Após um período longo de resistência do mercado de trabalho, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de novembro reforçou os sinais de que o patamar elevado da taxa básica de juros (Selic,), atualmente em 13,75% ao ano, começa a impactar o emprego formal.
Os dados mostraram a criação de 135,4 mil vagas com carteira assinada em novembro, um pouco abaixo do esperado pelo mercado e um recuo em relação aos 162 mil empregos de outubro. O número representa um tombo de 56,8% na comparação com o mesmo mês de 2021.
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Outro sinal de perda de ritmo veio do salário médio real (descontada a inflação) de admissão, que foi de R$ 1.919,81, abaixo dos R$ 1.940,27 de outubro.
Em outubro, o emprego formal já havia mostrado uma perda de ritmo brusca em relação a meses anteriores.
Para Gabriel Couto, especialista em mercado de trabalho do Santander, os números são compatíveis com um cenário de emprego em desaceleração, e a taxa de desemprego, atualmente em 8,3%, deve começar a aumentar em breve.
O indicador medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referente ao mês passado só será informada em janeiro. O órgão adiou a divulgação para conseguir realizar a coleta do Censo Demográfico de 2022.
“Apesar disso, o mercado de trabalho se mantém superaquecido”, ponderou. De acordo com o economista, o desemprego atual ainda está abaixo da taxa neutra, que não provoca pressões inflacionárias, a a chamada NAIRU.
Para Couto, a expectativa é que o emprego se mantenha em níveis mais baixos nos próximos meses, com a Selic elevada impactando setores mais cíclicos (mais dependentes de fatores macroeconômicos), como construção e indústria de transformação.
Desaceleração disseminada
Na avaliação de Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, o resultado do Caged de novembro confirma que a geração de vagas formais está em rota de desaceleração.
Ele destaca que os dados dessazonalizados (ou seja, quando se retira do número o efeito típico de cada período) mostram uma queda acentuada na geração de vagas entre outubro e novembro, de 121,4 mil para 69,3 mil.
A perda de fôlego foi disseminada entre os diferentes setores, segundo Margato, com destaque para a indústria de transformação e construção civil.
“O mercado de trabalho formal continuará a arrefecer nos próximos meses”, avaliou. “O Caged corrobora nossa avaliação de estagnação da atividade no quarto trimestre de 2022.”