Como investir na renda fixa em 2023? Incertezas e juros altos por mais tempo estão no radar

De olho em riscos domésticos e globais, analistas reforçam recomendações em opções mais conservadoras

Foto: Shutterstock/Brian A Jackson

Ela reinou em 2022 e já deixou claro: vai dar as cartas novamente em 2023.

Diante das perspectivas de que o Banco Central vai manter os juros pressionados por mais tempo que o esperado, 2023 deve ser mais uma vez um ano de grande visibilidade para a renda fixa, com foco especial em opções mais conservadoras.

Com a Selic entregando um retorno de quase 1% ao mês, não faz sentido o investidor correr uma dose elevada de risco para garantir um retorno satisfatório.

E o cenário de cautela é sustentado pelos mesmos fatores que provocam a volatilidade do mercado nos últimos meses: falta de clareza com os rumos da política fiscal brasileira e os fortes indícios de desaceleração da economia global.

O estresse dos investidores se reflete nas perspectivas para os juros futuros. Se antes as discussões apontavam para um corte da Selic em meados de 2023, agora a percepção é de que a taxa deve ficar no atual patamar de 13,75% por um período mais prolongado para conter a inflação.

Dados do Boletim Focus, que traduzem o que o mercado espera para os rumos da economia, mostram que a previsão para a Selic deste ano já subiu para 12,25% ao ano. Para 2024, a projeção para os juros também aumentou e corresponde hoje a 9,25%.

Nesse contexto, para quem mira o médio e o curto prazo, as recomendações são por opções pós-fixadas, com rendimentos atrelados à taxa Selic ou ao CDI, que acompanha a variação dos juros.

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Papéis prefixados, que tendem a sofrer mais com o cenário incerto, devem ter uma participação menor no portfólio, lembrando que o investidor precisa “ter estômago” para aguentar a volatilidade, assim como pode ocorrer com opções com retornos indexados ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

No longo prazo, porém, as alternativas que embutem maior risco ganham visibilidade por oferecem taxas consideradas bastante atrativas. Até esta sexta-feira (13), o prêmio prefixado do Tesouro Direto chegava a 12,42%, enquanto o de papéis de inflação bateu os 6,17% ao ano.

“Tudo passa por dois momentos: em horizontes mais curtos, prefixados e papéis de inflação são mais perigosos, podem ter períodos de queda, o que gera um desconforto. Mas para quem mira prazos mais longos, eles fazem sentido”, afirma Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo.

Na incerteza, aposte na Selic

Além do risco brasileiro, Renato Lázaro Ramos, diretor de renda fixa da gestora Empírica, destaca o impacto que o cenário global tem nas taxas domésticas.

Também tendo que domar a inflação, o Fed (sigla do banco central americano) está num processo de elevação dos juros, que passaram de 0% a 0,25%, em janeiro, para a banda de 4,25% e 4,50% ao fim de 2022, o maior movimento em 15 anos.

Apesar de sinalizar a desaceleração da alta nos próximos meses, a autoridade monetária americana afirmou que deve encerrar a luta com os juros em 5,1%, ou seja, não haverá movimento para trás até 2024.

A soma do quadro doméstico ao internacional joga luz às opções mais conservadoras da renda fixa. Nos títulos públicos, a categoria é representada pelo Tesouro Selic, que acompanha a variação diária dos juros e possui liquidez diária.

“Os pós-fixados têm melhores relações de risco e retorno. Com a Selic parada em 13,75%, o juro real [descontada a inflação] é muito bom, e o investidor fica menos exposto às oscilações que devemos enfrentar ao longo do ano que vem”, destaca Costa.

Como forma de diversificação, investidores também podem buscar opções pós-fixadas na renda fixa privada. Nesse caso, o ideal é buscar um título que esteja indexado ao CDI, que segue de perto a variação da taxa de juros oficial do Banco Central.

Gabriel Romanini, assessor de investimentos da SVN, aponta opções de debêntures de empresas consolidadas no mercado, principalmente de grande porte, como JBS, Marfrig e CSN. Outras alternativas são os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), que são papéis isentos de Imposto de Renda.

Na mesma linha, Costa indica os títulos “CDI+”, ou seja, que pagam a variação da Selic acrescida de uma taxa de retorno. “Como é pouco provável que o Banco Central corte os juros mais cedo, os títulos CDI+ ganham a preferência”, pontua, sem mencionar um papel em específico.

Prefixados e IPCA+ para prazos mais longos

Para opções com rendimentos prefixados a recomendação é de cautela. Nesse caso, a taxa de juros é contratada no momento da compra, ou seja, o retorno anual fica travado desde que o investidor leve a opção até o seu vencimento.

Em novembro passado, as taxas dos papéis prefixados do Tesouro Direto passaram de 14%, algo não visto desde 2018. Apesar de ainda estarem bastante atrativas, novos estresses não estão descartados, o que significa que os prêmios podem subir ainda mais, e que o investidor pode ter a rentabilidade prejudicada pelo movimento chamado de “marcação a mercado”.

“É fácil falar que uma taxa de 13,5% é boa, mas não se pode esquecer que o núcleo da inflação ainda está longe de 10%. A inflação caiu por causa de cortes nos preços de combustíveis e energia, mas ainda está alta, apesar de cair de forma devagar”, ressalta Ramos, da Empírica.

Com o mesmo diagnóstico, Costa, da Monte Bravo, afirma que opções prefixadas são mais atrativas quem olha no longo prazo, com foco em vencimentos para além de 2027.

A mesma lógica pode ser aplicada aos títulos indexados à inflação. O retorno dos títulos do Tesouro IPCA+ é formado por uma taxa prefixada e por outra indexada à variação da inflação.

Quando a taxa do papel sobe, os preços dos títulos emitidos no mercado caem, mas o investidor só vai ter o prejuízo se vender os títulos antes do vencimento.

“Se for pensar em títulos públicos que rendem o IPCA mais 6%, é uma oportunidade boa para aplicações em títulos mais longos”, diz. “É uma taxa excelente”, ressalta Ramos, da Empírica.

Até esta sexta-feira, Tesouro Direto oferecia indexados à inflação com taxas de 6,04% e vencimento em 2035. Para opções de prazo em 2045, os prêmios chegam a 6,17%, enquanto o papel de 2055 paga 6,12%.

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