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Magalu (MGLU3), Via (VIIA3) e Vivo (VIVT3) aceleram empréstimos: oportunidade ou cilada?

Empréstimos pessoais, com juros menos onerosos do que nos cartões de crédito, são alvo de utilização das empresas não bancárias

Foto: Shutterstock/Alison Nunes Calazans

Durante o processo de financial deepening no Brasil, que nada mais é do que o aprofundamento dos serviços financeiros e bancarização nas relações econômicas, empresas de setores não bancários em sua essência passaram a conceder empréstimos como uma via de negócios.

O financiamento dos próprios clientes se tornou comum no varejo ainda antes dos empréstimos, com a concessão por meio de cartões de crédito e até os crediários, mas que possuem uma dinâmica um pouco diferente dos empréstimos pessoais propriamente ditos.

Os empréstimos pessoais, que carregam juros menos onerosos do que os praticados nos cartões de crédito, podem ser utilizados de formas distintas, perdendo-se o rastro de sua utilização – diferentemente dos cartões de crédito que geralmente são utilizados nas próprias lojas.

Em razão disso, empresas como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Vivo (VIVT3) estão cada vez mais no dia a dia de quem quer ou precisa de recursos de forma rápida, mas não necessariamente barata.

O Magalu insere seus empréstimos dentro dos resultados relacionados à sua fintech, embora não detalhe a fundo cada um dos números. 

A Via, controladora da Casas Bahia e do Ponto, por sua vez, também opera a concessão de crédito por meio de seu banco digital, o BanQi, onde traz informações relacionadas à qualidade do crédito. As perspectivas parecem ser positivas, dado o aumento de capital da fintech.

A Vivo, por sua vez, tem apostado cada vez mais em serviços financeiros. Mais de dois anos após o início da Vivo Money, a empresa começa a reportar um portfólio de crédito interessante, mesmo que ainda pouco representativo em relação à operação de telecomunicações tradicional.

O Magalu como fintech

Boa parte da confiança em Magazine Luiza durante a segunda metade da década passada girava em torno das iniciativas da companhia em tecnologia e e-commerce. 

Desconsiderando os players internacionais, que chegaram ao Brasil com afinco nos últimos anos, a varejista parecia à frente de seu tempo em termos de investimento nestes quesitos. Portanto, a empresa era vista como uma acelerada tese de investimento com os pilares fincados em tecnologia e fintech.

A fintech em si foi criada em meados de 2022, com o Magalu compilando as operações de empresas adquiridas, como Bit55, Hub Fintech e Stoq. A fintech, que passou a complementar a LuizaCred, fundada há mais de 20 anos, possuía 7,8 milhões de contas abertas em setembro do ano passado.

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No que se refere especificamente a empréstimos pessoais, o banco inclui essas contas em Banking as a Service (BaaS). O termo diz respeito a uma plataforma de serviços financeiros controlada por uma empresa não financeira e que presta soluções nesse sentido, como de crédito. 

O volume total de transações processadas (TPV) no segmento BaaS somou R$ 3,3 bilhões no terceiro trimestre do ano passado, crescendo 10,2% na comparação anual. Nos 12 meses anteriores, o serviço transacionou R$ 13,57 bilhões.

A originação de crédito da varejista não é apresentada, mas deve representar apenas uma fração desse montante. A inadimplência com as operações de crédito também não são apresentadas. 

O Magalu apresentou uma PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) de R$ 58,8 milhões no terceiro trimestre, e de R$ 178,9 milhões nos primeiros nove meses de 2022, mas não especificou para qual fim refere-se a provisão. Na comparação com o período entre janeiro e setembro de 2021, o montante subiu 82%.

O fato de que o BaaS possui um retrospecto de crescimento menos acelerado do que os demais serviços da fintech, e até do que a LuizaCred, ao passo em que as provisões aumentam, é um sinal de que a carteira de crédito de empréstimos do Magalu sofre com perda de qualidade e que as novas concessões têm passado por critérios mais rigorosos.

Pela visão comum de mercado, não há perspectivas de curto prazo para que essa vertical de negócios se torne relevante para a receita da empresa, sobretudo por conta da trajetória da política monetária no Brasil.

