Caged mostra emprego formal ainda forte, mas contratação no comércio e serviços perde ritmo

Puxado por comércio e serviços na primeira metade do ano, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de julho mostrou que o emprego formal continua bastante aquecido, apesar da desaceleração em relação a meses anteriores e do número abaixo do esperado por analistas de mercado.

Daqui para frente, em um cenário de juros elevado, eleições e perspectivas piores para a economia global, a expectativa é que a criação de vagas com carteira assinada continue perdendo ritmo, na avaliação de economistas.

Em julho, foram criados 218,9 mil postos de trabalho, uma queda de 21,4% em relação a junho. A geração de empregos foi puxada pelo setor de serviços, que abriu 81,8 mil vagas, seguido da indústria (+50,5 mil), comércio (+38,5 mil), construção (+32 mil) e agricultura (+15,8 mil).

O recuo é maior quando se retira do número a sazonalidade (ou seja, os impactos típicos de cada mês sobre o emprego). Nesse caso, a conclusão é que a geração de vagas foi de 175 mil, segundo cálculo da Garde Asset Management, redução de 45,4% na comparação entre os dois meses.

Com o ajuste pela sazonalidade, os dados mostram que o comércio, que vinha criando mais de 60 mil vagas nos meses anteriores, caiu para um patamar de 19,3 mil vagas criadas no mês passado, enquanto os serviços, de um ritmo de mais de 140 mil empregos, caiu para 87,3 mil.

“O Caged vem numa tendência bastante forte nos últimos meses, em parte puxada por dois setores específicos, serviços e comércio, que vem entregando bastante do ponto de vista do emprego formal”, aponta o economista Daniel Sinigaglia, da Garde. “Os dados de hoje mostram os dois setores desacelerando bem, com o impacto positivo da reabertura da economia na primeira metade de 2022 perdendo um pouco de tração.”

De qualquer forma, o especialista ressalta que a criação de vagas medida pelo cadastro já alcança 1,56 milhão de empregos no acumulado do ano. “São perto de 1,6 milhão de empregos com carteira gerados em 2022. Quando se compara com o mesmo período da série histórica, só perde para 2010 e para o ano passado, quando houve uma recuperação do auge da pandemia, em 2020.”

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O economista Marcos Caruso, do Banco Original, elevou a projeção para criação de postos de trabalho no ano fechado de 2022 para 1,6 milhão, de expectativa anterior de 1,5 milhão.

“Apesar do número de junho ser aproximadamente 30% abaixo da comparação com julho de 2021, não muda a mensagem de que o desempenho do mercado de trabalho formal continua bastante positivo”, avaliou em relatório.

Próximos dados do Caged mostrarão acomodação no emprego

Na avaliação de Sinigaglia, o mais provável é que o Caged continue mostrando perda de ritmo daqui para a frente. “Isso por causa do término do processo de reabertura da economia, as eleições, que acabam deixando os empregadores mais reticentes, e uma incerteza maior da economia global.”

É uma análise similar à do economista-chefe da Necton, André Perfeito, que aponta que os números dos últimos meses mostram uma tendência de queda, mas ainda assim revelam um mercado de trabalho muito aquecido.

“A criação nos últimos meses foi extremamente forte. Em 12 meses foram criadas 2,55 milhões de vagas”, apontou. “Desde o início da pandemia, em março de 2020, a criação de vagas foi suficiente para zerar o estoque de desligados e ainda adicionar 3,8 milhões de vagas.”

Para Perfeito, os números devem mostrar nos próximos meses uma acomodação desse cenário. “Provavelmente devemos ver uma acomodação na criação de vagas, afinal avançou bastante ao longo dos últimos meses”, ponderou.