Lucro da XP (XPBR31) não sai do lugar e corretora perde R$ 8 bilhões em valor de mercado: o que aconteceu?

Desde o topo do bull market, no segundo semestre de 2021, os papéis da corretora caíram 73%

Foto: Shutterstock/Diego Thomazini

As ações da XP Inc. (XPBR31) abriram o pregão desta sexta-feira (17) em queda de 18,5% na Nasdaq, onde é listada desde o fim de 2019. Essa é a maior queda diária dos papéis da empresa nesses pouco mais de três anos e meio – desconsiderando o choque da pandemia, em março de 2020.

Se considerado desde o topo do bull market nos mercados, no segundo semestre de 2021, os papéis da XP têm baixa de 73%. Hoje, a empresa acordou com um valor de mercado US$ 1,59 bilhão menor (cerca de R$ 8,2 bilhões), após a divulgação do balanço do quarto trimestre de 2022. Ao longo da sessão, os papéis devolveram parte das perdas e recuavam 16,5%. 

Após o fechamento do mercado na véspera, a corretora de Guilherme Benchimol apresentou um resultado que frustrou toda e qualquer expectativa dos investidores, voltando à estaca zero do crescimento.

Se antes a companhia era tida como uma tese de investimento de expansão acelerada, na onda das techs, agora, durante o período de vacas magras causado pela alta global nas taxas de juros, a empresa pode ser enxergada como tese de valor – afinal de contas, ainda possui um ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) acima da média e histórico de capacidade de execução, com ativos bem geridos.

Entretanto, os mares não são favoráveis.

Como a Agência TradeMap publicou neste mês, a XP deve ser mais prejudicada pelo ambiente de juros altos do que o BTG Pactual (BPAC11), seu par mais próximo do mercado brasileiro, dada a alta exposição da companhia a clientes pessoa física. 

Da queda da captação líquida ao crescimento de 0%

Os ativos totais dos clientes da XP cresceram 16% na comparação anual, saindo de R$ 815 bilhões para R$ 946 bilhões. O número engloba as marcas XP, Rico e Clear.

O avanço é sólido, mas fica aquém das taxas de crescimento dos últimos anos e está abaixo do que a própria empresa gostaria de atingir.

Em 2021, a XP esperava chegar a R$ 1 trilhão sob custódia ainda naquele ano.  

O problema maior veio da captação líquida total, que foi de R$ 31 bilhões no quarto trimestre e de R$ 155 bilhões em 2022, quedas de 36% e 33%, respectivamente. 

O resultado demonstra a dificuldade de a companhia manter uma captação de recursos acelerada, mesmo elevando o número de agentes autônomos (ou assessores de investimentos).

Esse descasamento entre a captação e a expansão das operações inclusive, rendeu um e-mail de Benchimol aos agentes no início desta semana, pedindo para que “todos façam uma reflexão” para que o crescimento seja retomado.

Isso porque, com uma taxa de juros pós-fixada de 13,75% ao ano e oportunidades de títulos prefixados de até 15% ou 16%, com um juros real gordo, os investidores dependem menos de assessores, que eventualmente são remunerados por determinadas alocações. 

Com o top line pior do que o esperado, mas despesas correntes em alta, o lucro da XP não saiu do lugar.

Em 2022, a empresa ganhou R$ 12 milhões a menos do que em 2021, mas na prática o avanço foi de 0%, estacionando em R$ 3,5 bilhões.

A ideia da XP é reduzir custos neste ano, a começar pelo pessoal. Entre o fim de 2022 e as primeiras semanas deste ano, a empresa reduziu o quadro de funcionários em 5,5%. Em números absolutos, quase 400 pessoas foram dispensadas.

Após o forte crescimento entre 2020 e 2021, o que demandou contratações em peso, agora a corretora recalibra a operação.

A ideia é fazer com que as despesas totais fiquem entre R$ 5 bilhões e R$ 5,5 bilhões em 2023, permanecendo abaixo dos R$ 5,6 bilhões registrados no ano passado – o que pode variar a depender do desempenho operacional e, consequentemente, da política de bônus deste ano.

XP olha para institucional, que se acanha no trimestre

No terceiro trimestre de 2022, um dos destaques foi o bom desempenho da empresa nas linhas ligadas à operação institucional, para as quais o banco tem olhado cada vez mais enquanto o varejo agoniza.

Já no quarto trimestre, o resultado em mercado de capitais para grandes investidores somou apenas R$ 140 milhões, queda de 48% na comparação com o mesmo trimestre de 2021, e baixa de 39% contra o trimestre anterior. Na operação com grandes empresas, a queda na comparação trimestral também foi negativa na mesma magnitude.

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O que pode explicar esse resultado é a volatilidade trazida pelas eleições, que ocorreram no quarto trimestre do ano passado, além de eventos não recorrentes que aconteceram também neste período, como a Copa do Mundo, tirando a efetividade dos dias úteis. 

Há de se observar o movimento de mercado de capitais ao longo do primeiro trimestre de 2023, mas com a visão de que a taxa Selic deve continuar em alto patamar por mais tempo do que se esperava há pouco tempo. Junto às incertezas fiscais e políticas, o resultado pode estar comprometido.

“Back to basics”

Esse foi o pedido de Benchimol no e-mail para seus mais de 12,3 mil AAIs no início deste semana. Para que a empresa volte a crescer, o quadro de colaboradores terá de fazer mais com menos, o que remonta às origens da empresa.

Segundo o jornal O Globo, Bernardo Amaral, um dos sócios mais antigos da corretora e que já liderou o escritório em Miami, deixará a companhia, embora permaneça no conselho. Ninguém virá para o lugar, já que suas atribuições serão repartidas. 

O “basicsdo histórico da XP, inclusive, foi capaz de passar por momentos de política monetária tão apertados quanto este, e até pela maior recessão da história do país, na década passada. Hoje, entretanto, a companhia sofre do mesmo mal que a fez um case de sucesso nos últimos 22 anos. 

Se a falta de capilaridade do mercado de capitais no Brasil ainda expressa uma grande oportunidade, a imaturidade das pessoas físicas num país de cunho rentista afeta diretamente a geração de valor da corretora. 

Ainda que seja um mercado imaturo, o prenúncio de uma emancipação dos investidores pessoas físicas no mundo dos investimentos, todavia, cobrará da XP maior efetividade em produtos e eficiência na operação. Afinal de contas, renda variável, renda fixa e plataforma de fundos do varejo ainda equivalem a 65% de toda a receita.

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