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Criação de empregos formais volta a surpreender, mas já mostra impacto da alta da Selic

Caged de setembro mostrou desaceleração em setembro, e a tendência é que a perda de fôlego se mantenha nos próximos meses

Foto: Shutterstock

O mercado de trabalho brasileiro voltou a surpreender em setembro com a abertura acima do esperado do número de vagas com carteira assinada. O resultado, porém, mostrou queda em relação a agosto, inspirando cautela com a perda de fôlego da economia no terceiro trimestre, diante dos efeitos da escalada dos juros – a tendência é que essa desaceleração se mantenha nos próximos meses.

O Brasil registrou saldo positivo de 278 mil postos formais no mês passado, na diferença entre contratações e demissões, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados nesta quarta-feira (26). O dado superou as expectativas dos analistas, de 260 mil vagas, segundo levantamento da Refinity.

Mais da metade do resultado foi puxado pelo setor de serviços – com o maior peso no PIB (Produto Interno Bruto) -, com a criação de 122,5 mil vagas. Comércio aparece na sequência, com 57,9 mil postos, seguido pela indústria (56,9 mil), construção (31,1 mil) e agricultura (9,4 mil).

Os números mostram queda de 2,4% em comparação aos dados de agosto (285,3 mil, segundo dados revisados). Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a retração foi ainda mais forte, de 15,2% (328,8 mil).

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Caged: Brasil cria 278 mil empregos formais em setembro, acima do esperado pelo mercado

Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, pontua que a diferença na base anual condiz com a desaceleração das atividades já esperadas pelo mercado a partir do segundo semestre. “Reitera a tendência de desaceleração em relação ao ano passado”, destaca.

Hélio Zylberstajn, professor sênior da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), explica que os dados positivos de setembro foram impulsionados pela questão sazonal, com o aumento de contratações dos empresários para a demanda de fim de ano.

Sem esse empurrão, os números seriam impactados pela redução do ímpeto da economia, em reflexo dos efeitos do aperto monetário promovido pelo Banco Central desde o ano passado.

Entre março de 2021 e agosto deste ano, a autoridade monetária elevou em 11,75 pontos percentuais a Selic, elevando a taxa básica para 13,75% ao ano. No fim de setembro, o Copom (Comitê de Política Monetária) indicou que o ciclo de alta chegou ao fim, apesar de reforçar vigilância com a inflação.

O mercado aposta que o colegiado vai reforçar a manutenção dos juros neste patamar no fim da tarde desta quarta-feira, além de esperar novas pistas sobre a extensão dos juros elevados.

“Já tivemos uma redução nas contratações em comparação ao mês anterior. Se não fosse o efeito sazonal, teríamos um crescimento bem menor em setembro”, aponta Zylberstajn.

De acordo com o economista Gabriel Couto, do Santander, a criação de vagas em setembro se reduz a 167 mil postos de trabalho formais quando é feito o ajuste sazonal, uma queda mais expressiva em relação aos 192 mil empregos criados em agosto.

Apesar disso, ele avalia que os resultados são consistentes com um mercado de mercado “forte e provavelmente superaquecido”. “Esperamos mais desaceleração na criação de vagas daqui para a frente, especialmente quando se considera os efeitos de uma política monetária mais apertada.”

Desaceleração em 2023

Os dados trimestrais também evidenciam a desaceleração da atividade. O terceiro trimestre encerrou com saldo positivo de 786,6 mil vagas, alta de 3,2% ante o período imediatamente anterior. Apesar do aumento, está muito aquém da alta de 27% observada entre o primeiro e o segundo semestre.

A tendência de queda deve se manter nos últimos três meses do ano. Além da questão monetária, Zylberstajn destaca novamente a sazonalidade de fim de ano, já que dezembro tradicionalmente é mês com saldo negativo na geração de emprego.

Para o ano que vem as expectativas também não são positivas. Além dos juros, que devem se manter elevados até ao menos o segundo trimestre, empresários devem colocar o pé no freio à espera do desempenho dos primeiros passos da próxima gestão do país, independente de quem vença a eleição.

“O fator decisivo vai ser a volta da confiança e dos investimentos, e isso depende principalmente dos três primeiros meses do novo governo”, afirma.

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