Pular de ação em ação só pelo dividendo é mau negócio; entenda os riscos

No acumulado do ano, até 17 de dezembro, R$ 309 bilhões foram pagos aos investidores em dividendos

Foto: Pixabay

A palavra dividendos é música aos ouvidos do investidor que busca renda passiva. Em 2021, inclusive, o montante distribuído pelas empresas da Bolsa brasileira mais do que dobrou em relação ao ano anterior, fazendo a alegria de muita gente. 

Segundo um levantamento do TradeMap, até o dia 17 de dezembro, cerca de R$ 309 bilhões foram pagos aos investidores na forma de dividendos no acumulado de 2021.

A procura pelos proventos recompensou o investidor defensivo, em meio à volatilidade do mercado brasileiro que, na média, caiu 12% — na primeira queda anual desde 2015. 

O Ibovespa, maior índice acionário da Bolsa brasileira, atualmente possui um dividend yield (DY) ponderado de 4,68%. O percentual está abaixo da Selic, atualmente em 9,25% e que namora com os dois dígitos para o ano que vem. 

Explicando o dividend yield

O dividend yield (DY) é o indicador usado para demonstrar a relação do montante monetário de proventos pagos por ação por uma empresa e a cotação das ações desta mesma companhia, na expressão: dividendos pagos no período/preço das ações.

Mesmo a taxa de juros, que voltou ao mesmo patamar de dois anos atrás, não está batendo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com isso, o investidor de renda variável que procura uma renda líquida acima da inflação segue em busca das melhores oportunidades.

Desempenho do IDIV, índice dos maiores pagadores de dividendos brasileiros, em 2021

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Com a promessa de pagamentos polpudos em 2022, convivemos com manchetes: “como aproveitar”, “participe da distribuição”, “leve para casa seu dividendo”, e por aí vai. 

Mas será que faz sentido ficar pulando de galho em galho em busca das empresas que vão distribuir os recursos?

O ajuste na cotação

Com o objetivo de manutenção da neutralidade do patrimônio dentre os diversos acionistas, utiliza-se o termo “ex-dividendos”.

Ou seja, quando uma empresa informa que fará a distribuição de dividendos ou juros sobre capital próprio (JCP), também apresenta uma data em que os investidores não terão mais direito aos recursos.

Imagine, hipoteticamente, que, a partir de 10 de janeiro de 2022, uma ação passará a ser negociada ex-dividendos de R$ 1, junto ao respectivo pagamento.

Se ao final do pregão anterior ao dia 10 de janeiro, essa ação custava R$ 10, após a “data ex” será automaticamente transformada em R$ 9, com o ajuste (desconto) do dividendo anunciado.

Com isso, se um investidor possuía 1.000 ações desta empresa, na abertura do mercado do dia 10 de janeiro ele terá R$ 10 mil, sendo que R$ 9 mil vem da posição acionária e R$ 1 mil dos dividendos recebidos. 

Ou seja, o capital de cada acionista não tem alteração. O total é o mesmo do dia anterior, sendo distribuído de maneira diferente. 

Saiba mais:
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Há de se discutir que existe um movimento natural de mercado que faz com que o preço da ação volte ao patamar anterior, ou então que quando a empresa anuncia o pagamento, os investidores propensos a comprar as ações o fazem antecipadamente para ter direito ao recebimento.

Porém, são apenas vertentes conjecturais. Em suma, o pagamento de dividendos, por si só, não gera valor contábil ao investidor.  

Por isso, não vale a pena comprar uma ação apenas em função do anúncio do pagamento de dividendos. Quando as ações forem vendidas, passado o período que dá direito ao recebimento dos proventos, elas já estarão descontadas do valor líquido que cairá na conta. 

Além disso, o período em que o capital fica alocado apenas para o recebimento dos proventos, também representa um custo de oportunidade que o investidor absorve, sendo um movimento apenas de curto prazo que, na prática, não mostra-se favorável no longo prazo.

Dividendos traiçoeiros

Da mesma forma que existem riscos claros ao se buscar apenas o recebimento de dividendos e não o investimento propriamente dito na companhia, as empresas que “oferecem” um dividend yield alto também podem não ser flor que se cheire. 

Em busca do rápido enriquecimento, os investidores podem se sentir atraídos por companhias com uma alta relação da distribuição em relação ao seu preço de mercado, por mais que isso nem sempre seja uma boa notícia.

Dividendos nem sempre são um sinal de que a empresa passa por um momento de saúde financeira. 

