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Adeus deflação: IPCA-15 sobe em outubro, mas sinaliza preços sob controle

Núcleos de serviços e bens industriais, que são medidas que excluem preços mais voláteis, recuaram neste mês

Foto: Shutterstock

Apesar do aumento de 0,16% na prévia do IPCA de outubro após dois meses de deflação, o indicador do IBGE mostra que uma inflação mais comportada vem se consolidando, com a ajuda das quedas nos preços de combustíveis, aumento dos juros e redução da cotação das commodities no mercado internacional.

Ao analisar o indicador, que mostrou alta um pouco maior que a esperada pelo mercado, economistas destacaram que houve surpresas altistas, como a disparada nos preços das passagens aéreas e alimentos, mas ponderaram que esses aumentos ocorreram em itens mais voláteis.

Os núcleos (medida que exclui itens mais voláteis, pegando somente o “coração” da inflação) de serviços e bens industriais recuaram em relação a setembro, a despeito da ampliação do Auxílio Brasil e outras medidas tomadas pelo governo para estimular a economia.

“A inflação volta para o campo positivo, deixando para trás três meses de deflação por conta dos efeitos de cortes de impostos e combustíveis”, apontou Tatiana Nogueira, economista da XP. “Mas a dinâmica de inflação está bem mais benigna.”

O núcleo de serviços, por exemplo, que havia avançado 0,57% na prévia de setembro, caiu para 0,41% no IPCA-15 de outubro, enquanto que essa mesma medida para bens industriais saiu de 0,32% para 0,20%, na mesma comparação.

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“Os sinais preliminares de melhoria na inflação subjacente [ou seja, o núcleo do indicador] estão começando a se consolidar”, avaliou o economista Daniel Karp, do Santander. “Fica mais claro que os núcleos tiveram um pico, e ainda estão numa tendência de queda, e que até a inflação de serviços, nossa principal preocupação no médio prazo, pode estar em um pico mais breve.”

Alta acontece após duas deflações

O aumento deste mês vem após o IPCA-15 registrar duas quedas seguidas, de 0,73% em agosto e 0,37% em setembro, recuos impulsionados pelo corte do ICMS sobre combustíveis, energia e telecomunicações, reduções na gasolina pela Petrobras e pela queda na cotação das commodities.

O efeito da redução de impostos praticamente terminou, mas a queda nos preços da gasolina e o tombo dos preços de matérias-primas no mundo, consequência da desaceleração da economia global, continua mantendo a inflação mais controlada.

No ano, o IPCA-15 registra alta de 4,80%, e nos últimos 12 meses, o avanço é de 6,85%. Na avaliação de Karp, do Santander, o IPCA deverá estar rodando a 5% entre o final deste ano e o início de 2023.

“Apesar disso, ainda acreditamos que o caminho na direção do centro da meta de inflação [no ano que vem, a meta é de 3,25%, com intervalo de 1,5 ponto] será acidentado, com a inflação de serviços, que é mais inercial, ainda representando desafios em um cenário de mercado de trabalho apertado.”

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A economista do C6 Bank, Claudia Moreno, destacou que os efeitos da redução do ICMS se dissiparam, deixando o período de deflação para trás.

“Sem esse impacto tributário, não deveremos ter novas deflações nos próximos resultados mensais”, destacou. “Por outro lado, as reduções de preços promovidas pela Petrobras continuaram ajudando a desacelerar a inflação.”

Moreno enfatizou que há uma desaceleração clara nos preços de bens industriais, como reflexo da queda global das commodities. “Essa mesma desaceleração não está presente nos preços de serviços, que sofrem com os efeitos da inércia inflacionária e, por isso, demoram mais para ceder”, avaliou ela. O banco acredita que o IPCA deste ano subirá 5,6%, e avance outros 5,7% em 2023.

Nesta quinta-feira (27), o IBGE divulga a taxa de desemprego brasileira de setembro (em agosto, estava em 8,9%), e a expectativa de analistas é que o indicador mostre se o mercado de trabalho continuou a melhorar, ou se já sente os efeitos da alta de juros. Os dados de emprego são acompanhados porque também ajudam a determinar o nível das pressões inflacionárias.

Dado reforça decisão do BC de parar alta de juros

Na avaliação da economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, o IPCA-15 deve reforçar a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) de interromper o aumento da taxa básica em 13,75% ao ano, decisão tomada no último encontro. A reunião do colegiado será divulgada amanhã após às 18h30.

Apesar disso, a especialista reforça que é difícil que o comitê indique quando será o início dos cortes na taxa, já que o segundo turno das eleições acontece no próximo domingo (30). Dependendo do vencedor, e das medidas que serão anunciadas para a economia, o cenário fiscal pode mudar.

“O dado deve corroborar com a manutenção da Selic pelo Copom na reunião de amanhã, sem indicar ainda quando será o início do afrouxamento monetário considerando as incertezas fiscais com orçamento indefinido, aguardando o resultado das eleições”, avaliou.

IPCA-15 não impactou o mercado

De acordo com o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, os juros futuros não foram impactados pela divulgação do índice, já que o mercado já esperava uma alta no indicador.

“Esse ajuste já era esperado. O que está tendo mais efeito são as eleições, tanto o caso Roberto Jefferson [ex-deputado que atacou agentes da Polícia Federal, o que pode ter enfraquecido o presidente Jair Bolsonaro] como pesquisas que mostram Lula à frente.”

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