Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Por que 2023 será (mais uma vez) um ano difícil para negociar salários?

Desaceleração da economia e inflação atrapalham negociações; em 2022, 40,6% dos acordos tiveram aumento abaixo do INPC

Foto: Shutterstock/Brenda Rocha - Blossom

O trabalhador brasileiro vai encontrar em 2023 um ambiente ainda mais difícil para fazer a negociação de salários. Desaceleração da economia e inflação ainda elevada são fatores que vão jogar contra na mesa de negociação. Em 2022, quatro de cada dez negociações (40,6%) resultaram em acordos que levaram a reajustes abaixo do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Uma parcela de 25,2% das negociações foi mais feliz e conseguiu aumentos acima da inflação e uma fatia de 34,2% conseguiu apenas a reposição dessas perdas.

“Daqui para frente, o espaço para o aumento é menor, já que é um ambiente de PIB mais baixo. Isso vai fazer com que a população ocupada cresça menos”, diz Eduardo Vilarim, economista do Banco Original.

O INPC do ano passado ficou em 5,93%. Índice mais utilizado como referência nas negociações salariais, é medido pelo IBGE e leva em conta as famílias com renda entre um e cinco salários-mínimos – o IPCA mede a inflação para quem ganha entre um e 40 salários.

Com base no INPC e nos acordos de negociação coletiva registrados, a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisa) condensa os dados sobre os reajustes em seu relatório chamado de “salariômetro”.

Menos salário, menos consumo

Saber o patamar dos reajustes é importante devido ao efeito na massa salarial, que é a soma dos rendimentos dos trabalhadores, que, em quase sua totalidade, ajudam a alimentar o consumo.

Além dos reajustes, a criação do número de vagas é determinante para a o aumento da massa salarial, mas o cenário macroeconômico deve tornar essa abertura mais escassa em 2023.

“Já há alguns setores com menos contratação, como o de hospedagem, que ainda não recuperou o nível pré-pandemia e começou a apontar para baixo. Atividades ligadas às empresas vão performar positivamente em 2023, mas aquelas ligadas aos serviços à família devem desacelerar”, afirma Vilarim.

O Itaú compartilha dessa visão de um ano mais difícil para a criação de emprego – o que também impacta nas negociações salariais.

“A desaceleração [do emprego] deve continuar à frente, uma vez que esperamos um crescimento do PIB de 0,9% em 2023, impulsionado principalmente pelo setor agropecuário, mas afetado negativamente por condições monetárias mais apertadas e desempenho econômico mundial mais fraco”, informa a instituição, em relatório.

A expectativa é que o PIB de 2022 tenha tido uma expansão de 3%. Para 2023, a projeção do Boletim Focus mais recente aponta para um crescimento de 0,76%. Um crescimento mais baixo tende a resultar em menor criação de postos de trabalho.

Auxílio do governo

E mesmo o crescimento da massa salarial é fruto de fatores que vão além do mercado de trabalho. A massa salarial real efetiva em circulação atingiu R$ 273 bilhões no trimestre encerrado em novembro, uma alta de 13% na comparação anual, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE. Esse dado, no entanto, considera também auxílio pagos ao longo de 2022 ou outras rendas, como pagamento de atrasados e horas extras.

Para Vilarim, o que pode contribuir para o trabalhador ter um alívio na renda, já que ela não virá por reajuste de salário, são medidas que o governo pode tomar ao longo dos próximos meses.

“O que pode ajudar o consumo é algum tipo de auxílio à população, como a mudança da faixa de isenção do Imposto de Renda. Isso pode ajudar o consumo, porque gera aumento do orçamento das famílias”, explica.

Se mercado de trabalho e massa salarial menos aquecidos inibem o consumo, essa mesma desaceleração pode gerar um efeito considerado por economistas como positivo para a inflação.

“É uma questão de inércia. Quando a massa salarial está em alta, a inflação de serviços cai mais devagar. A desinflação demora mais”, conta o economista do Original.

Nos 12 meses encerrados em janeiro, o IPCA, que serve para as metas de inflação, teve alta de 5,77%. Já o INPC atingiu, no mesmo período, 5,71%.

Cadastre-se para receceber nossa Newsletter
Marketing por

Compartilhe:

Mais sobre:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.