper alta da Selic; juros futuros caem

Além da queda da gasolina, índice mostrou deflação de alimentos e telecomunicações

Foto: Shutterstock

A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), divulgada nesta terça-feira (27), foi mais do mesmo, com a instituição reforçando o discurso duro de que será vigilante com a inflação, apesar de ter interrompido o ciclo de alta de juros. Por outro lado, o IPCA-15 de setembro, também apresentado hoje, surpreendeu e acalmou os ânimos dos mercados.

O índice ajudou a reforçar a decisão do colegiado de encerrar o aumento da taxa básica de juros, a Selic, nos atuais 13,75% ao ano. A deflação prévia do mês alcançou 0,37% e mostrou queda de preços chegando também a alimentos e alguns serviços, como telecomunicações. O índice de difusão, percentual que mede quantos itens do IPCA subiram no período, caiu para 60%, mostrando uma inflação menos espalhada pela economia.

Esse cenário melhor, pelo menos por enquanto, ajuda a afastar a chance de o Copom voltar a subir os juros antes da hora caso as pressões inflacionárias surpreenderem, como sinalizou na ata.

“É difícil dizer que apenas um número sanciona a decisão do Copom [de parar de subir os juros]”, apontou Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset Management. “Mas o número mais baixo que o esperado reforça um pouco esse cenário. Quando começamos a olhar os núcleos (medida de inflação que elimina os itens de preços mais voláteis), o comportamento dos serviços, dos bens industriais, vemos sinais de que a inflação de fato está melhorando.”

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Weeks faz a ressalva de que parte da queda de preços, como o grupo comunicação (que registrou queda de 2,74%), foi impulsionada pela decisão tardia das empresas de telecomunicação de repassarem a redução do ICMS. “Esse é um efeito on off (ou seja, que não se repetirá). Mas foi uma surpresa positiva, porque se esperava um impacto menor.”

A Garde está mais otimista do que a média do mercado com o IPCA de 2023, e espera que os preços subam 4,1% no ano que vem – os analistas ouvidos pelo Boletim Focus preveem uma alta de 5%.

“Acreditamos que o BC, apesar de não querer assumir agora, vai começar a cortar juros já no final do primeiro trimestre do ano que vem”, disse o economista-chefe. “No nosso cenário global, estamos vendo uma desaceleração mais forte da atividade, com o crescimento chinês aquém do esperado devendo contribuir para a queda das commodities em reais. Isso deve ajudar o BC na tarefa de reduzir a inflação.”

Outro grupo que mostrou deflação foi o de alimentos e bebidas, cujos preços caíram 0,47%. Para André Braz, economista responsável pelos índices de inflação da FGV (Fundação Getúlio Vargas), esse foi o principal destaque do indicador.

“O IPCA-15 repetiu a deflação de meses anteriores, com queda basicamente da gasolina, que recuou quase 10%”, lembrou. “A boa notícia veio da alimentação. Os alimentos em domicílio, em especial, recuaram, e isso não ficou apenas em fatores sazonais. Cereais, arroz, feijão, carnes, açúcar e muitos itens da cesta básica apresentaram queda.”

Ele destacou ainda que o índice de difusão do IPCA, que chegou a alcançar quase 80%, caiu a 60%, o que é uma boa notícia. “De qualquer forma, a inflação ainda está no radar, já que a queda de preços vem se concentrando em itens que receberam benefício do ICMS. Mas não deixa de ser uma boa notícia quando a deflação chega em alimentos.”

A queda da difusão do IPCA também foi destacada pelo economista-chefe do Banco Original, Marcos Caruso. “Um dos pontos de maior destaque na divulgação foi a desaceleração dos núcleos de inflação, uma métrica do Banco Central que visa capturar a tendência dos preços, excluindo comportamento dos itens mais voláteis como alimentos e energia”, afirmou em relatório. “Os núcleos desaceleraram de 0,56% para 0,47%, enquanto o índice de dispersão recuou de 65,12% para 59,95%.”

Juros futuros caem

Na avaliação do mercado, o IPCA-15 de setembro melhor que o esperado reduz as chances de o Banco Central ser forçado a voltar a subir a taxa básica de juros. Como reação, os juros futuros caem na manhã desta terça.

Por volta das 12h15, os contratos DI com vencimento em outubro de 2023 eram negociados em queda de 12 pontos-base, a 13,19%, enquanto que o vencimento em outubro de 2025 operava em baixa de 26 pontos-base, a 11,46%.

“A ata do Copom não teve nenhum impacto sobre o mercado, veio muita alinhada com o comunicado. O que teve impacto foi o IPCA-15, que animou o mercado, com os DIs caindo e o varejo subindo forte”, apontou Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.

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Na avaliação da economia Claudia Moreno, do C6 Bank, apesar das surpresas positivas, é preciso ter cautela com a leitura do indicador, “que ainda estão muito contaminados por essa redução pontual de impostos.”

“Para ter uma clareza melhor do que está acontecendo, preferimos olhar para os núcleos de inflação do BC, que eliminam distorções como essa. E quando olhamos para as médias dos núcleos do BC, o que vemos é uma inflação dos últimos três meses rodando em 8,3%, que é um patamar ainda elevado”, pondera.

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