No pódio do varejo, Renner (LREN3) ainda está melhor que Magazine Luiza (MGLU3); veja análise

Lojas Renner e Grupo Soma apresentam maiores lucros no período, enquanto Via, Magalu e Americanas ainda sofrem com alta dos juros

Foto: Shutterstock

Os balanços do segundo trimestre confirmaram que os elevados níveis de inflação e juros ainda são um peso para rentabilidade das empresas do setor de varejo. No entanto, essas companhias começaram a colher os benefícios de medidas extraordinárias do governo para reforçar a renda da população e tem um cenário menos negativo à frente, dada a perspectiva de desaceleração da inflação.

As vendas do varejo estão crescendo sem parar há quase um ano, embora tenham perdido fôlego recentemente. Segundo o Índice Cielo de Varejo Ampliado (ICVA), em julho deste ano elas acumulavam nove meses consecutivos de alta.

O segundo trimestre foi um período positivo para o setor em relação a igual período do ano passado, mas nem todas conseguiram aproveitar o momento da mesma forma.

As empresas do varejo de móveis e eletrodomésticos, como Magazine Luiza (MGLU3) e Lojas Americanas (AMER3), tiveram prejuízo, enquanto a Via (VIIA3) apresentou um lucro 88% menor em relação ao mesmo trimestre do ano passado.

Por outro lado, empresas do varejo de saúde – como Hypera (HYPE3) e Raia Drogasil (RADL3) – e vestuário – como Lojas Renner (LREN3) e Grupo Soma (SOMA3) – conseguiram driblar as adversidades e registraram aumento nos lucros.

 

Parte do impulso nas vendas no segundo trimestre veio de benefícios econômicos aprovados pelo governo, como a antecipação de 13º salário para aposentados e pensionistas e a liberação para que trabalhadores sacassem até R$ 1.000 do FGTS.

Estes incentivos ao consumo, no entanto, foram adotados justamente por causa do cenário econômico adverso desenhado pelos juros altos – que encarecem o crédito – e a inflação elevada – que pesou sobre o poder de compra da população.

Este combo foi particularmente negativo para os segmentos onde os clientes dependem mais de financiamentos para fazer comprar, como o de móveis e eletrodomésticos e o de materiais de construção.

Otimismo à vista

O cenário macroeconômico para o segundo semestre parece ser menos negativo para as varejistas, principalmente porque a inflação dá sinais de arrefecimento, e as taxas de juros devem parar de subir.

Em julho, após meses de inflação nas alturas, o Brasil registrou uma deflação – queda de preços – de 0,68% em relação a junho. O movimento atípico foi motivado essencialmente pela redução de impostos sobre alguns produtos essenciais, como combustíveis.

Embora a previsão seja de retomada da inflação nos meses seguintes, o alívio momentâneo ajuda a direcionar a renda dos consumidores para outros itens.

E mesmo que a inflação continue elevada, o próprio Banco Central prevê que a tendência daqui para frente é que a alta de preços perca intensidade.

A instituição, inclusive, sinalizou no início de agosto que provavelmente só aumentará os juros no mês que vem se houver indícios de que a inflação ainda não bateu no teto. No momento, a taxa básica de juros, a Selic, está em 13,75% ao ano – o maior nível em quase seis anos.

A este cenário, soma-se ao conjunto de elementos favoráveis ao varejo a aprovação de medidas de apoio financeiro à população – entre elas o aumento no valor do Auxílio Brasil, benefício pago à população mais pobre, de R$ 400 para R$ 600 mensais.

Estes fatores alimentaram o otimismo dos investidores com as empresas de varejo e resultaram em aumento no preço das ações do setor. Entre nove companhias de varejo nos segmentos de saúde, beleza e eletrodomésticos que compõem o índice Ibovespa, oito acumulam alta até este momento do segundo semestre.

Quem surfou melhor esta onda foram as empresas que vendem eletrodomésticos e móveis. A demanda por estes bens foi duramente atingida pelos juros altos e inflação, e a reversão deste quadro pode deixar o consumidor menos avesso a comprar estes produtos.

A queda no custo de produção de móveis e eletrodomésticos, resultante da diminuição nos preços de insumos como o ferro e o aço, também devem ajudar. A Copa do Mundo também entra na conta do otimismo do mercado, que conta com um aumento na demanda por novos televisores.

