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Campos Neto alerta para crédito subsidiado e diz que terá reuniões periódicas com Haddad

Presidente do BC diz que ainda não é possível mensurar o impacto fiscal da PEC da Transição

Foto: Shutterstock/Jo Galvao

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (15) que deverá ter reuniões periódicas com o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e reforçou o alerta de que um eventual aumento do crédito subsidiado através de bancos públicos tira a potência da política monetária.

Durante entrevista a jornalistas sobre o relatório trimestral de inflação, divulgado hoje, Campos Neto lembrou que há estudos que apontam que houve redução da taxa de juros neutra da economia (aquela que não estimula nem desestimula a atividade) após a implementação da TLP (Taxa de Longo Prazo), que é usada em empréstimos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).

A TLP substituiu em 2018 a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que era uma taxa estabelecida pelo governo de três em três meses com base na meta de inflação. Na prática, acabava sendo menor que a Selic e beneficiava empresas e setores específicos, retirando a atratividade do mercado de capitais como fonte de financiamento.

Já a TLP segue as taxas da NTN-B (títulos atrelados à inflação) e, portanto, segue uma lógica de juros de mercado. Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), o colegiado alertou para o risco de estímulos “parafiscais” (ou seja, que não possuem efeito no orçamento, mas afetam a economia).

“Entendemos que a TLP foi um ganho institucional. Há estudos que mostram isso. Como as grandes empresas acessaram mais o mercado de capitais, houve redução da taxa neutra e melhor alocação de receita. Foi uma mudança boa que gerou ganhos de eficiência na economia”, apontou Campos Neto.

Um dos maiores temores de economistas é que o governo eleito mude a forma de cálculo da taxa. Esse receio foi reforçado com a indicação do economista Aloizio Mercadante para presidir o BNDES no governo Lula.

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“A redução do crédito subsidiado teve um papel importante na redução da taxa neutra. Se voltamos a ter uma massa grande de crédito subsidiado, podemos ter uma reversão importante, com a taxa neutra subindo e a potência da política monetária influenciada negativamente”, disse o presidente do BC.

Campos Neto declarou também que não é possível para o BC mensurar nos seus cenários o impacto fiscal da PEC da Transição, e que da forma que foi aprovado no Senado abre espaço para despesas de R$ 145 bilhões fora do teto de gastos. A proposta ainda precisa ser aprovada na Câmara.

Por enquanto, o presidente do BC afirmou que o Copom trabalha com um cenário de expansão fiscal de R$ 130 bilhões, abaixo do previsto na PEC.

Reunião com Haddad

Campos Neto, que é o primeiro presidente do BC que se manterá por dois anos em um governo que não indicou seu nome para o comando da autoridade monetária, afirmou que o encontro que teve com o novo ministro da Fazenda foi “ótimo”.

“Na conversa com o Haddad, falamos sobre o fato de que em política monetária podemos fazer menos com mais potência quando há uma boa comunicação com os agentes de mercado. Se os agentes entenderem a convergência da dívida, pode-se até gastar um pouco mais com menos efeito na credibilidade”, disse.

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Campos Neto ainda afirmou que, durante almoço com Haddad, com quem se reuniu por duas horas, se discutiu uma relação mais institucionalizada entre BC e Fazenda.

“Falamos sobre a importância de ter uma coordenação entre Fazenda e BC, mantermos uma conversa próxima”, declarou. “Foi uma primeira reunião, mas o mais provável é que ocorram reuniões com frequência, sobre grandes temas que vamos dando prosseguimento.”

O presidente do BC reforçou também que se manterá no comando do BC somente até 2024. Recentemente, Campos Neto foi procurado por um emissário de Lula, que questionou se ele ficaria por mais dois anos no cargo.

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