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IPCA registra maior deflação trimestral da história, mas alta deve voltar em outubro

Alta na cotação do petróleo e agravamento da guerra entre Rússia e Ucrânia devem frear novas quedas

Foto: Shutterstock

A inflação não resistiu à redução de impostos, aumento de juros e enfraquecimento da economia global, e o IPCA, índice oficial de preços do Brasil, tombou 1,32% no terceiro trimestre deste ano, a maior queda para qualquer período de três meses da história.

A única outra vez que o indicador se comportou dessa forma – com quedas seguidas nos três meses – foi entre julho e setembro de 1998, quando o país estava às portas de uma recessão. Na ocasição, o IPCA caiu 0,84% em meio à atividade econômica fraca.

É um cenário diferente do que vivemos hoje, com os estímulos trazidos pela recuperação do pós-pandemia e o estímulo proveniente do aumento do valor do Auxílio Brasil em ano eleitoral.

A deflação de 2022 veio na contramão da atividade econômica, trazida a princípio pela redução do ICMS de combustíveis, energia e comunicações (aprovada pelo Congresso a poucos meses do primeiro turno das eleições) e mais recentemente pelo aumento de juros e perda de ritmo da economia mundial.

É um processo que deve perder força a partir deste mês, ainda mais em um cenário em que a cotação do petróleo voltou a subir nos últimos dias após decisão da Opep + (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) de cortar a produção diária de barris da commodity.

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Como destaca André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o IPCA de setembro voltou a ser ajudado pela queda da gasolina, cenário que não deve se repetir com o corte de produção da Opep e agravamento da guerra entre Rússia e Ucrânia.

“O próximo índice, de outubro, deve vir bem diferente. Os efeitos do corte do ICMS e das reduções de preços de combustíveis da Petrobras vão se distanciando, e a decisão da Opep e o agravamento da guerra entre Rússia e Ucrânia não dão novas brechas para mais queda de combustíveis”, avalia. “Podemos nos despedir desse ciclo de inflação negativa.”

O especialista da FGV lembra que a queda nos preços de alimentos também vem ajudando no processo de deflação, o que é uma boa notícia. “O óleo de soja caiu, os alimentos estão mais baratos. Não é algo a ser mega comemorado, mas só o fato de parar de subir já gera alento para as famílias de baixa renda”, afirma, destacando que espera uma alta de 0,40% no IPCA de outubro.

O economista Luis Menon, da Garde Asset Management, também acredita que os preços voltarão a subir nesse patamar. “A inflação deve voltar a subir, acreditamos que com alta de 0,38% para outubro, já que não haverá mais efeito do corte de impostos ou de combustíveis”, aponta. “A inflação passa a ficar em um patamar positivo, e fica assim.”

Inflação em 12 meses cai a 7,17%

O recuo do indicador veio menor do que o esperado pelo mercado – analistas ouvidos pela Broadcast acreditavam em uma queda de 0,32% – e  mostra perda de ritmo do processo de deflação. Em julho, o recuo foi de 0,68%, e em agosto, de 0,36%. No mês de setembro, a queda chgou a 0,29%.

A inflação acumulada no ano ficou em 4,09%; nos últimos 12 meses, a alta de preços é de 7,17%.

“Se olhar a parte de serviços e bens industriais, ainda estão rodando com um valor alto, mas seguem desacelerando”, diz Menon, da Garde. “Os serviços subjacentes [medida de inflação que exclui os itens mais voláteis] estão com uma certa estabilidade, o que é uma boa notícia.”

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Na avaliação do economista, a nova queda de preços não deve reforçar um cenário de um corte mais precoce da taxa básica de juros, a Selic – a expectativa atual é de uma redução somente no final do segundo trimestre de 2023. “Teria que ter uma surpresa muito grande para isso acontecer.”

Para Braz, da FGV, a inflação ainda está bem espalhada – 62% dos itens que compõe o índice tiveram alta em setembro. “O Banco Central precisa ficar atento, porque a alta do petróleo e a aproximação do inverno na Europa continuam pressionando a inflação”.

Na avaliação da economista Claudia Moreno, do C6 Bank, a inflação de bens industriais e de serviços ainda está bastante pressionada quando se olha o período acumulado em 12 meses.

“No caso de bens industriais, a alta acumulada em 12 meses é de 11,05%. Em serviços, a inflação em 12 meses está em 8,05%”, destacou. “Daqui para frente, acreditamos que a composição da inflação comece a mudar, com uma desaceleração lenta dos núcleos de serviços e de bens industriais, enquanto os preços monitorados devem se normalizar.”

Alimentos em queda

Além de combustíveis, outro impacto forte sobre a inflação veio do grupo alimentação e bebidas, que passou de alta de 0,24% em agosto para uma queda de 0,51% em setembro. O destaque no grupo foi alimentação no domicílio, com queda de 0,86%.

De acordo com o IBGE, os produtos que mais levaram à queda nos preços dos alimentos foram o leite longa vida (-13,71%) e o óleo de soja (-6,27%).

A prévia do indicador, o IPCA-15, já havia mostrado uma deflação de 0,37%, mostrando que, além de combustíveis, a redução nos preços chegou também a alimentos e alguns serviços, como telecomunicações.

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