Banco Central deve reduzir previsão de crescimento da economia, diz Campos Neto

Presidente da instituição também disse que futuro do teto de gastos precisa ser decidido logo

O Banco Central (BC) estuda reduzir a previsão para o crescimento da economia, afirmou o presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

“Quando se olha para o crescimento, vemos atualizações negativas consecutivas. Temos relatório de inflação e provavelmente revisaremos o crescimento para baixo. Estamos tentando entender o amplo intervalo de estimativas, os números mais pessimistas e qual a premissa implícita ali”, disse Campos Neto num evento promovido pelo Bank of America.

Na última semana tanto o governo federal quanto instituições financeiras reduziram suas estimativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2021 e 2022. As alterações refletem principalmente a perspectiva de que a alta dos juros vai limitar a atividade econômica.

A estimativa mais recente do BC a respeito do crescimento da economia foi divulgada em setembro, junto com o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Na ocasião, a instituição elevou a projeção de alta do PIB 2021 de 4,6% para 4,7%, e afirmou que esperava expansão de 2,1% na economia em 2022. A próxima projeção será divulgada em 16 de dezembro, com a próxima edição do RTI.

Inflação

Campos Neto reiterou que a inflação se espalhou de forma mais ampla e mais forte do que o BC previa, e que isso se deve tanto a fatores domésticos como a fatores externos.

“Um ponto interessante é que, quando se olha nos últimos anos, pode ir bem para trás, em geral o Brasil tinha inflação e importava deflação. Neste momento estamos tendo problema inflacionário e importando inflação”, afirmou.

Um outro elemento que ajuda a manter a inflação em alta é a quantidade de estímulos injetados na economia e que ainda está circulando no mercado.

O conjunto destes incentivos em várias economias é um dos motivos pelos quais o mercado espera uma inflação mais persistente no médio prazo. “O mundo estava preparado para uma depressão que não veio”, disse o presidente do BC.

Cenário fiscal turbulento

Campos Neto também comentou sobre o cenário fiscal e disse que o BC tenta separar a melhora dos indicadores no curto prazo e a perspectiva para o futuro.

A avaliação é de que, comparado ao que se esperava um ano atrás, o Brasil teve uma forte consolidação fiscal – com a dívida bruta atualmente em 83% do PIB, ou quase 20 pontos porcentuais abaixo do que se previa.

Apesar disso, o aumento das taxas de juros de longo prazo sugere que a percepção é de piora da situação fiscal, e isso tem a ver com as mudanças em discussão no Congresso no teto de gastos – mecanismo que limita o crescimento das despesas públicas à inflação.

“Quando você olha para 2017, o fiscal não estava bom, mas foi o ano em que colocamos o teto em vigor. O fato de ter um teto que aponta ao mercado onde [a despesa] estará dava permissão para governo expandir” os gastos, disse Campos Neto. “O fato de o conceito do teto estar sendo desafiado explica o que estamos vendo na ponta longa” dos juros, acrescentou.

O presidente do BC acrescentou que por causa destes questionamentos seria importante o governo concluir a discussão sobre a nova estrutura do teto de gastos o quanto antes, para indicar que “temos instrumento em vigor que dará previsibilidade de onde vão os gastos”.

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