Bacharel em direito, mestre em economia, acadêmico e autor de cinco livros, Fernando Haddad tem uma trajetória que se distancia do perfil sindicalista de parte dos fundadores do PT. Mas mais do que se tornar uma figura de destaque no partido, ganhou a confiança do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
Sua próxima tarefa será comandar o Ministério da Fazenda, como foi anunciado por Lula há pouco nesta sexta-feira (9), mais de um mês após o segundo turno das eleições.
A proximidade com o presidente eleito se consolidou em 2018, quando Haddad foi escolhido para substituí-lo na disputa presidencial, já que Lula estava preso.
Haddad disputou em sua vida quatro eleições. Na primeira, em 2012, saiu vencedor e foi prefeito de São Paulo por quatro anos (2013-2016), mas perdeu a disputa pela reeleição. A terceira disputa foi em 2018, quando Jair Bolsonaro ganhou a presidência. Já em 2022, concorreu ao governo de São Paulo e perdeu.
Mas o que fez o nome de Haddad ficar conhecido nacionalmente não foi a disputa a cargos eletivos, mas sim sua participação no governo Lula e no primeiro mandato de Dilma Rousseff, quando ocupou o Ministério da Educação entre 2005 e 2012.
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Tendo perdido a disputa para o governo de São Paulo e com a eleição de Lula, o nome de Haddad começou a circular como um dos possíveis ministeriáveis.
Nome de Haddad desagradou mercado
Ao ser indicado para participar de reuniões com a equipe de transição e empresários, ganhou força o seu nome para o Ministério da Fazenda, o que desagradou boa parte dos agentes do mercado financeiro, que tinham a expectativa de um nome mais liberal.
Para tentar se aproximar desse público, Haddad participou no mês passado do almoço de final de ano da Febraban como represente de Lula e lá defendeu que a prioridade do primeiro ano do presidente eleito seria a reforma tributária. Mas também criticou o teto de gastos, o que foi suficiente para sua participação não ter sido bem-vista.
Desafios no governo Lula
À frente do Ministério da Fazenda, Haddad terá que lidar com a pressão por mais gastos sociais, a necessidade de uma nova regra fiscal e a reforma tributária.
Haddad já declarou que a primeira fase da reforma tributária deve contemplar a revisão dos tributos indiretos para, na sequência, lidar com mudanças sobre os tributos que incidem sobre patrimônio e renda.
ICMS e o IPI são exemplos de tributos indiretos. Já um tributo sobre patrimônio seria o IR sobre dividendos, que atualmente são isentos.
De analista de investimentos a ministro
Professor, Fernando Haddad chegou a trabalhar no setor imobiliário, foi analista de investimentos do Unibanco e consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) no período de criação da Tabela Fipe (índice utilizado para precificar os veículos no país).
Na esfera pública, sua primeira experiência foi na Secretaria de Finanças entre 2001 e 2003, durante a gestão de Marta Suplicy.
Já em 2003, atuou como assessor do Ministério do Planejamento, onde foi um dos responsáveis por implementar o projeto das PPPs (parcerias públicos-privadas) na esfera federal.
No ano seguinte, chegou ao Ministério da Educação como secretário-executivo de Tarso Genro e lá coordenou o grupo que criou o Programa Universidade para Todos (ProUni) – que surgiu a partir de uma conversa com sua mulher, Ana Estela Haddad.
Perfil acadêmico e dissertação sobre regime soviético
O paulistano de 59 anos é filho do libanês Khalil Haddad e Norma Thereza Goussain Haddad. É casado há 34 anos e tem dois filhos.
Em 1981, ingressou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco da Universidade de São Paulo (USP) e a sua ligação com a instituição segue até os dias atuais.
Foi no início de sua carreira acadêmica que Haddad se filiou ao PT, no final dos anos 1980. Após o curso de Direito, Haddas fez mestrado em Economia na USP, onde apresentou, em 1990, a dissertação “O caráter sócio-econômico do sistema soviético”, na qual criticou o regime.
Já em 1996, concluiu o seu doutorado em filosofia, também na USP, com a tese “De Marx a Habermas — O Materialismo Histórico e seu paradigma adequado”.
Aos 34 anos, começou a lecionar no Departamento de Ciência Política da USP. Também já foi do corpo docente do Insper.