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Devagar: IPCA-15 mostra ritmo lento na queda da inflação em bens industriais e serviços sob pressão

Apesar de queda menor que a esperada, especialistas ressaltam que o pior cenário para a inflação ficou para trás

Foto: Shutterstock

Apesar de ter registrado a maior queda de preços da história, o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) referente à primeira quizena de agosto veio pior que o esperado pelo mercado, relevando uma desinflação (redução do percentual da alta de preços) lenta de bens industriais e os serviços, principal vetor atual da inflação, pressionados.

Nesta quarta-feira (24), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que o indicador caiu 0,73% na primeira metade do mês, impactado principalmente pelos cortes recentes nos preços da gasolina e diesel pela Petrobras e pela redução do ICMS de energia, combustíveis e telecomunicações. O mercado projetava uma deflação de 0,82% no período.

Para além desses fatores pontuais, o índice oficial de inflação continuou mostrando perda de ritmo da alta dos chamados preços livres (que não são impactados por decisões de governo), mas não no ritmo esperado por especialistas.

“O dado é consistente com nossa leitura de desinflação gradual ao longo dos próximos meses”, apontou a equipe de macroeconomia do Itaú Unibanco em relatório. “Nossa projeção para o IPCA no final de 2022 permanece em 7%”, completaram os especialistas, reforçando uma projeção mais pessimista do que a mediana do mercado, que vê alta de 6,82% no período.

Na avaliação da economista Tatiana Nogueira, da XP, a maior surpresa negativa do IPCA-15 veio dos bens industriais, que subiram 0,07% no período influenciados pelos aumentos em automóveis novos e usados e produtos de higiente pessoal. A expectativa da especialista era de uma queda de 0,03%.

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“Sinal de alerta, dado que esperávamos descompressão do grupo de agora em diante”, avaliou ela em relatório. Nogueira destacou também a elevação do grupo alimentação em domicílio, que avançou 1,24% nas duas primeiras semanas de agosto.

“Esperamos que alimentos comecem a cair mais acentuadamente a partir do IPCA fechado em setembro, beneficiados tanto pela sazonalidade do meio de ano como pela maior oferta de alguns produtos, como leite [o produto teve um aumento de 14,21%, maior impacto individual do índice].”

Para a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, os dados mostram uma inflação ainda pressionada. “A queda dos preços administrados (combustíveis e energia) é pontual e não interfere na dinâmica da inflação à frente. Já os preços de bens industriais, que apresentavam tendência de desaceleração, vieram mais altos que o esperado. Além disso, não há sinais de alívio na inflação de serviços”, afirmou.

Quais são as boas notícias?

Apesar da decepção com o comportamento dos preços livres, economistas destacam que há boas notícias no IPCA-15 divulgado hoje. O índice de difusão, que mede o percentual de itens que subiram na comparação com o período anterior, voltou a desacelerar, e a média dos núcleos de inflação (medida que exclui os itens mais voláteis) se reduziu de 0,71%, em julho, para 0,58%.

“A queda do IPCA-15 reflete a redução do ICMS e cortes de combustíveis, ou seja, os preços administrados. Mas a desaceleração dos preços livres é disseminada, com uma parte dos bens industriais, como os duráveis, mostrando uma melhoria”, disse Luis Menon, economista da Garde Asset Management.

O especialista lembra que, apesar da perda de ritmo ter vindo menor que o esperado pelo mercado, o aumento de preços dos bens industriais vem perdendo fôlego, em um cenário em que as cadeias globais de fornecimento voltaram a se organizar.

“Houve uma melhora nas cadeiras globais, com queda no valor do frete no mundo, e também aconteceu um deslocamento da demanda de bens para demanda por serviços. Com a reabertura da economia, o consumo de bens duráveis, que já aconteceu durante a pandemia, foi direcionado para serviços”, ressaltou o especialista.

O aumento na taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,75% ao ano, também começa a impactar o consumo e joga a favor da redução de preços. “Seguimos atentos ao ritmo da inflação, pois mesmo que o pico tenha ficado para trás, ainda temos um cenário desafiador, especialmente por conta dos serviços pressionados”, avaliou o economista João Savignon, da Kínitro Capital.

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