A Vibra (VBBR3), antiga BR Distribuidora, apresentou mais um sólido resultado na noite da última terça-feira (22). A companhia reportou aumento da receita líquida e manteve o Ebitda ajustado praticamente estável no quarto trimestre.
O faturamento líquido da empresa, no período entre outubro e dezembro do ano passado, atingiu R$ 39,27 bilhões, avanço de 62,6%. O Ebitda ajustado do quarto trimestre recuou 1,1%, para R$ 1,59 bilhão no mesmo intervalo, segundo a Vibra.
O lucro líquido teve baixa de 67,4% nesta mesma comparação, a R$ 1,02 bilhão. Vale ressaltar que, no quarto trimestre de 2020, a empresa teve um benefíco naõ recorrente advindo do da renegociação de contrato de plano de saúde, na ordem de R$ 2,13 bilhões.
Na foto anual, o desempenho também foi positivo, a despeito das leves perdas em margens bruta e Ebitda em relação à receita líquida. Confira:
Em R$ bilhões | 2021 | 2020 | 2021 x 2020 |
Receita líquida | 130,12 | 81,50 | 59,7% |
Lucro bruto | 6,85 | 4,45 | 53,7% |
Margem bruta (%) | 5,3% | 5,5% | -0,2 pp |
Despesas operacionais ajustadas | 2,09 | 2,52 | -17,2% |
Ebitda ajustado | 4,98 | 3,81 | 30,8% |
Margem Ebitda ajustada (%) | 3,8% | 4,7% | -0,8 pp |
Lucro líquido | 2,49 | 3,90 | -36,1% |
As margens sólidas, tanto do ponto de vista anual, como trimestral, são explicadas em parte pelo efeito líquido positivo de ganhos de estoque (avanço de R$ 29 por metro cúbico) e perdas em hedges de importação (baixa de R$ 4 por metro cúbico).
Rede
No ano passado, a companhia ampliou a rede de parceiros e adicionou 179 postos ao seu quadro. Cerca de 41% do total foram incluídos apenas no quarto trimestre, com um esforço de fortalecimento de market share.
A participação de mercado da Vibra foi de 28,9% ao fim do trimestre, um número 1,3 ponto percentual acima do reportado 12 meses antes. Hoje, a empresa possui relação com oito mil postos e mais de 18 mil clientes corporativos.
A visão da companhia gira em torno de criar valor e aumentar market share de forma natural, por meio de preços competitivos e qualidade do produto, e não a “compra de share” por si só.
O mercado demonstra otimismo em relação às oportunidades da empresa. Na expectativa por um bom resultado, as ações da Vibra subiram 4,34% na véspera e seguem estáveis na sessão desta quarta-feira (23), com os investidores digerindo a teleconferência de resultados liderada por executivos da companhia.
Comerc: core business futuro
Em outubro do ano passado, a Vibra anunciou a compra da Comerc, empresa de energia. A adquirida esteve perto de abrir capital na Bolsa brasileira. Cerca de um mês antes, a oferta pública inicial de ações (IPO) na B3 foi interrompido exatamente pela compra dos 50% feita pela Vibra.
Para a companhia, o negócio representa mais um passo rumo ao mercado de energia. A intenção é estar bem posicionada para surfar a transição energética para uma economia de baixo carbono e ter a área como carro-chefe da sua atuação.
De acordo com Wilson Ferreira, CEO da Vibra, a distribuidora enxergou na Comerc uma oportunidade de ascensão de consumidores a um mercado que ainda é pouco explorado.
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Conforme reportado no processo de IPO da Comerc, a estimativa da empresa era de atingir um Ebitda de R$ 1,4 bilhão em 2025. Esse valor, aos preços de hoje, equivale a 28% do Ebitda consolidado ajustado da Vibra em 2021.
Além disso, há um pipeline com milhares de negócios que ainda não foi precificado na Comerc, de acordo com o presidente da empresa, que deve ser trabalhado ao longo dos próximos anos.
Com o negócio, a Vibra se coloca como um dos mais importantes players do país no que se refere à mudança de paradigma do mercado de energia.
Petróleo
A volatilidade do preço do petróleo, acentuada nos últimos meses, por vezes pode trazer incertezas quanto à precificação da companhia.
A defasagem criada pelo não acompanhamento imediato da paridade de preços internacionais dos combustíveis traz um descasamento entre hedge e estoques, exigindo do capital de giro.
A empresa procura manter a saúde financeira, enquanto a guerra entre Rússia e Ucrânia ainda impacta os preços praticados mundo afora – se necessário, por meio da captação de recursos junto ao mercado.
Por hora, as margens estão saudáveis e os contratos e encomendas sendo cumpridos, mas há desafios ao longo dos próximos meses.
Decisões em Brasília
Os governadores decidiram prorrogar o congelamento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre o preço da gasolina por mais três meses.
Além disso, haverá a implementação de uma alíquota única do imposto para o diesel, seguindo a lei aprovada no Congresso e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Na visão da Vibra, o processo de transformar a alíquota de imposto única é positivo, modernizando os impostos no país, ao menos neste espectro.
O ICMS não trabalhava como um amortecedor do aumento dos combustíveis. Se o petróleo aumenta, os preços são corrigidos e a alíquota impulsiona esse repasse ao consumidor”, afirmou André Natal, CFO da Vibra, na teleconferência.
Por outor lado, a aprovação do fundo de estabilização dos combustíveis pelo Senado é visto com receio pela companhia.
A justificativa seria a má experiência de uma proposta similar em 2018, quando a greve dos caminhoneiros, que elevou os preços dos combustíveis, dificultou a importação dos combustíveis.
Na visão da distribuidora, a medida não pode ser entendida como um controle de margens e representar um impasse à liberdade de preços do mercado, pois traria um desequilíbrio econômico ao setor.
Na visão de especialistas, atualmente a Vibra é uma boa ação para se ter em carteira. De acordo com dados compilados pela Refinitiv, apresentados na plataforma do TradeMap, dos 13 analistas que acompanham a empresa, 12 recomendam a compra dos papéis. Na visão mediana, as ações valem R$ 31,75.
Na comparação com seu par na Bolsa, a Ultrapar (UGPA3), a distribuidora parece estar mais descontada. Ela negocia a seis vezes o seu lucro dos últimos 12 meses, enquanto a concorrente tem P/L de 18 vezes.
Além disso, a rentabilidade da Vibra também é consideravelmente maior, com ROE de 40,9% e ROIC de 20,8%, contra 8,12% e 5,61%, respectivamente, da Ultrapar.