Com queda de 47% em outubro, ações da Méliuz (CASH3) perdem fôlego no ano: o que esperar daqui para frente?

Cenário macroeconômico e redução da velocidade na adesão de clientes e no engajamento de usuários ativos têm pesado no curto prazo

Foto: Méliuz / Divulgação

Foto: Divulgação

Empresa de tecnologia criada em 2011, a Méliuz tem grande parte de sua receita, cerca de 88%, advinda de cashback (sistema que possibilita ao cliente recuperar parte do dinheiro investido na compra de um produto ou serviço).

A companhia, que entrou na Bolsa há um ano, vem se diversificando, contudo, com a entrada no mercado de soluções financeiras, com serviços como o cartão Méliuz, o Méliuz Nota Fiscal e o Méliuz Renda Extra.

Essa diversificação, aliada ao crescimento na adesão de clientes, se refletiu positivamente em seu resultado do primeiro semestre e sobre o preço de suas ações. Os papéis da companhia chegaram a subir mais de 600% da abertura de capital até a máxima de R$ 71,90, em 23 de julho deste ano (antes de uma decisão de desdobramento), e ainda acumulam alta de 16,55% neste ano.

No entanto, nos últimos meses, a situação parece ter piorado, com a forte queda dos papéis. Apenas em outubro, as ações despencaram 47,37%, para R$ 3,31. O que está por trás desse desempenho? Será que o passado glorioso vai ficar para trás? Acompanhe nosso relatório para saber mais da empresa e entender as perspectivas para ela!

Histórico

A Méliuz abriu o capital em 4 de novembro de 2020, ao preço de R$ 10 por ação. Em setembro de 2021, a empresa desdobrou as ações, isto é, dividiu os papéis existentes, sem alterar o valor do investimento, em uma operação também conhecida como “split”.

Com o desdobramento, a companhia aumenta a quantidade de ações, porém mantém o capital socialinal terado. O acionista passa a deter uma quantidade maior de papéis a um preço menor, mantendo o valor financeiro investido.

As ações passaram a serem negociadas ex-desdobramento a partir de 9 de setembro de 2021, na proporção de um para seis, e seu preço unitário caiu de R$ 35,40 para R$ 5,47.

Os papéis da empresa logo refletiram o desdobramento, com as ações subindo para R$ 7,73 em 15 de setembro. No entanto, a euforia logo perdeu ímpeto, com os papéis fechando outubro cotados a R$ 3,31, como é possível observar no gráfico a seguir:

Foto: Méliuz/Cotação

Fonte: TradeMap

Apesar da baixa, quando observamos as recomendações de mercado, grande parte das casas de análise ainda indica o posicionamento no papel.

Entre as recomendações do consenso da Refinitiv, cinco de oito instituições financeiras sugerem a compra das ações da Méliuz, ante três indicações de manutenção. A mediana de preço-alvo para a companhia é de R$ 9,00 por ação, com potencial de alta de 171,9% em relação ao preço de 29 de outubro.

O que tem pressionado as ações da Méliuz?

Atribuímos a maior parte da queda dos papéis da empresa ao cenário macroeconômico mais negativo e a uma redução da velocidade na adesão de clientes e no engajamento de usuários ativos.

A companhia vem elevando seu faturamento, apesar de uma desaceleração no terceiro trimestre, sinalizada em prévia operacional.

Grande parte das empresas de tecnologia e também aquelas consideradas de growth (crescimento) tem apresentado queda em suas ações neste ano, por conta do aumento na perspectiva de elevações da taxa de juros. Essas companhias necessitam de fortes investimentos para manter o negócio e o acelerado ritmo de crescimento.

A Méliuz se encaixa nas duas categorias, tanto por ser uma empresa de tecnologia quanto por estar em forte expansão.

Além disso, a brasileira está inserida em duas divisões que vem sofrendo com uma concorrência intensiva, como é o caso do setor financeiro e do e-commerce. A expansão da companhia é muito dependente de fatores externos, como parceria com clientes, expansão do e-commerce e de condições macroeconômicas, que andam mais fragilizadas sob o ponto de vista fiscal.

Outro ponto de bastante atenção na parte econômica e que vem afetando as ações da Méliuz diz respeito à inflação, com as perspectivas cada vez maiores para o aumento dos juros, com efeito sobre o poder de compra dos consumidores, potencializando a desaceleração no ritmo de crescimento do comércio físico e do virtual.

Acreditamos que grande parte da queda das ações CASH3 está refletindo o cenário macro mais negativo. No entanto, vale abordar algumas questões microeconômicas e também setoriais que podem estar se refletindo negativamente sobre a empresa.

Dependência e concentração de receita

Um dos principais riscos da Méliuz está em sua forte dependência na divisão de cashback. No segundo trimestre de 2021, seu faturamento total teve cerca de 88% concentrado no segmento de cashback − o restante partiu de serviços financeiros.

Outro ponto de atenção, que pode estar pesando sobre o desempenho da companhia em Bolsa, está na desaceleração no terceiro trimestre, sinalizada em prévia operacional, no que diz respeito ao crescimento da quantidade de clientes e usuários ativos. Leia mais aqui.

A quantidade de contas abertas de julho a setembro cresceu 10,6%, na comparação com o segundo trimestre.

O mercado vinha aguardando uma expansão mais robusta, já que a companhia apresentava forte crescimento nos períodos anteriores, com um aumento de 21% do terceiro para o quarto trimestre de 2020 e de 17% nos primeiros três meses deste ano em relação ao período imediatamente anterior.

