Copom deixa porta aberta para nova alta de 0,25 ponto na Selic em setembro

Sinalização de fim de ciclo deve trazer alívio para mercados

Silvia Rosa

Silvia Rosa

Foto: Agência Brasil

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) surpreendeu aqueles que esperavam o fim do atual ciclo de aperto monetário e, ao subir nesta quarta-feira (3) a taxa básica de juros em 0,50 ponto, a 13,75% (voltando ao patamar de novembro de 2016), afirmou que avaliará uma nova alta, em menor grau, em setembro.

Apesar de o colegiado ter deixado a porta aberta para seguir com o aumento de juros, parte dos economistas acreditava que o BC seria ainda mais duro com a inflação, sinalizando a chance de seguir com o ritmo atual de alta da Selic.

Para esses especialistas, o comunicado do BC foi dovish (ou, na linguagem da política monetária, menos inclinado ao aperto monetário), sinalizando que no mês que vem termina a atual etapa de elevação da Selic, que começou em março de 2021, quando os juros estavam em 2% ao ano.

“Antes do comunicado eu tinha a impressão de que o Copom poderia estender o ciclo além de setembro, subindo juros também em outubro”, afirma Luis Menon, economista da Garde Asset Management. “Mas a comunicação deixou claro que o BC antevê a necessidade de no máximo um ajuste residual. Não deixou a porta nem aberta, deixou entreaberta.”

Ele se refere ao fato de o comitê ter dito, no comunicado, que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”. “Nos outros comunicados, o Copom falava que antevia novos ajustes. Agora, indicou que vai avaliar. É uma comunicação diferente”, diz Menon.

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De qualquer forma, Menon acredita que o BC precisará aumentar os juros em 0,25 ponto no próximo encontro do Copom, já que as expectativas para a inflação de 2023 estão acima do teto da meta para o IPCA do ano que vem, que é de 3,25%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Apesar de achar que o BC veio com um tom mais hawkish (mais inclinado ao aumento de juros) ao sinalizar a possibilidade de um ajuste residual, a sócia e economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, acredita que o BC também tem a possibilidade de não fazer nada e encerrar o ciclo de alta de juros com a Selic a 13,75% na próxima reunião.

“Esse, inclusive, é meu cenário”, diz. Para ela, isso seria possível em função da queda do preço das commodities em reais, que permitiu com que a Petrobras anunciasse dois cortes dos preços dos combustíveis no mês passado. Essa redução, avalia, deve ter impacto na inflação se a taxa de câmbio continuar comportada, apesar dos preços de serviços seguirem pressionados.

Esse processo de queda mais significativa da inflação só deve acontecer, segundo a economista da Armor, em 2024.

Nesse cenário, à medida que as projeções de inflação para 2024 vão sendo incorporadas no horizonte de política monetária pelo BC, a autoridade monetária teria espaço para começar a cortar a taxa de juros, o que, no cenário da gestora, só deve ocorrer no meio do ano que vem. A Armor projeta uma taxa Selic de 11% para o fim de 2023, e uma inflação de 5,5%.

2024 entra em cena

Para Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas, o BC fez uma espécie de “malabarismo” ao incluir projeções para a inflação de 2024 no seu cenário principal.

No comunicado, o Copom indicou que consideraria o IPCA acumulado entre março de 2023 e março de 2024 para suavizar o impacto da volta da cobrança do PIS/Cofins sobre combustíveis, que foi zerado até o fim de 2022, sobre a inflação no início do ano que vem.

Nesse período específico, a inflação avançaria 3,5%, segundo projeção do colegiado.

“Usualmente, o Copom fala de ano fechado, mas dessa vez, como teve um componente diferente, que são os impostos de combustíveis, passou a avaliar entre março de 2023 e março de 2024”, apontou Chermont. “Considerou uma alta de 3,5%, mas, mesmo assim, está acima da meta de 2024, que é de 3%.”

Segundo o economista, o comitê será forçado a elevar os juros em mais 0,25 ponto em setembro porque o mais provável é que as expectativas para o aumento de preços em 2024 continuem subindo.

De acordo com Alessandra Ribeiro, sócia e diretora da área de macroeconomia e análise setorial da Tendências, mais um aumento de 0,25 ponto “está bem no jogo”. A consultoria espera uma inflação de 5% no fim de 2023, devendo ficar acima da meta no primeiro trimestre de 2024.

No cenário de referência do BC, que já incorpora as medidas tributárias anunciadas recentemente com a PEC dos Benefícios, as projeções de inflação situam-se em 6,8% para 2022 e 4,6% para 2023, acima do centro da meta de 3,5% para 2022 e de 3,25% para 2023.

Para a economista, um espaço para corte de juros só viria a partir de junho de 2023, com a taxa Selic devendo encerrar o ano que vem em 10,75%, na projeção da consultoria, que vê riscos para a inflação tanto no cenário externo, com juros mais altos pressionando o câmbio, quanto interno, com a deterioração da política fiscal.

Sinal de fim de ciclo deve trazer alívio para mercados

A sinalização do BC de que o ciclo de aperto monetário está próximo do fim deve trazer um alívio para a Bolsa e limitar uma alta maior das taxas de juros futuros. “Ainda que tenha um risco de vir mais uma alta, o BC sinalizou que se houver, deve ser a última”, diz Damico, da Armor.

As taxas dos contratos futuros de juros já refletiam, de acordo com Damico, uma alta de 0,19 ponto na próxima reunião do Copom, em setembro. “A possibilidade de extensão do ciclo já estava no preço e acho que as taxas não devem mexer tanto, podendo até cair”.

 

 

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