Os efeitos da alta de 8,8% nos preços do diesel sobre a inflação, anunciada pela Petrobras nesta segunda-feira (9), serão indiretos e tendem a demorar um pouco mais para aparecer. É um impacto que é mais difícil de identificar e ao mesmo tempo até mais nocivo para a alta de preços do que os aumentos na gasolina, na avaliação do coordenador dos índices de preços da FGV (Fundação Getulio Vargas), André Braz.
Ele lembrou que o diesel já acumula um aumento de 49% nos últimos 12 meses. “O diesel já subiu quase 50% nos últimos 12 meses. Então qualquer reajuste daqui para a frente pesa ainda mais na estrutura produtiva. A prestação de serviços, o frete em especial, o movimento de máquinas agrícolas, tudo isso tende a ficar mais caro. E isso tudo acaba espalhando as pressões inflacionárias.”
O especialista afirmou que a alta de 8,8% nas refinarias provavelmente chegará às bombas pela metade, subindo em torno de 4% ou 5%. “Mas isso se soma aos 49% de aumento em 12 meses. É mais pressão inflacionária que, apesar de pequena frente ao último reajuste, só engrossa a necessidade de vermos uma correção de preços em serviços,
principalmente em transporte público.”
Braz destacou que o transporte rodoviário e o transporte público urbano são feitos com ônibus movidos a diesel.
“O impacto do diesel sobre o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] é pequeno, pesa pouco na inflação ao consumidor. Mas pesa muito no frete. Então o efeito indireto do diesel para a inflação é o que é mais perverso, chega a ser pior do que o impacto da gasolina.”
Ainda de acordo com o coordenador da FGV, o impacto não é imediato. “Não conseguimos medir o efeito em ponto percentual do IPCA, porque é bem disseminado e não acontece no mesmo momento em que a bomba é reajustada. Muito frete é contrato, precisa esperar vencer para reajustar o valor, e isso joga o efeito da alta do diesel lá para a frente.”
Primeiro reajuste da nova gestão
O aumento informado hoje pela Petrobras (PETR4) no preço médio do diesel para suas distribuidoras – o valor passará de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro – passa a valer a partir desta terça (10).
Esse é o primeiro reajuste da estatal sob o comando de José Mauro Coelho, que assumiu a presidência em abril, prometendo ao mercado não segurar o preço dos combustíveis.
Quando levado em conta a obrigatoriedade da mistura vendida na bomba de 90% de diesel e 10% de biodiesel, o aumento no diesel comercializado nos postos e repassado ao consumidor deve ser de R$ 0,36 por litro, passando de R$ 4,06 para R$ 4,42 em média.