Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Dividendos ou renda fixa: Qual é a melhor estratégia nos EUA?

Foco nesse tipo de provento passou a ser alvo de grandes investidores ao longo dos últimos meses

Foto: Shutterstock

Em momentos de turbulência no mercado de capitais, os investidores, independentemente da nacionalidade, recorrem a velhas conhecidas. As empresas da economia tradicional tendem a ter desempenho resiliente durante crises – e costumam pagar bons dividendos.

Embora haja um incentivo para que os investidores não se programem tanto com esse tipo de provento, também existem grandes “vacas leiteiras” no mercado acionário dos Estados Unidos. As opções com foco em dividendos passaram a ser alvos de grandes investidores ao longo dos últimos meses. 

Isso ocorre não somente por conta da remuneração aos acionistas de forma líquida, mas também pela característica de cada negócio.

As empresas que têm sólido e contínuo pagamento de dividendos ano após ano possuem como característica comum receitas recorrentes, além da proteção contra a inflação. Ou seja, não perdem valor ao longo do tempo e são recebidas pela companhia, chova ou faça sol. 

A dinâmica representa algo diferente do procurado nos últimos anos pelo mercado global. 

A transição do investimento em empresas de crescimento, que surfaram ao menos uma década de dinheiro fácil e barato, para companhias ditas de valor, tem a ver com a crise econômica da qual os Estados Unidos se aproximam e a contração monetária praticada pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano). 

Essa estratégia já é conhecida no Brasil. Alguns dos maiores investidores pessoa física da história do mercado local, inclusive, criaram fortunas assim. Mas, e nos Estados Unidos, vale a pena investir com esse viés, agora com alta da taxa de juros?

O jeito mais fácil de investir em renda fixa americana

Em sua última reunião, no dia 27 de julho, o Fed elevou a taxa de juros em 75 pontos-base, em igual magnitude da última decisão – que já havia sido o maior aumento desde 1994. A taxa de juros americana, dessa forma, ficou entre 2,25% e 2,50%. 

O processo de aperto monetário americano, acelerado pela guinada da maior inflação das últimas quatro décadas, é novidade para uma geração de operadores e investidores no país.

O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, disse que a instituição subestimou o aumento de preços após a chegada das vacinas e a reabertura econômica. A perda do poder de compra tem apertado o calo da autoridade monetária do país.

Atualmente, as Treasuries americanas de 10 anos, título público com menor risco no mundo – afinal, o emissor tem a máquina de imprimir dólares, diminuindo a quase zero a chance de calote – são negociadas na casa dos 2,80%, mais do que o dobro em relação a marca de um ano atrás. No início de 2021, estavam em 0,91%.

Isso significa que o mercado precifica uma inflação de médio prazo acima da meta do BC americano, de 2% ao ano. Paralelamente, a renda fixa se fortalece. 

A forma mais simples de se expor à renda fixa pública americana é por meio de ETFs (Exchange Traded-Funds), conhecidos por fundos de índice ligados a bonds ou títulos públicos americanos. 

Segundo o site VettaFi, que oferece dados para análise B2B sobre o mercado de capitais americano, existem fundos de índice altamente líquidos que fornecem exposição a papéis emitidos pelo governo, desde curto até longuíssimos prazos das Treasuries. 

Cinco ETFs possuem mais de US$ 20 bilhões em ativos sob gestão. Dentre eles, o volume diário é de, no mínimo, US$ 6 bilhões. O DY (dividend yield, ou rendimento sobre o investimento), contudo, não é muito animador. Veja abaixo:  

Tabela ETFs renda fixa EUA
Reprodução: TradeMap

Nos EUA, investir em renda fixa, por mais que seja altamente conservador do ponto de vista de risco, tem trazido pouco resultado, tanto em termos de valorização do ativo como geração de receita passiva por meio de proventos, ao menos por meio dos fundos de índice.

