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Braskem (BRKM5): curto prazo é mais negativo que positivo – veja se vale a pena investir

A Braskem é uma das grandes prejudicadas pela guinada do preço do petróleo no mercado internacional

Foto: Shutterstock

Com o cenário adverso em termos de pressão de custos, a Braskem (BRKM5) mostrou no primeiro trimestre deste ano que tem mecanismos para conseguir entregar resultados.

Entre janeiro e março deste ano, a companhia registrou uma receita líquida de R$ 26,73 bilhões, alta de 18% na comparação com o mesmo período de 2021. O entrave da Braskem no período residiu no CPV (custo dos produtos vendidos), que avançou 40% na mesma base comparativa.

O CPV foi de R$ 21,60 bilhões no intervalo, equivalente a 80,8% de toda a receita líquida. No primeiro trimestre do ano passado, o CPV foi equivalente a 68,1% do faturamento da petroquímica. 

Isso porque a Braskem é uma das grandes prejudicadas pela guinada do preço do petróleo no mercado internacional. 

A principal matéria-prima da empresa é o nafta, que é um derivado do petróleo, assim como etano e propano. A empresa tem procurado diminuir sua exposição a este insumo, criando processos para usar o etanol como matéria-prima, mas o grosso da operação ainda depende do petróleo e derivados.

O preço do nafta subiu 63% em 12 meses, para US$ 884 por tonelada, acompanhando a disparada do Brent em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia. 

O resultado disso foi a queda de 30% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), para R$ 4,84 bilhões. 

Contudo, a empresa conseguiu conter suas despesas financeiras, mesmo com o aumento do custo de capital ao longo do ciclo de alta das taxas de juros mundo afora.

No fim das contas, o resultado financeiro líquido saiu do negativo e atingiu R$ 1,24 bilhão. Dessa forma, o lucro líquido subiu 56%, para R$ 3,88 bilhões.

Com a queda do Ebitda, a geração de caixa da companhia acabou sendo comprometida. Depois de sólidos resultados no trimestre imediatamente anterior e no primeiro trimestre de 2021, a Braskem consumiu R$ 176 milhões do caixa entre janeiro e março.

Braskem tenta retomar geração de caixa

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

O principal ofensor foi o alto capital de giro (resultado de maior volume de vendas em contas a receber), mas desconsiderando a provisão para o evento geológico em Alagoas, a empresa teria gerado caixa de R$ 467 milhões.

A companhia, inclusive, disse na teleconferência de resultados na manhã desta quinta-feira (12), que as provisões para Alagoas encerraram março em R$ 7,1 bilhões, sendo R$ 4 bilhões reservados para o curto prazo e R$ 3,1 bilhões na conta de passivo não circulante.

A Braskem afirmou, ainda, que novos desdobramentos podem acontecer e, com isso, o saldo de provisões terá de ser alterado ao longo deste ano, se necessário. Por ora, a empresa se mostra confortável. 

Braskem segue firme no controle do endividamento

Deixando de lado a Braskem Idesa, empresa criada em 2010 na qual a petroquímica tem participação de 75%, a dívida bruta da Braskem encerrou março em US$ 6,56 bilhões, número 11% menor do que no mesmo período do ano passado.

Ao mesmo tempo, as disponibilidades da empresa, também desconsiderando a Idesa e saldo para Alagoas, caíram 26%, para R$ 1,83 bilhão. Por isso, a dívida líquida pouco mudou.

A boa notícia é que o Ebitda do acumulado de 12 meses continua sustentando a alavancagem da petroquímica.

Colocando o bond híbrido (tem que 50% de equity) na conta, a relação entre dívida líquida e o Ebitda da empresa ficou em apenas 1 vez no primeiro trimestre, caindo 44% em relação ao mesmo trimestre de 2021.  

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A depender do momento do ciclo da empresa, o teto é uma alavancagem financeira de 2,5 vezes. Ou ainda levemente maior, caso haja um plano concreto de desalavancagem após o período de investimento.

Por se tratar de uma empresa cíclica, é essencial que a Braskem mantenha o endividamento nas rédeas para, em períodos de baixa do ciclo, os compromissos financeiros não destruírem valor. Inclusive, a estratégia da Braskem, de acordo com a empresa, passa por três pilares:

  • Manter a dívida equacionada;
  • Ter avenidas de crescimento (como diversificação do perfil de matéria-prima e fornecedores, para tirar a volatilidade do balanço;
  • Entregar valor aos acionistas (seja pelo equity ou dividendos). 

Neste mês, a empresa pagou R$ 1,35 bilhão em dividendos referentes ao exercício do ano passado, que somados aos R$ 6 bilhões pagos em antecipação em dezembro de 2021, totalizam R$ 7,35 bilhões, equivalente a 77,5% do lucro líquido ajustado do ano passado.

Novo mercado

Na teleconferência desta quinta, a Braskem informou que entregou à Petrobras (PETR4) e Novonor (antiga Odebrecht) um plano para a migração das ações para o Novo Mercado, mais alto nível de governança corporativa da Bolsa brasileira.

Os acionistas já demonstraram interesse na venda das participações acionárias, porém a migração de nível acontecerá somente se as ações preferenciais forem vendidas, por exigência da B3. 

Há um esboço de novo estatuto, com a nova configuração da Braskem, mas um novo acordo de acionistas também deverá ser formulado.

A operação é amplamente acompanhada pelo mercado, pois se traduziria em um destravamento de valor com melhora na governança corporativa. A Braskem, entretanto, diz que não há uma previsão para que saia do papel. 

Vale a pena investir?

As perspectivas de curto prazo para a Braskem no Brasil são mais negativas do que positivas. 

A empresa espera queda na produção de eteno por conta da parada de uma central petroquímica no país, além da redução de alguns spreads. 

Nos Estados Unidos, a produção de polipropileno (PP) também deve diminuir por conta de uma parada programada, enquanto na Europa e no México o cenário é mais positivo. 

Contudo, a empresa pavimenta de forma sólida os pilares de 2022 para frente, como intensificar ações de reciclagem e atuação com energias renováveis, mitigar ainda mais os problemas relacionados a Alagoas e manter o grau de investimento.  

Os múltiplos da empresa estão em menor patamar que seus pares globais, o que pode configurar uma oportunidade de investimento – como concordam os analistas consultados pela Refinitiv

A provedora de dados do mercado financeiro mostra, segundo a plataforma TradeMap, que há oito recomendações referentes às ações BRKM5. São seis de compra e duas de manutenção das ações. 

Ninguém entende que é um bom momento para vender os papéis da petroquímica – na verdade, a mediana de preços-alvo para o papel é de R$ 60, o que representa um valor quase 50% maior que o preço atual da ação. 

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

A forte melhora operacional da companhia, com a resolução da maior parte dos problemas em Alagoas e a melhora de preços no cenário petroquímico global – a despeito do petróleo –, impulsionaram as ações ao longo de 2021. Neste ano, os papéis sofrem como quase todo o restante do mercado. 

Por volta das 14h30 desta quinta-feira, as ações da Braskem caíam 1,30%, para R$ 40,29, após terem iniciado a sessão com alta de quase 2%. A empresa vale R$ 31,82 bilhões na B3.

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