Vale ressaltar, todavia, que talvez o viés da gestão da varejista no negócio não seja possuir uma carteira de crédito muito robusta, mas sim ampliar sua base de usuários ativos e, eventualmente, diminuir o custo de captação desses clientes para os demais negócios.

A Via como banco digital

O BanQi foi adquirido em definitivo pela Via em maio de 2020, sacramentando seu investimento em serviços financeiros e bancarização. O banco digital já atuava junto à empresa desde 2018.

Por meio dessa operação, a varejista encontra sinergias entre seu serviço de conta digital e a Casas Bahia, com facilidades no recebimento de vendas e financiamento dos clientes. 

O negócio de empréstimos pessoais da Via começou em meados de 2021, tendo seus primeiros números reportados no balanço do terceiro trimestre daquele ano, com uma produção de crédito de R$ 65 milhões e 50 mil contratos vigentes. 

No terceiro trimestre do ano passado, a produção foi de R$ 440 milhões, com mais de 251 mil contratos. Na mesma base comparativa, a inadimplência acima de 30 dias saiu de 10,7% para 8,9%.

A melhora gradual na qualidade dos empréstimos da varejista aponta, por um lado, que o banco tem adquirido expertise no trabalho de concessão de crédito, mas, por outro, indica que o índice de calotes da varejista é superior ao dos players bancários. 

O Nubank, por exemplo, por mais que tenha perspectivas e investimentos diferentes para a operação desta mesma natureza, tem 100% de sua carteira de crédito voltada a pessoas físicas (80% com cartão de crédito e 20% em empréstimos pessoais), e tem uma taxa de inadimplência de aproximadamente metade do que a da Via. 

Assim como o Magazine Luiza, mais do que uma forma de rentabilizar a fintech (que demanda investimentos de longo prazo), os empréstimos pessoais servem para atender uma dor dos clientes.

A cada R$ 1 emprestado pela Via, R$ 0,24 são direcionados para pagamento de contas, algo esperado num país em que 77,9% das famílias têm algum tipo de dívida, segundo informações atualizadas da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens).

No início deste mês, a Via multiplicou o capital do BanQi em quase sete vezes, chegando a R$ 466,7 milhões.   

Vivo: A força da marca nos serviços digitais

O serviço de concessão de crédito da Vivo passou a ser operado em 2020, foi apresentado ao mercado no primeiro trimestre de 2021 (com origem da captação), e números mais claros foram divulgados a partir do quarto trimestre de 2021, mais do que dobrando trimestre a trimestre.

O Vivo Money foi lançado inicialmente focado em clientes pós-pago e controle. A empresa de telecomunicações apostou na facilidade de contratação por parte dos usuários já ligados à companhia e, em função do maior conhecimento do comportamento dos clientes, em taxas de juros atrativas.

O serviço encerrou o ano de 2021 com mais de R$ 30 milhões de crédito concedido. Já no terceiro trimestre de 2022, menos de um ano depois, o portfólio já somava R$ 160 milhões (alta de 433% no período).

Os recursos para este fim são levantados por meio de um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), do qual a Vivo é a única participante. A companhia destaca o uso de dados para a assertividade na oferta dos produtos e provisões sem exageros. 

Em conversa recente com o TradeMap, executivos da companhia explicaram como usam a força da marca da Vivo para a criação de novas linhas de negócio que possam acelerar o crescimento da empresa, embora ainda sejam pouco representativos à receita total.

No terceiro trimestre do ano passado, a companhia provisionou R$ 301 milhões, o equivalente a 1,7% do faturamento total, no menor patamar histórico da empresa. O montante serve para a operação como um todo, ou seja, não refere-se somente ao Vivo Money.

Medidas tomadas por autoridades monetárias brasileiras nos últimos anos, tanto em termos de descentralização do mercado como também como medida para distribuição de crédito durante a pandemia, abriram espaço para que players pudessem inovar e entrar nesse mercado tão concentrado em outros momentos.

Às empresas, representa uma nova vertical de negócio, que pode contribuir para a rentabilidade ao longo do tempo. Entretanto, a concessão de empréstimos demanda rígida avaliação de riscos e análise de crédito. 

A linha entre ser oportunidade ou cilada é tênue. Uma safra de empréstimos mal gerida pode fazer o negócio cair por terra. Mesmo assim, por ora, os negócios principais de Magalu, Via e Vivo não dependem do sucesso dessas iniciativas.

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