A taxa de desemprego caiu mais do que o previsto pelo mercado em outubro, a 8,3%, e registrou a 8ª queda consecutiva, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (30). O desempenho reflete o aquecimento da economia no primeiro semestre de 2022, no pós-pandemia, mas deve perder ritmo entre o final deste ano e o início de 2023.
Entre os desafios à frente, estão a chegada integral à ponta do aumento da Selic e a desaceleração da economia global, com países subindo juros para combater a inflação. No Brasil, a taxa básica já está em 13,75% ao ano, patamar que deverá ser mantido pelo menos até o primeiro semestre do ano que vem.
O economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, aponta que o recuo da taxa neste ano reflete o bom desempenho da atividade no primeiro semestre, quando a reabertura econômica permitida pelo avanço da vacinação fez o PIB (Produto Interno Bruto) subir 2,5%.
“A queda na taxa de desemprego reflete de forma tardia os dados positivos da atividade econômica do primeiro semestre”, avaliou. “Isso acontece porque existe uma defasagem entre o ritmo de atividade econômica e seu impacto no mercado de trabalho.”
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O especialista ressalta que a recuperação deve perder força daqui para frente. “Os dados de atividade econômica já mostram sinais de desaceleração, que vão respingar nos dados de desemprego mais para frente. Quando a economia perde fôlego, a geração de emprego cai.”
O banco projeta que o desemprego terminará 2022 em 8,3% e voltará a subir em 2023, alcançando 8,8% no final do ano que vem.
Desemprego menor e mercado de trabalho superaquecido?
Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua mostraram também que o contingente de ocupados atingiu 99,7 milhões, um crescimento de 1% no trimestre, renovando o recorde da série histórica. Já os desocupados somaram 9 milhões de pessoas, uma queda de 8,7% na comparação com julho, menor nível desde 2015.
Para Gabriel Couto, economista do Santander, os dados continuam a mostrar um mercado de trabalho forte “e provavelmente superaquecido”. “Mas a queda recente na taxa de desemprego, desde agosto, foi mais devido à redução na taxa de participação que pelo crescimento do emprego”, ponderou ele em relatório.
Beneficiado pela deflação, o rendimento real (descontada a inflação) cresceu 2,9% na comparação com o trimestre anterior, chegando a R$ 2.754. A massa de rendimento real alcançou R$ 269,5 bilhões, recorde histórico e alta de 4% no trimestre.
“A gente ainda vê é a taxa de desemprego caindo, ainda que a passos mais lentos, e a massa de rendimento habitual aumentando”, avalia Salles, do C6 Bank. “Essa alta da massa salarial é positiva para o comércio e o setor de serviços, que dependem da capacidade de consumo da população para crescer, e portanto atua como amortecedor para a desaceleração da atividade.”