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O que a inflação de 2022 tem a ver com a alta de preços em 2023? Quase tudo, segundo a XP

Apesar da tendência de desaceleração da economia, economistas ainda veem uma inflação de 5,5% em 2023; entenda a razão!

Foto: Shutterstock

Parte do mercado financeiro já precificou que o mundo entrará em recessão em 2023 como consequência da maior onda de alta de juros em décadas, o que fará o Brasil crescer pouco ou até não crescer no ano que vem, na avaliação de alguns economistas.

Por que então os analistas ouvidos pelo Boletim Focus já veem o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) quase em 5,5% no final de 2023, acima do teto da meta para o ano? E ao mesmo tempo projetam a taxa básica de juros do Brasil, a Selic, em 11% para o período?

Um relatório da XP Investimentos ajuda a entender esse cenário, e uma das respostas para essa pergunta está na inflação inercial.

O nome pode parecer complicado, mas o conceito é simples: a alta de preços de um determinado ano retroalimenta a inflação do ano seguinte através de contratos de serviços, que utilizam em suas fórmulas para aumento de preços índices como o IPCA ou o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) acumulados em 12 meses.

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Ou seja, sempre que um contrato é renovado, a alta de preços passada vai sendo transferida para a inflação futura. Esse mecanismo tem um impacto particularmente alto no Brasil, já que o período de hiperinflação levou a uma elevada indexação da nossa economia, até como forma de proteger empresas públicas ou privadas da disparada dos preços.

Além disso, como informa a economista Tatiana Nogueira, da XP, há alguns preços, como tarifas de ônibus, que ficaram represados durante os anos de pandemia de coronavírus, e a expectativa é que subam com força em 2023 como forma de compensação.

A projeção da especialista é que no ano que vem os preços de bens e serviços administrados, como são classificados aqueles que são reajustados por contrato ou órgãos públicos, subirão 7,7%. Em 2022, eles devem cair 0,6%.

O peso destes preços no índice cheio é grande, já que eles representam um quarto do IPCA.

De acordo com a economista da XP, há duas razões principais para a alta forte dos administrados prevista para o ano que vem. O primeiro é o repasse da inflação deste ano para os preços de 2023. O outro é o efeito da base de comparação, já que a redução do ICMS de energia, combustíveis e telecomunicações achatou os preços desse grupo em 2022.

Outro impacto será a volta da cobrança do PIS/ Cofins sobre combustíveis. Estes impostos federais foram zerados em 2022, mas voltarão em 2023. Este, no entanto, será o menor efeito, segundo Nogueira.

“Grande parte do movimento [o aumento projetado para o IPCA de 2023] pode ser explicado por outras variáveis que são determinantes para a formação desses preços, como cotações de commodities energéticas, índices de preços – como IPCA e IGP-M – e taxa de câmbio, além de fatores específicos de cada setor, como nos casos de medicamentos e planos de saúde”, afirmou em relatório.

Ou seja, além da própria inflação deste ano, o IPCA do ano que vem será alimentado pelo dólar, que pode ganhar tração, e pela cotação de commodities de energia, além de fatores específicos em cada contrato.

A expectativa da XP é que o IPCA cheio desacelerará em relação ao de 2022 e subirá 5,5% no ano que vem. “As inflações de alimentação e bens industriais já mostram sinais de descompressão e serão os principais vetores de desinflação no próximo ano”, afirmou a especialista no relatório.

Veja abaixo as projeções da corretora para os principais preços administrados, e como impactarão nos preços no ano que vem.

Energia elétrica

Na avaliação da XP, em 2023 as tarifas de energia elétrica serão reajustadas em 4,6%.

Os reajustes da energia são calculados utilizando-se informações como custos e receitas das distribuidoras e transmissoras corrigidas pelas expectativas para o IGP-M e IPCA, além de pontos previstos em contratos e sinalizações da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e pelo Ministério de Minas e Energia.

Planos de saúde

No caso dos planos de saúde, as projeções levam em conta a variação dos custos médicos e hospitalares, além do reajuste autorizado pela ANS (Agência Nacional de Saúde), que é o IPCA do período entre maio do ano anterior até abril do ano em questão.

Na avaliação da XP Investimentos, entre 2022 e 2023 os preços dos planos subirão 14,6%.

Medicamentos

Para o reajuste dos medicamentos, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos leva em conta, entre outros fatores, a variação do IPCA acumulado em 12 meses até fevereiro. A estimativa da XP é que os medicamentos subirão 7,8% no IPCA do ano que vem.

Ônibus urbano

A XP trabalha com um cenário em que as prefeituras voltem a aumentar as passagens de ônibus em 2023. Muitas delas, como as do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, São Paulo e Brasília não promoveram reajustes por causa da pandemia –

“Para 2023, trabalhamos com a premissa de que as prefeituras irão reajustar as tarifas de ônibus, visando repassar, mesmo que parcialmente, os aumentos de custos do período sem aumento”, diz o relatório. A corretora acredita em uma alta de cerca de 10% em 2023, com viés de alta.

Combustíveis derivados de petróleo

De acordo com a corretora, o fim da desoneração do PIS/Cofins sobre combustíveis, prevista para acontecer em 2023, terá um impacto de 0,44 ponto percentual no IPCA do ano que vem.

“Se não houver essa volta da cobrança, considerando incerteza dessa premissa, a projeção do IPCA poderia cair 44 bps, segundo nossas estimativas”.

Demais itens

De acordo com a XP, para os demais itens de preços administrados regras mais simples de reajustes costumam ser aplicadas, com destaque para a variação em 12 meses do IPCA ou IGP-M.

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