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BC reconhece pacote fiscal e economia fraca, mas aponta risco de mudar meta de inflação

Alteração nos objetivos do CMN para a alta de preços, possibilidade levantada por Lula, fez projeções de inflação saltarem

Foto: Shutterstock/rafastockbr

Na ata da última reunião de política monetária, onde o Banco Central manteve os juros em 13,75% ao ano e sinalizou que deve mantê-los nesse patamar por mais tempo que o esperado, o Copom reconheceu sinais de uma atividade econômica mais fraca no mundo e no Brasil, cenário que pode tirar pressão da alta esperada para a inflação.

O comitê de política monetária apontou ainda que as medidas fiscais anunciadas pelo novo governo podem reduzir o déficit primário previsto para este ano. Segundo o documento, alguns membros do colegiado lembraram que as medianas de projeção do mercado para o rombo deste ano se reduziram após o anúncio de medidas para elevar a receita e reduzir despesas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Por outro lado, o colegiado alertou para o salto recente nas expectativas de inflação para 2023 e 2024, e lembrou que um dos motivos para isso é a possibilidade de mudanças na meta de inflação estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que foi levantada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista.

“O Comitê notou com especial preocupação a deterioração das expectativas de inflação de prazos mais longos”, apontou o BC. “Tal deterioração pode ter ocorrido por diversas razões, destacando-se, dentre esses fatores, uma possível percepção de leniência do Banco Central com as metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional, uma política fiscal expansionista, que pressione a demanda agregada ao longo do horizonte de projeções, ou a possibilidade de alteração das metas de inflação ora definidas.”

Sobre a terceira possibilidade, a ata do Copom afirma que o colegiado conduz a política monetária com base nas metas estipuladas pelo CMN.

“Por fim, com relação ao terceiro caso, o Banco Central conduz a política monetária com base nas metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional. Em resumo, mais importante do que a análise das motivações para a elevação das expectativas, o Comitê enfatiza que irá atuar para garantir que a inflação convirja para as metas.”

Após Lula criticar a rigidez das atuais metas de inflação pela primeira vez, as projeções para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deram um salto no final de janeiro – atualmente, as projeções são de alta de 5,78% para 2023 e 3,93% para 2024.

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A meta deste ano para a inflação é de 3,25% e, para o ano que vem, de 3%, sempre com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião”, afirmou o colegiado na ata divulgada hoje. “O Comitê enfatiza que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.”

Atividade mais moderada

No texto, o Copom apontou que os dados de atividade no Brasil continuam mostrando um ritmo mais moderado da economia, o que sugere uma perda de fôlego.

“Os dados de atividade no Brasil seguem indicando um ritmo de crescimento mais moderado na margem e os dados de emprego sugerem uma perda de dinamismo. Alguns membros observaram que há um movimento de recomposição parcial das perdas recentes nos salários reais, mas esse movimento é esperado e vem acompanhado de desaceleração nos ganhos nominais que deve se acentuar à frente”, apontou a ata.

O documento ainda apontou que o comitê seguirá acompanhando as divulgações sobre o mercado de trabalho, “avaliando continuamente qual o papel da inflação defasada e das pressões no mercado de trabalho sobre os reajustes salariais.”

“O conjunto de dados divulgados, incluindo a queda dos indicadores de confiança e a desaceleração observada nas concessões de crédito, junto com os efeitos defasados da política monetária, reforçam a expectativa do Comitê de desaceleração do ritmo da atividade econômica, que deve se acentuar nos próximos trimestres.”

Juros altos por mais tempo

Na semana passada, o colegiado manteve os juros em 13,75% ao ano, como era esperado, e mandou um recado duro ao governo Lula: o cenário de disparada nas expectativas de inflação para este ano e o próximo, somado às incertezas fiscais elevadas, pede que a taxa Selic fique elevada por mais tempo.

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O mercado fez a leitura de que o BC deu um sinal forte de que os juros básicos só devem cair no ano que vem, ainda mais em um cenário em que as projeções para o IPCA vem sendo elevadas após declarações duras de Lula contra o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

Ontem, durante a posse de Aloizio Mercadante como presidente do BNDES, o presidente dobrou a aposta ao afirmar que não há justificativa para o atual patamar da taxa básica.

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“Não existe nenhuma justificativa para a Selic estar em 13,75% ao ano. É só olhar o Copom para ver que é uma vergonha esses juros. Aí dizem que o presidente da República não pode falar do Banco Central, mas quem vai falar por mim?”, questionou.

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