Pouco tempo antes de entrar em recuperação judicial, a Oi (OIBR3) já apresentava prejuízos e consistentemente pagava dividendos aos seus acionistas. Nos últimos cinco anos, as ações da tele caíram 99,10%.  

Desempenho das ações OIBR3 nos últimos cinco anos

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Por isso, é necessária atenção ante algumas situações que podem ampliar o DY das empresas: 

  • Distribuição de lucros não recorrentes ou extraordinários;
  • Captação de dívida ou emissão de ações para pagamento de dividendos;
  • Utilização recorrente da reserva de lucros para pagamento dos proventos. 

O DY não deixa de ser um indicador importante. Caso o dividend yield histórico seja ao menos estável, em um patamar atrativo, significa que a empresa tende a remunerar bem seus acionistas. 

Por outro lado, se o DY aumentou simplesmente em função da queda da cotação das ações ao longo do tempo, há um ponto de atenção. O baixo desempenho dos papéis em Bolsa pode ser conjuntural, mas também pode mostrar uma deterioração dos fundamentos, que não sustentará a alta distribuição dos proventos.

Enquanto isso, também é preciso analisar as perspectivas de crescimento dos lucros. Se o payout (parcela do lucro que é distribuído aos investidores) da empresa continuar o mesmo, mas ao longo dos anos o lucro for maior, mais dinheiro será pago aos acionistas. 

Mas nada adiantará se o balanço patrimonial e o endividamento da empresa não estiverem sob controle. 

Se uma companhia não for capaz de gerar retorno suficiente para arcar com seus compromissos e, consequentemente, perpetuar sua existência, não há razão para distribuir dividendos. 

Proventos em 2022

Neste ano, a festa dos dividendos deve continuar. Por ora, os proventos não são tributados. A depender do resultado da reforma tributária que tramita em Brasília (se é que ela vai ser solucionada em 2022), as companhias podem acelerar a distribuição.

As duas grandes “vacas leiteiras” do mercado são Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3). Entre 2022 e 2026, a estatal petroleira pretende pagar de US$ 60 bilhões a US$ 70 bilhões em dividendos, segundo seu plano de negócios.

A mineradora, que distribuiu R$ 73 bilhões em forma de dividendos recorrentes e extraordinários e juros sobre o capital próprio (JCP) nos últimos 12 meses, também deve continuar com pagamentos robustos ao longo de 2022, em função de sua baixa alavancagem e geração de caixa consistente, mesmo com a volatilidade do minério de ferro.

Confira alguns dos proventos que já estão anunciados para as próximas semanas:

Empresa Ticker Tipo Pagamento Valor Líquido 
Marcopolo POMO4 JCP 4/4/2022 R$ 0,03145
Itaúsa ITSA4 JCP R$ 0,113390
Copel CPLE6 JCP R$ 0,091148
Americanas AMER3 JCP 9/3/2022 R$ 0,521082
JSL JSLG3 JCP 31/01/2022 R$ 0,135235
Multiplan MULT3 JCP R$ 0,4224065
Sanepar SAPR11 JCP R$ 0,497681
Energisa ENGI11 Dividendos 2/3/2022 R$ 2,20
Iochpe Maxion MYPK3 JCP R$ 0,854720
Getnet GETT11 JCP 18/02/2022 R$ 0,271625
Hapvida HAPV3 Dividendos 21/01/2022 R$ 0,005372
Petz PETZ3 JCP R$ 0,019426
Dimed PNVL3 JCP 31/03/2022 R$ 0,03815
B3 B3SA3 JCP 7/1/2022 R$ 0,04231
Totvs TOTS3 JCP 20/03/2022 R$ 0,11050
Unidas LCAM3 JCP 7/1/2022 R$ 0,101582
Movida MOVI3 JCP 31/01/2022 R$ 0,106549
Tupy TUPY3 JCP 27/01/2022 R$ 0,130372
Neoenergia NEOE3 JCP R$ 0,112045
Sulamerica SULA11 JCP 14/04/2022 R$ 0,191027
Telefonica VIVT3 JCP R$ 0,408035
Vivara VIVA3 JCP R$ 0,214141
Hypera HYPE3 JCP 7/1/2022 R$ 0,262489

Com a renda fixa voltando ao radar, o investidor brasileiro deve ponderar o risco do mercado acionário exigindo um prêmio. Contudo, no longo prazo, o efeito “bola de neve” no recebimento de dividendos já se provou vencedor. Basta não colocar o carro na frente dos bois.

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