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Ibovespa recua 1,3% com “efeito Mercadante”; Petrobras (PETR4) e varejistas despencam

Mudança das Leis de Estatais abre caminho para petista assumir BNDES, contrariando expectativas do mercado

Foto: Shutterstock/Isaac Fontana

O Ibovespa volta a cair na sessão desta quarta-feira (14), com o mercado reagindo negativamente à aprovação relâmpago, na Câmara dos Deputados, de mudanças na Lei das Estatais que facilitam a indicação de políticos para o comando destas companhias.

A alteração foi feita poucas horas depois de Aloizio Mercadante (PT) ser indicado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidir o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

A mudança na legislação – que ainda precisa ser ratificada pelo Senado e sancionada pelo Executivo – pesa sobre as ações de empresas estatais, com Petrobras (PETR3; PETR4) puxando a fila.

A ponta negativa ainda conta com varejistas, setor mais sensível aos juros. As taxas voltaram a subir no mercado futuro após a modificação na Lei das Estatais, e há receio de que a taxa básica de juros, a Selic, siga a mesma direção no ano que vem.

Por volta das 13h25, o principal índice da Bolsa brasileira perdia 1,33%, aos 102.164 pontos, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap.

Na ponta positiva estão empresas que possuem receita em dólares e tendem a se beneficiar com a recente alta da moeda americana. As minipetros também sobem, impulsionadas pelo fluxo de investidores que migraram das ações da Petrobras para esses papéis e pela expectativa de alta no preço do barril de petróleo nos próximos meses.

No cenário internacional, as atenções estão voltadas para o Fed (o banco central americano), que divulga às 16h a nova taxa de juros dos EUA. A expectativa é de aumento de 0,50 ponto percentual, menor que o das reuniões anteriores, quando a taxa aumentou 0,75 pp.

Efeito Mercadante pressiona

O mercado financeiro voltou a expressar temor com os rumos da política fiscal após os deputados votarem pela alteração da Lei das Estatais. O texto-base foi aprovado na noite desta terça-feira (13) e ainda precisa passar pelo Senado e sanção presidencial.

O nome do petista para o banco público já havia sido confirmado pelo presidente eleito Lula horas antes da votação pelos deputados.

Os investidores temem a volta de políticas adotadas em outras gestões petistas, principalmente a prática de manter os juros do BNDES abaixo da Selic.

Edmar de Oliveira, operador de renda variável da One Investimento, destaca que a reação negativa do mercado deve se estender até que novas sinalizações da futura equipe econômica apontem para caminhos mais responsáveis com o lado fiscal.

“Enquanto não tiver falas mais pró-mercado e algumas medidas que não são tão da época da Dilma [Rousseff], onde teve aquela grande recessão e escândalos de corrupção, o mercado vai ficar precificando isso”, pontua.

Saiba mais:
Entenda o que a Câmara dos Deputados alterou na Lei das Estatais

Eduardo Nishio, head de research da Genial Investimento, pontua que o histórico de Mercadante vai justamente no caminho oposto ao recado que o Banco Central deu na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), como o aumento dos juros por bancos estatais e a necessidade de responsabilidade com o fiscal.

Diante das incertezas, a Genial aumentou a previsão da Selic ao fim de 2023 para 14,50%.

“A indicação do ex-Ministro Aloizio Mercadante para a presidência do BNDES, anunciada no final da tarde, reforçou este cenário e gerou forte reversão na trajetória dos preços dos ativos financeiros do país”, afirmou.

“Prévia do PIB” frustra

Além do noticiário político, investidores digerem a queda de 0,05% do IBC-Br (índice de atividade do Banco Central) em outubro. O resultado contraria as expectativas do mercado, que esperava leve alta em comparação ao mês anterior.

O BC informou ainda que revisou para baixo o índice de setembro – com a mudança, o IBC-Br, apelidado de “prévia do PIB”, passou a apresentar estabilidade em relação a agosto, em vez de alta de 0,05%.

Estatais em queda

A queda do Ibovespa é puxada pelas ações ordinárias da Petrobras (PETR3), com tombo de 9,10%. Logo atrás estão as opções preferenciais (PETR4), perda de 8,23%. O grupo ainda é composto pelo papel do Banco do Brasil (BBSA3), que cai 3,67%.

Para Pedro Soares e Thiago Duarte, analistas do BTG Pactual, a mudança na Lei das Estatais não é negativa apenas para a Petrobras, mas para outras empresas também, uma vez que elimina um dos principais mecanismos de defesa contra influência política.

“Embora alguns possam argumentar que a lei (das Estatais) não tem protegido totalmente a Petrobras de tentativas de ingerência política, a mudança é um sinal mais claro de que a estratégia pode ser menos sustentada por aspectos puramente técnicos a partir de agora”, afirmam os analistas. “A velocidade na qual a mudança ocorreu nos pegou de surpresa”, acrescentam.

Além das estatais, empresas ligadas aos juros também caem em bloco. Magazine Luiza (MGLU3) perdia 7,50%, enquanto Americanas (AMER3) e Via Varejo (VIIA3) caíam 7,04% e 4,41%, respectivamente.

Dólar impulsiona

A ponta de cima é composta por ações mais expostas a mercado global e que se favorecem com a recente alta do dólar. A lista é puxada pela SLC Agrícola (SCLE3), com alta de 2,91%. Atrás aparecem Qualicorp (QUAL3) e WEG (WEGE3), com avanços de 2,77% e 2,49%, respectivamente.

Bolsas globais

Os principais mercados globais operam de forma mista, com investidores à expectativa da nova alta dos juros do Fed. Mais do que o número, as atenções devem estar voltadas ao discurso do presidente da entidade, Jerome Powell, que pode dar pistas sobre os próximos passos da política monetária.

A expectativa pela desaceleração da escalada é embasada por recentes dados da inflação que mostraram perda de fôlego das atividades na maior economia do mundo.

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