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BC indica que pode encerrar alta de juros em maio, mas mercado espera ciclo de aperto mais longo

Especialistas avaliam que o mais provável é que o Banco Central tenha que levar juros a mais de 13%

Silvia Rosa

Silvia Rosa

Foto: Shutterstock

O comunicado da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que elevou nesta quarta-feira (16) os juros básicos em 1 ponto percentual, a 11,75%, sinalizou que o colegiado trabalha com a hipótese de encerrar o atual ciclo de aperto monetário já na próxima reunião, em maio.

Essa é a avaliação de parte dos economistas ouvidos pela Agência TradeMap do texto que acompanhou a decisão. Eles ponderam, entretanto, que, nos próximos meses, as projeções para a inflação de 2023, que é o cenário olhado pelo BC, podem estar ainda mais altas, levando o Copom a elevar novamente a taxa em junho.

O trecho que indica essa possibilidade no comunicado é o seguinte: “As atuais projeções indicam que o ciclo de juros nos cenários avaliados é suficiente para a convergência da inflação para patamar em torno da meta ao longo do horizonte relevante”, afirmou o Copom.

A inflação no cenário de referência do BC está em 7,1%, para 2022, e em 3,40%, para 2023, acima do centro da meta de 3,5% e 3,25% para os respectivos períodos.

Considerando o preço do petróleo projetado pelo mercado, no nível de US$ 100 o barril, e uma taxa Selic de 12,75% (prevista pelos analistas do Boletim Focus para dezembro de 2022), a inflação para 2023 cairia para 3,10%, em 2023, abaixo da meta.

“Nesse contexto, os juros que estão no cenário já são compatíveis para a convergência da inflação para o centro da meta”, afirmou o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, em live da Ágora.

Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas, tem visão semelhante, de que o BC indicou que uma taxa Selic a 12,75% no fim do ciclo seria suficiente para levar os juros à meta de inflação em 2023.

“O plano de voo do BC parece ser dar mais 100 pontos-base [de elevação na Selic] e parar. Mas muita coisa pode acontecer, estamos em pandemia, em guerra. Quando for decidir de novo os juros em junho, a chance de as expectativas estarem acima de hoje é muito grande.”

Na visão de Chermont, diante de mais mudanças a caminho nas expectativas para a inflação, o Banco Central deverá ter que voltar a elevar os juros no encontro de junho, levando a Selic a mais de 13%.

Para Honorato, do Bradesco, o Copom descartou patamares de 14% ao ano ou acima disso. “Acho até que o BC pode elevar a taxa Selic para 13,25%, mas descartou níveis de 14%, 14,25%, o que seria um pouco mais de juros, mas com a serenidade que o cenário exige”, disse.

Inflação e incerteza

Para o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, o BC deveria ter optado por um aumento de 1,25 ponto percentual nos juros.

“Tivemos um volume muito grande de choques inflacionários e um aumento da incerteza, porque é uma guerra, não se sabe quanto tempo vai durar”, avaliou. “Acredito que deveriam ser um pouco mais duros do que o mercado estava esperando para sinalizar a preocupação com os choques.”

Camargo elogiou a decisão do BC de contar com um cenário alternativo de inflação, em que trabalha com as projeções do mercado futuro para avaliar como devem se comportar as cotações do petróleo. “Em vez de tentar adivinhar o preço do petróleo no futuro, vou colocar o que o mercado está avaliando que vai ser. Acho que foi uma decisão inteligente.”

O economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, acredita que, apesar de o BC sinalizar que pode encerrar o ciclo de alta de juros já na próxima reunião, o cenário continua mais inflacionário, e provavelmente a autoridade monetária deve ir além dos 12,75%.

A Garde espera uma taxa Selic de 13,25% no fim do ciclo, prevendo uma inflação de 7,10%, para 2022, e de 3,9%, para 2023, acima do previsto pelo BC no cenário de referência. “Os últimos dados de inflação vieram pior que o esperado e as expectativas estão piorando”, diz Weeks.

De outro lado, o câmbio deve continuar a ter uma contribuição baixista para a inflação, com o economista da Garde vendo a chance de apreciação adicional do real frente ao dólar em função do grande diferencial de juros entre os mercados doméstico e externo.

Impacto sobre os mercados

Na leitura do sócio-diretor da Quantitas e responsável pela gestão dos fundos multimercados e de renda fixa, Rogério Braga, o comunicado do Copom veio um pouco mais “dovish” (menos inclinado ao aperto monetário), ao sinalizar a possibilidade de encerrar o ciclo de aperto monetário na próxima reunião.

“Vemos as premissas do BC como otimistas, e a maior probabilidade é que ele não consiga parar só com mais 100 pontos-base de alta”, diz Braga.

Nesse cenário, o gestor da Quantitas espera que as taxas de juros de mais curto prazo, com vencimentos até 2023, podem cair amanhã, com o mercado ajustando as apostas ao cenário do BC.

Para Bolsa e dólar, o gestor não vê grandes impactos. “Talvez essa sinalização de parar o ciclo de alta de juros na próxima reunião pode ajudar um pouco a Bolsa”, diz Braga.

Mediante esse cenário de juros, investimentos em renda fixa tornam-se cada vez mais atrativos, pois já é possível encontrar títulos públicos e do mercado privado que remuneram com juros reais positivos, ou seja, acima da estimativa de inflação, para 2022, 2023 e até mesmo para prazos maiores, aponta Paloma Brum, economista e analista de investimentos na Toro.

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