Foto: Méliuz/Divulgação

Na parte de usuários ativos, a empresa mostrou elevação de 8% do segundo para o terceiro trimestre de 2021.

Segundo a companhia, o crescimento mais comedido dos últimos 12 meses, findos em 30 de setembro, já era esperado, refletindo a estratégia de despriorização do cartão co-branded, em parceria com o Banco Pan, para focar em cartões próprios.

Na comparação com o terceiro trimestre de 2020, o número de usuários ativos cresceu 164%. A análise dos usuários ativos é importante pois mostra o quanto a empresa vem conseguindo engajar e fidelizar os usuários.

Foto: Meliuz/Divulgação

Na parte setorial, o mercado brasileiro vem passando por uma forte concorrência das empresas de e-commerce e de serviços financeiros, o que vem contraindo as margens das companhias.

O ecommerce cresceu fortemente com a pandemia, com um aumento de 41% do faturamento em 2020, segundo dados do estudo Webshoppers (Ebit /Nielsen & Bexs Banco). Mesmo seguindo em alta, as projeções para 2021 apontam para crescimento de 26%, ou seja, com certo arrefecimento.

Previsão de crescimento

Além de parcerias na área de produtos de serviços financeiros, como com a Captalys, a companhia vem fazendo diversas aquisições. Apenas em 2021, foram cinco: Alter Pagamentos (Criptoativos), Melhor Plano (Marketplace), Promobit (site de promoções), Grupo Acesso (Acesso Bank) e Picodi (promoção e cupom de desconto).

Com o crescimento da Méliuz no segmento financeiro e a entrada de bancos digitais no mercado de cashback, podemos comparar a empresa com instituições como Inter e Nubank. A diferença é que o movimento da Méliuz para entrar no setor é o inverso do que os bancos digitais vêm fazendo. A companhia já tem clientes fidelizados e agora busca ingressar em produtos financeiros.

Para aumentar a base de clientes, bancos digitais iniciaram suas operações com taxa zero em seus serviços.

Diante da concorrência e da menor rentabilidade, essas instituições estão entrando no segmento de cashback para tentar aumentar o engajamento e fidelizar clientes.

A Méliuz tem hoje 800 parceiros. Seu volume de vendas (GMV) chegou à máxima histórica de R$ 1,1 bilhão no terceiro trimestre, o que representa um aumento de 26% em relação ao trimestre anterior e de 72% ante o mesmo período do ano passado.

Se consideradas também as outras empresas do grupo, o GMV correspondeu a R$ 1,4 bilhão no consolidado trimestral, sendo R$ 291 milhões da Picodi e R$ 49 milhões, da Promobit.

Nos últimos 12 meses findos em 30 de setembro, o GMV total foi de R$ 4,5 bilhões, sendo R$ 3,8 bilhões referentes à Méliuz, R$ 642 milhões, à Picodi (considera a partir de março), e R$ 81 milhões, à Promobit (considera a partir de maio de 2021).

Quando comparamos com o Inter, por exemplo, que vem investindo pesado em sua divisão do Inter Shop (segmento de cashbach do banco) e que acabou de atingir R$ 946 milhões de GMV no terceiro trimestre, notamos que a Méliuz se destaca. A empresa teve um GMV maior, mesmo considerando apenas as operações sem a entrada de suas aquisições, conforme podemos verificar no gráfico a seguir.

Fotos: Méliuz/Inter

Na conta de clientes ativos, a Méliuz mais uma vez se destaca, apresentando 9,5 milhões nos últimos 12 meses até setembro, ante o Inter, que teve aproximadamente 1,5 milhão de clientes ativos, no mesmo período.

Fotoss: Méliuz/Inter

No entanto, no comparativo de receita, o Inter prevalece. No segundo trimestre, o banco atingiu uma receita em sua operação do Inter Shop de R$ 56 milhões. E no terceiro trimestre, a receita do segmento foi de R$ 62 milhões, um crescimento de 10,7% se comparado ao mesmo período do ano anterior.

Foto: Inter/Divulgação

Na Méliuz, a receita total no segundo trimestre atingiu R$ 54,5 milhões, mais que o dobro em relação a igual intervalo de 2020. Quando comparamos a receita apenas de cashback das duas companhias, são R$ 56 milhões do Inter contra R$ 46,1 milhões da Méliuz. A Méliuz ainda não reportou seu resultado do terceiro trimestre, agendado para o dia 16 de novembro.

Foto: Méliuz/Divulgação

O que esperar daqui para frente?

Consideramos que, no curto prazo, o cenário continuará a ser desafiador para a companhia, haja vista o ambiente macroeconômico ainda bastante incerto. Outro ponto é que a empresa vem priorizando o crescimento em detrimento à sua margem, vide as diversas aquisições que vem fazendo. Além desse ponto, acreditamos que a agressiva concorrência tende a corroer as margens da Méliuz.

Por outro lado, a companhia vem expandindo sua base de cliente e se diversificando, principalmente em serviços financeiros, reduzindo, em parte, o risco de sua dependência com a receita via cashback. Outra oportunidade que enxergamos para a empresa é a continuidade de consolidações, já que o mercado de caschback é bastante fragmentado.

A companhia tem recursos suficientes para continuar com a estratégia de crescimento via aquisição, tendo caixa líquido. Recentemente, a Méliuz captou recursos no valor de R$ 1,1 bilhão por meio de um follow on, sendo cerca de R$ 427,5 milhões para o caixa da Méliuz e o restante, para os acionistas vendedores.

Desta forma, ao fim de setembro, a companhia tinha caixa total aproximado de R$ 620 milhões.

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