As grandes pagadoras de dividendos nos Estados Unidos

Embora a alocação de capital corporativa e os vieses econômicos das empresas listadas nos Estados Unidos sejam diferentes das brasileiras, também existem grandes pagadoras de dividendos para padrões do país.

Por conta da longevidade das empresas americanas e a maturidade do mercado acionário ter sido atingida há muito tempo, além dos patamares elevados de distribuição de proventos em relação ao preço das ações, há a mensuração das empresas que continuam elevando seus dividendos consistentemente. 

O índice S&P Global Dividend Aristocrats (ou Aristocratas dos Dividendos) acompanha o desempenho das empresas (entre as 500 maiores do mercado americano) que aumentaram os dividendos pagos anualmente, nos últimos 25 anos, de forma ininterrupta.

O índice foi lançado em maio de 2005 e é ajustado a cada trimestre. No fim do primeiro semestre deste ano, as primeiras posições eram:

Tabela ETF dividendos EUA
Reprodução: TradeMap

Nos últimos cinco anos, o indicador entregou um retorno total de 67,7%, contra 72,8% do S&P 500. Contudo, a volatilidade do índice que acompanha as 500 maiores empresas do mercado americano é 6,4 pontos percentuais menor do que o registrado pelo maior índice acionário da Bolsa americana (com base nos 200 pregões anteriores ao dia 27 de julho deste ano). 

Assim, percebe-se que, ao investir no índice das empresas focadas em dividendos – ao menos com o viés da base histórica –, se corre menos risco (do ponto de vista da volatilidade de preços) com retorno muito próximo. O risco-retorno é positivo. 

Vale dizer que o S&P 500, hoje, é banhado a empresas de tecnologia e alto crescimento. Amazon (AMZN), Alphabet (GOOG), Apple (AAPL), Meta (META) e Microsoft (MSFT) tiveram um retorno médio de 169% nos últimos cinco anos e, mesmo assim, o compilado de empresas de dividendos conseguiu acompanhar com boa performance. 

Olhando daqui para frente, as companhias ligadas a dividendos, ou a maior parte delas, estão defensivamente preparadas para enfrentar uma eventual recessão econômica americana. 

Mais de um quinto do índice está enquadrado em necessidades essenciais de consumo (ou consumer staples). 

Esse setor é resiliente em tempos de crise e agrega empresas que prestam serviços ou vendem produtos considerados prioritários mesmo em tempos de crise, isto é, baixo crescimento e alta inflação, como o atual. 

Algumas das grandes empresas que integram esse contexto e podem compor a carteira de investidores pouco arrojados, mas que não fazem parte das dez maiores posições do S&P 500 são Walmart (WMT), CostCo (COST), CVS Health (CVS) e Coca-Cola (KO), por exemplo.   

É possível investir no S&P Global Dividend Aristocrats por meio do ETF NOBL, também gerido pela S&P, com uma taxa de administração de 0,35% ao ano. 

Renda fixa ou empresas de valor?

A escolha pelas classes de ativo varia conforme o perfil do investidor, descoberto por meio do processo chamado suitability, e realizado quando ele tem acesso a instituições financeiras.

Todo e qualquer investidor, que busque crescimento, recebimento de proventos ou até renda fixa deve respeitar sua tolerância ao risco, ponderada pelos objetivos de curto, médio e longo prazo, em relação ao potencial retorno, adequado a cada perfil. Isso é o que o suitability mostra.

No caso americano, o mercado acionário é pulsante a ponto de quase metade da população ter sua poupança alocada em ações, visto que as taxas de juros no país são estruturalmente mais baixas que as dos países emergentes. 

A dinâmica será colocada à prova durante este período de forte ciclo de alta da taxa de juros, ao mesmo tempo em que, historicamente, as ações são o principal veículo para manutenção do poder de compra e defesa contra a inflação, principal vilão da economia no momento atual.

As ações nada mais são do que frações de empresas. Essas, por sua vez, são organismos vivos e para se manterem vivas precisam lidar com custos e despesas, repassando a inflação que as impacta negativamente. 