Esse vento a favor, no entanto, só deve ser sentido pelo setor com mais força no último trimestre do ano, segundo o IDV, dado que a perspectiva é de que até setembro, pelo menos, as vendas do varejo continuem crescendo a um ritmo menor ou igual ao da inflação.

Setores em destaque

O destaque positivo no segundo trimestre vai para os setores de vestuário e saúde, que apresentaram melhores rentabilidades e lucro superior ao reportado no segundo trimestre de 2021.

O setor de vestuário é menos sensível aos juros e ao custo do crédito porque vende produtos com valor agregado relativamente menor que o de bens duráveis. Portanto, não há necessidade de o cliente entrar num financiamento para consumir, diferentemente do que ocorre com móveis e eletrodomésticos.

Entre as varejistas de moda o destaque vai para a Lojas Renner (LREN3), cujo público-alvo é de baixa renda, e o Grupo Soma (SOMA3), que tem os produtos voltados para média e alta renda.

Para a Renner, o crescimento das receitas é explicado por uma necessidade de renovação do guarda-roupa dos consumidores, reflexo da retomada dos eventos presenciais e antecipação do inverno. Além disso, eventos sazonais como os dias das Mães, dos Namorados e de São João aqueceram o mercado.

O ganho de rentabilidade do Grupo Soma foi superior ao da Renner, pois o público da empresa é mais flexível quanto à variação dos preços. Com isso, o Soma consegue repassar custos sem prejudicar muito a demanda.

No setor de saúde, o destaque vai para as empresas Raia Drogasil (RADL3) e Hypera (HYPE3), ambas do setor farmacêutico. Este segmento tem uma vantagem de oferecer produtos essenciais para a população – ou seja, também sofrem menos queda na demanda mesmo com aumento nos preços.

A Hypera apresentou um crescimento de 25,8% na receita, impulsionado por maiores vendas institucionais, porém este é um segmento que traz menores margens para empresa, impactando negativamente a rentabilidade.

Mesmo com uma queda de 5% no lucro, o resultado ainda é bom, dada a escassez de remédios e de matéria-prima, que eleva os custos de produção.

Já a Drogasil apresentou ótimo desempenho operacional, com crescimento tanto nas vendas quanto na rentabilidade. A performance é explicada pela forte estratégia de digitalização, além de maiores vendas de testes para Covid-19.

Outro ponto que impactou positivamente os resultados foi o aumento dos preços dos remédios, que valorizou os produtos que estavam em estoque e beneficiou a rentabilidade da empresa.

Destaque negativo

No segundo trimestre, o destaque negativo foi o setor de móveis e eletrodomésticos – algo que, dado o cenário econômico, era esperado.

Porém, a VIA (VIIA3) surpreendeu positivamente e apresentou lucro no período, ainda que 87% menor em relação ao segundo trimestre de 2021.

Por outro lado, a Magazine Luiza (MGLU3) reverteu o lucro de R$ 95 milhões no segundo trimestre de 2021 para um prejuízo, além do esperado, de R$ 135 milhões neste ano. Na Americanas (AMER3), o prejuízo ficou dentro das expectativas dos analistas e um pouco maior que há um ano.

É importante ressaltar que empresas desse segmento são altamente expostas a produtos eletroeletrônicos, que por sua vez tiveram menores volumes de vendas devido ao alto custo de crédito para o consumidor.

Além disso, o alto nível de juros levou a maiores custos com despesas financeiras, o principal “vilão” para o resultado mais fraco das varejistas.

A Magazine Luiza viu as despesas com juros crescerem 163%, para R$ 533 milhões, enquanto a Lojas Americanas reportou despesas financeiras no valor de R$ 728 milhões, quatro vezes maior que um ano atrás.

A Via reportou um aumento mais controlado em relação aos pares, em 72%, para R$ 597 milhões. Porém, as despesas foram amenizadas por menores custos operacionais devido a melhor produtividade nos canais de vendas e menores gastos em marketing, segundo a empresa.

Mesmo com o otimismo estampado no preço das ações desde o início de julho, o ano ainda é duro para os papéis de varejistas, que estão longe de alcançar o desempenho do Ibovespa, principal índice de referência.

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