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Fim da Covid Zero vai acelerar crescimento da China, mas Brasil se beneficiará pouco – entenda

Mudança no padrão de consumo chinês torna mais difícil um novo “boom das commodities"

Foto: Shutterstock/kovop

O fim da política de “Covid Zero” na China, mesmo que com sobressaltos, fará o país acelerar o crescimento em 2023. Mas diferentemente de outros ciclos, a expansão da segunda maior economia do mundo terá um efeito limitado sobre o Brasil. O foco no mercado de consumo interno está entre os fatores a impedir essa “transferência” de crescimento.

Na avaliação de Fernando Fenolio, economista-chefe da gestora WHG, é natural que nesse processo ocorram solavancos (como a volta de algumas restrições ou a interrupção de cadeias produtivas) devido ao aumento de casos, mas que devem se normalizar a partir de março, estimulando a economia do gigante asiático.

Com as medidas de flexibilização, a EIU, unidade de inteligência de dados da publicação inglesa The Economist, elevou a projeção de crescimento da China em 2023 de 4,7% para 5,2%, acima dos 3,2% esperados para 2022.

Mais do que o crescimento esperado, Fenolio lembra que o perfil de crescimento da China mudou e que, por isso, o Brasil deve se beneficiar menos.

“A sensibilidade do Brasil em relação à China é diferente do que foi entre 2000 e 2010. A China cresceu muito baseada em construção civil e isso foi bom para metais, minério. Agora não é mais o caso. Como sabemos, a reabertura é mais focada em serviços domésticos”, diz.

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A expectativa de expansão do PIB para o Brasil em 2023 é de 0,80%, segundo o último boletim Focus, uma taxa bem menor que a de 3,04% prevista para o ano passado. 2022, inclusive talvez seja o primeiro em 42 anos em que o Brasil terá um crescimento acima do chinês, mas será algo pontual.

“O que a China pode ajudar o Brasil é via câmbio, com o dólar perdendo força e ajudando o real a não se depreciar tanto. Isso ajuda a inflação”, observa o economista da WHG.

Para Fenolio, o principal risco ligado ao processo de reabertura na China é a inflação, como foi visto em outras regiões do mundo em 2021 e 2022.

Bom para o agronegócio

Já para Roberto Dumas, estrategista-chefe do banco de investimentos Voiter, a reabertura da China será com percalços, já que é esperado o aumento do número de casos e mortes – a autoridade de saúde chinesa suspendeu a divulgação dos números, mas, nos primeiros 20 dias de dezembro, as infecções chegaram a mais de 240 milhões de pessoas.

“Na crise de 2008, a China soltou um pacote bilionário de infraestrutura, mas o país não precisa mais de ativo imobiliário. A China também está mudando o padrão de consumo”, diz.

É essa mudança de perfil que é menos benéfica para o Brasil. Em um cenário de aumento dos investimentos no mercado imobiliário e em infraestrutura, os preços de commodities tendem a subir. Foi essa a tônica do “boom de commodities” dos anos 2000.

Isso não deve se repetir. Para Dumas, os setores do Brasil que devem se beneficiar são os ligados ao agronegócio, já que a renda do chinês está maior e estimula o consumo. Em outras palavras, Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) devem se beneficiar menos do que papéis como o da Marfrig (MRFG3) e da BRF (BRFS3).

“O setor agro tende a se beneficiar. Tanto os frigoríficos quanto o setor de grãos”, acredita Dumas.

Menos ajuda do exterior

O estrategista da Voiter ressalta ainda que o Brasil deve esperar pouco dos principais parceiros comerciais. Os Estados Unidos lidam com o ciclo de alta de juros e a Europa, com as restrições causadas pela guerra na Ucrânia.

“O Brasil pode se beneficiar da entrada de capitais em relação a outros emergentes, mas não porque está uma maravilha. É só por estar menos pior”, diz.

Stephan Kautz, economista-chefe EQI Asset, compartilha da visão de que o cenário externo, devido a uma reorganização geopolítica, será menos benéfico ao Brasil que em ciclos anteriores.

“Vai ser a volta do setor industrial para os países que consumem [os produtos]. Talvez os centros de produção perto desses centros de consumo se beneficiem, como o México e alguns países do Leste Europeu após o fim da guerra na Ucrânia”, avalia.

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