Leia também:
Petrobras: quantas ações você precisa ter para encher um tanque apenas com dividendos?

Assim como o mercado teme que o Fed esteja atrás da curva da inflação, como se a tentativa agora seja de tirar o atraso e que a alta de preços correu na frente, é possível que os investidores voltem suas atenções exclusivamente para a renda fixa, já que neste momento também fiquem de certa forma “atrás da curva”. 

Quando o ambiente inflacionário estiver novamente sob controle, por volta do objetivo de 2% ao ano de aumento nos preços, o banco central americano não irá hesitar em fomentar o crescimento econômico colocando a taxa de juros próxima de zero novamente. 

Ninguém sabe quando isso acontecerá, mas certamente a perspectiva é que a renda fixa não trabalhe em prol da manutenção do poder de compra dos investidores. O juro real positivo em larga escala é impensável.

Por que os dividendos são menos chamativos?

A prática de remuneração a acionistas com base na transferência de fluxo de caixa direto aos investidores, como é o pagamento de proventos, não é comum nos Estados Unidos. 

O modelo existe, mas não são encontrados casos como o da Petrobras, a maior estatal brasileira, que tem DY de mais de 30% com base nos últimos 12 meses.

O contexto americano ocorre por duas razões. A primeira delas diz respeito, como já citada, à dinâmica da taxa de juros e controle da economia por parte do BC. Os Estados Unidos têm o controle da principal moeda fiduciária do planeta e possui uma economia que já não apresenta crescimento relevante.

A combinação desses dois fatores faz com que o risco de calote do país seja ínfimo e que a política monetária tenha de ser um motor para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). O resultado são taxas de juros menores.

Com isso, não é difícil que algumas das empresas mais pagadoras de proventos superem as taxas de juros com suas distribuições. Isso não significa que, atualmente, essa seja uma boa notícia ou que os dividendos voltaram a ser atrativos – a inflação nos últimos 12 meses foi de 9,1%. 

Além disso, diferentemente do Brasil, os dividendos nos Estados Unidos não são isentos de tributação. A alíquota é de 30%.

Com isso, os investidores são majoritariamente mais remunerados por meio das recompras de ações (buyback) pelas empresas. 

Quando as companhias retiram seus papéis do mercado, o menor free float (livre negociação) faz com que cada um dos investidores detentores das ações tenha maior participação na empresa. Caso queiram voltar ao patamar anterior de “fatia” na companhia em questão, basta vender as ações a preços de mercado para ter a liquidez que os dividendos trariam.

Para onde vai a taxa de juros americana?

Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares (que cada dia tem valido menos, por conta da inflação). Especialistas afirmam que o Fed demorou para começar a elevar a taxa de juros e, quando o fez, iniciou de forma lenta.

A política monetária, materializada no manuseamento das taxas de juros por parte da autoridade monetária central do país, tem certo tempo de defasagem para que cause efeito. Isto é, o consumo é desacelerado apenas meses após a alta da taxa de juros. 

Em ata divulgada no início de julho, o Fed já havia deixado claro: o foco é conter a maior inflação em 40 anos, nem que o aperto nos juros e o corte da liquidez apaguem as possibilidades de crescimento. 

As expectativas para a economia americana, porém, já são de forte contração. O último dado do PIB americano (queda de 0,9% entre abril e junho deste ano) trouxe à tona a possibilidade de o Fed amenizar o ritmo intenso de aumento nos juros. 

Em última instância, quando os indicadores voltarem ao equilíbrio, com crescimento econômico e taxa de juros controlada em patamares baixos, as empresas poderão voltar a distribuir mais proventos. 

Concomitantemente, a renda fixa americana se tornará ainda menos vantajosa se relacionada aos dividendos, do ponto de vista de estratégia de investimento. Nada impede, todavia, que ambas façam parte de uma carteira balanceada. 

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.