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Hapvida (HAPV3) acaba com paciência do mercado e perde R$ 10 bi em valor de mercado

Queda das ações da empresa é uma das maiores da história dentre os integrantes do Ibovespa

Foto: Shutterstock/Joa Souza

 

Longe de toda e qualquer perspectiva do mercado, a Hapvida (HAPV3) apresentou resultados decepcionantes referentes ao quarto trimestre do ano passado. A empresa, que representava a vertical de crescimento do setor de serviços médicos com base na verticalização, acabou com a paciência do mercado.

Por volta das 17h, os papéis da Hapvida despencavam 32% na B3. Mais cedo, os papéis caíam 36%, perdendo cerca de R$ 10 bilhões em valor de mercado ante o fechamento de ontem.

Essa configura uma das maiores quedas diárias de ações na história dentre os integrantes do atual Ibovespa, segundo um levantamento recente do TradeMap

Os detalhes do balanço

O lado positivo do resultado foi o aumento do tíquete médio dos planos praticados pela empresa, subindo 2,88% em 12 meses, para R$ 231,60. 

O resultado teria sido pior se não fosse esse avanço marginal. Por outro lado, essa alta não compensou a alta dos custos da operação – mesmo que a empresa tenha prometido aliviar essas pressões nos últimos meses.

Na teleconferência de resultado do primeiro trimestre do ano passado, o CFO da Hapvida, Mauricio Teixeira, disse que a empresa “ainda estava no início do processo de captura de sinergias”. Além disso, afirmou que a companhia tem “encontrado diversas oportunidades de sinergias após a fusão”, que impactaram o balanço. 

O problema é que, aparentemente, os impactos têm sido negativos. No período entre outubro e dezembro do ano passado, a influência clara foi o maior patamar de sinistralidade das empresas adquiridas, que compõem o resultado consolidado.

Por mais que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) tenha apresentado uma melhora no consolidado do ano, segue pressionado pela sinistralidade.

A empresa esperava que os sinistros pudessem ser normalizados pelo fim da pandemia e ajustes de preços. A pandemia “acabou” e, mesmo com os aumentos dos preços, o resultado ainda traz mais dúvidas do que certezas para o futuro. 

Sinistralidade, o calo da Hapvida 

No curto e médio prazos, a sinistralidade continua sendo o principal ofensor à tese de investimento em Hapvida, tão difundida nos últimos dois anos entre os investidores. 

O principal indicador operacional da empresa, a sinistralidade caixa, atingiu o patamar de 72,9% entre outubro e dezembro, um número 1,8 p.p. pior do que o registrado no fim de 2021. Na comparação trimestre, praticamente não saiu do lugar, melhorando 0,1 p.p.

Para jogar contra a sinistralidade, a empresa vai dobrar a aposta na verticalização para reduzir os custos, segundo os executivos. 

Jorge Koren de Lima, CEO da Hapvida, reconheceu que o índice está acima da média histórica, mas que há planos em curso para que os efeitos negativos e desafiadores no curto prazo sejam mitigados. 

Isto é, basicamente fazer com que os preços praticados compensem os custos, subindo acima da inflação em duas ou três vezes, o que será um desafio em vias da crise macroeconômica com alta das taxas de juros. 

Isso pode influenciar negativamente o crescimento do número dos beneficiários, já que parte do portfólio é de planos individuais, os quais a empresa pretende elevar os preços em 10%, pesando ainda mais sobre o poder de compra da população. 

Embora tenha sido sincero no que diz respeito ao resultado do quarto trimestre, a reação negativa dos investidores na sessão desta quarta mostra que o mercado tem perdido a confiança com os discursos da empresa.

Desde 2021, as promessas de encontro de sinergias das aquisições têm custado a aparecer e, de certa forma, já se perderam pelo mercado. A previsão de bancos para o valor presente líquido das sinergias entre Hapvida e NotreDame ficavam entre R$ 20 e R$ 26 bilhões. 

Só hoje, a Hapvida perdeu, em valor de mercado, quase metade disso. 

Despesas financeiras, o vilão do lucro 

Se, por um lado, o operacional vai mal, por outro lado, o contexto não é favorável, formando uma tempestade perfeita em volta da empresa.

As despesas financeiras da companhia refletem o aumento do endividamento da empresa para rodar suas operações. Em meio a uma taxa Selic de 13,75%, a empresa anunciou, na última sexta-feira (24), uma emissão de debêntures, remunerada em CDI mais 1,70% ao ano. O vencimento ocorre em 2024. 

No quarto trimestre, o resultado financeiro da companhia foi negativo em R$ 515,8 milhões, ante uma despesa líquida de R$ 21,7 milhões no mesmo intervalo de 2021, linhas que pesam diretamente o resultado líquido da empresa. 

A Hapvida teve um prejuízo contábil de R$ 316,7 milhões no quarto trimestre. Ajustando, com a exclusão do ILP (Incentivo de Longo Prazo), stock options, amortização de marcas e patentes, há um lucro de R$ 161,4 milhões. 

A dívida líquida cresceu em R$ 600 milhões, para R$ 7,1 bilhões. A alavancagem financeira subiu para 2,45 vezes, ainda considerado dentro do prudencial, mas já levanta um sinal de alerta, dadas as perspectivas ainda negativas. 

No quarto trimestre, a empresa consumiu R$ 236,2 milhões do caxa para aquisição de imobilizado e intangíveis, e R$ 9,1 milhões referentes ao pagamento de aquisições. Com isso, o fluxo de caixa livre foi negativo em R$ 223,6 milhões.

A diretoria da Hapvida promete que a destruição de valor não passará do curto prazo, mas o movimento das ações no pregão de hoje mostra que não há mais espaço para o benefício da dúvida – ainda que a empresa seja vista como símbolo da consolidação do setor no futuro. 

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