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De olho na inflação e nas expectativas do mercado, BC avisa: Selic sobe mais 1,5 ponto

Não basta reduzir a inflação; tem que fazer o mercado acreditar

André Ítalo Rocha

André Ítalo Rocha

Sem surpresas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por unanimidade elevar a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual, a 9,25% ao ano, nesta última reunião de 2021. E já deixou bem claro que não vai colocar o pé no freio no início de 2022, ao apontar no comunicado pós-encontro que antevê outro ajuste da mesma magnitude na reunião dos dias 1º e 2 de fevereiro.

“O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”

Alessandra Ribeiro, sócia e diretora da área de macroeconomia e análise setorial da Tendências Consultoria, ressalta que o Copom foi claro na sinalização para a próxima reunião, sem deixar mais espaço para dúvidas sobre se iria ou não se comprometer com o mesmo ritmo de alta da Selic.

E chama atenção para o fato de o BC indicar que vai perseverar não só no processo de desinflação, como na ancoragem das expectativas, que deve estar “importunando” a autoridade monetária, diz.

“Parte do mercado deve interpretar o comunicado como mais hawkish, por avaliar que o tom seria mais suave pelos dados de atividade”, diz Ribeiro, em referência à desaceleração econômica.

Ribeiro ressalta que as expectativas para a inflação seguem de fato piorando, com impacto já relevante para 2023. O último Relatório Focus, do Banco Central, mostrou que a previsão do mercado para a inflação subiu de 3,42% para 3,50% em 2023, com a projeção para a Selic subindo também, de 7,75% para 8,00%.

“O ponto da ancoragem das expectativas vai ser muito sensível para a tomada de decisões do Copom daqui para frente, ainda que a atividade esteja de fato mais enfraquecida”, ressalta a sócia da Tendências.

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A consultoria mantém a projeção de Selic de 11,50% ao fim do ciclo de aperto monetário, com nova alta de 1,5 ponto percentual em fevereiro e outra de 0,75 ponto, em março. A redução dos juros só seria iniciada em 2023.

O início da elevação dos juros americanos, contudo, é um ponto a ser monitorado de perto, com possíveis impactos nas decisões de política monetária no mundo, especialmente em mercados emergentes como o brasileiro.

Fábio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset, também não viu surpresas na decisão nem na sinalização dada pelo Banco Central, mas chama atenção para o mesmo trecho mencionado por Ribeiro, unindo o acompanhamento do processo de desinflação e da ancoragem das expectativas em torno das metas.

Com a proximidade de o Brasil atingir o chamado pico da inflação em 12 meses próximo a 10,90%, afirma Akira, e com potencial para o número se desacelerar para abaixo dos dois dígitos no início de 2022, o Copom está “se prevenindo”.

“Não é porque vai ter desinflação [que o ritmo vai mudar]. O Banco Central precisa ter a ancoragem das expectativas para a meta, e as expectativas pioraram bem”, reforça. “O BC nunca colocou isso tão explicitamente como condição para mudar de estratégia de política monetária.”

A BlueLine também trabalha com a Selic em 11,50% no fim do processo de alta de juros e Akira vê pouco espaço para o início da redução em 2022, já que o período deve coincidir com o começo do aperto monetário nos Estados Unidos.

“Olhando para as condições das expectativas de inflação, provavelmente elas vão estar ancoradas. Mas o que vai tirar espaço para um alívio monetário no Brasil vai ser um aperto monetário nos EUA”, aponta Akira.

Fora do consenso

Nem todo mundo, porém, se convenceu. O Banco Inter, embora tenha reconhecido a sinalização do BC de repetir a dose em fevereiro, acredita que haverá uma diminuição do ritmo de aperto monetário, com um aumento de 1,00 ponto porcentual na primeira reunião de 2022.

“Consideramos um impacto maior da queda da atividade na inflação futura, bem como o arrefecimento recente dos preços de matérias primas, que ainda não tiveram impacto nos preços ao consumidor”, diz, em comentário, o Inter, cujo departamento econômico é chefiado pela economista Rafaela Vitória.

A decisão do BC foi publicada no mesmo dia em que o Senado aprovou a PEC dos Precatórios, que abrirá um espaço adicional de R$ 62 bilhões no orçamento público de 2022, após uma longa discussão no Congresso pautada pelo risco de descontrole fiscal e pela possibilidade de o governo furar o teto dos gastos para acomodar a ampliação do Auxílio Brasil.

E o tema não ficou de fora do comunicado. O BC ressaltou que novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia, que pressionem a demanda e piorem a trajetória fiscal, podem elevar os prêmios de risco do país.

Na avaliação de Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, o alerta reforça a mensagem de “que o BC fará o possível – leia-se, mais aumento de juros pela frente – para conter qualquer avanço mais expressivo da inflação”.

No documento, o BC também não ignorou a nova variante da Covid-19, a Ômicron, descoberta na África do Sul. Com isso, escapa de repetir o que fez na reunião de fevereiro de 2020, quando não mencionou o risco de uma crise causada pela própria Covid, que ainda não havia chegado ao Brasil, mas já era um surto na China e principal tema no noticiário global.

A autoridade monetária afirma que o surgimento da nova variante adiciona incerteza quanto ao ritmo de recuperação das economias mais desenvolvidas. “O BC ainda entende (o risco) como incipiente e prefere mais tempo de observação antes que tome novas decisões”, avalia o economista João Boeck, sócio da BRA.

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