A nova queda do desemprego em julho, com a taxa recuando pela quinta vez consecutiva e alcançando 9,1% no mês, revela um mercado de trabalho ainda aquecido com a recuperação de uma demanda deprimida por dois anos de pandemia.
Para parte dos economistas, o emprego no Brasil deve continuar mostrando melhora nos próximos meses, mas o cenário de juros altos e economia mais fraca pode virar o jogo a partir de 2023 e levar a taxa de desemprego de volta ao patamar de dois dígitos.
Já outros especialistas afirmam que o enfraquecimento da atividade no segundo semestre pode fazer a taxa piorar ainda em 2022.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, lembra que a melhoria atual do mercado de trabalho acontece mesmo em um contexto em que há mais pessoas procurando emprego.
“A queda da taxa de desemprego é reflexo tanto da expansão da ocupação quanto da PEA [população economicamente ativa], composta por quem está empregado e por quem procura emprego”, diz. “Ou seja, a composição da taxa é boa, mostra um mercado de trabalho dinâmico e reflete os dados positivos de atividade.”
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), influenciaram a queda do desemprego em julho as atividades de comércio e reparação de veículos e motocicletas (cujo aumento foi de 3,7% no número de empregados) e de administração pública, defesa, educação, saúde e serviços sociais (cuja alta alcançou de 3,9%).
“Nossa expectativa é que a taxa de desemprego continue caindo até o fim do ano, chegando a 8,7%, como efeito defasado da recuperação econômica”, afirma Moreno “À frente, no entanto, a história começa a mudar: os efeitos dos juros altos e da desaceleração da economia global vão pesar mais fortemente sobre economia, impactando negativamente o nível da ocupação em 2023.”
Leia mais:
Taxa de desemprego cai para 9,1% em julho e renda real volta a crescer
Para Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs, a tendência de fortalecimento do mercado de trabalho brasileiro deve se suavizar nos próximos meses e em 2023.
Na avaliação do economista, ainda há um número significativo de trabalhadores desalentados, que param de procurar emprego por acreditar que não conseguirão uma vaga. Na medida em que essas pessoas voltam a procurar trabalho, a taxa de desemprego pode aumentar.
“Apesar do mercado de trabalho recente mostrar fortalecimento, um quinto de toda a força de trabalho ativa continua subutilizada”, apontou em relatório.
Renda real enfim cresceu
Os dados do IBGE mostraram também que, pela primeira vez desde julho de 2020, o rendimento reagiu, apresentando crescimento em relação ao período anterior.
A renda média real (descontada a inflação) dos trabalhadores alcançou R$ 2.693 no trimestre encerrado em julho, avanço de 2,9% na comparação com o período de três meses encerrado em abril. Na comparação, com o mesmo intervalo do ano passado, a renda ainda cai 2,9%.
Para Moreno, do C6, o rendimento se mantém em um patamar deprimido. “Já a massa de rendimento real vem registrando forte expansão e já chega perto do nível pré-pandemia. A alta foi de 1,6% frente ao trimestre encerrado em junho”, destaca.
Na avaliação do economista Victor Beyruti, da Guide Investimentos, o cenário mostrado para o emprego formal pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) na segunda-feira (29) também é válido para a taxa de desemprego.
Saiba mais:
Caged mostra emprego formal ainda forte, mas contratação no comércio e serviços perde ritmo
“A desaceleração [do Caged] foi puxada principalmente por serviços, que é o setor cuja criação de vagas tem surpreendido nos últimos meses. Dessa forma, conforme o esperado, setores mais cíclicos como serviços e comércio devem continuar mostrando arrefecimento devido ao efeito do aumento dos juros, coisa que já se mostrou nos últimos dados”, afirmou em relatório.