Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

O dilema do BC: parar de subir os juros ou continuar? Entenda o que está em jogo no Copom

Analistas do Boletim Focus acreditam em Selic em 13,75% no final do ano, mas parte do mercado aposta que o Copom deixará a porta aberta

Foto: Agência Brasil

Há um ano e meio, o Banco Central deu início ao maior choque nos juros brasileiros desde 1999, quando, em meio à crise cambial, elevou a taxa básica em 20 pontos percentuais em uma só tacada, em uma única reunião.

Desta vez, para combater uma inflação que não deu trégua com a pandemia e a guerra da Ucrânia, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) foi elevando a Selic de 2% ao ano, o piso histórico em que a taxa se encontrava em março de 2021, aos atuais 13,25% ao ano. De quebra, ainda sinalizou que haverá uma nova alta da taxa no encontro desta semana, que termina amanhã (3).

O mercado não duvida que esse aumento será de 0,50 ponto percentual, e a maior parte dos analistas acredita que esse seja o último movimento de política monetária do BC em 2022, o que faria os juros básicos encerrarem o ano em 13,75% ao ano.

Essa aposta majoritária, construída a partir da avaliação de que haverá desaceleração da economia neste segundo semestre e que é necessário esperar para ver o longo período de aperto fazer efeito de fato sobre a atividade, foi confirmada pelo Boletim Focus desta segunda-feira (1º). O documento mostrou, por outro lado, que analistas preveem uma Selic mais alta por mais tempo em 2023.

Ainda assim, parte dos economistas acredita que o comitê não poderá se dar ao luxo de cravar o final do ciclo de alta dos juros, e que ou indicará novos aumentos na taxa ou deixará a porta aberta para movimentos adicionais em setembro e talvez até em outubro.

O argumento é que o cenário fiscal do país piora cada vez mais diante da elevação dos gastos com o Auxílio Brasil e outros benefícios. Isso, segundo o Focus, coloca as projeções de inflação do ano que vem em 5,33%, acima do teto da meta para o período, de 4,75%.

É por isso que, mais do que na decisão em si, os olhos estarão voltados para o comunicado que acompanha a decisão, que será divulgada a partir das 18h30.

“É amplamente esperado que o Banco Central empurre a meta da taxa Selic de 13,25% ao ano para 13,75% ao ano”, aponta o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman. “Por isso, a não ser que o BC decida nos surpreender a todos, uma possibilidade remota, o resultado do encontro não será o ponto principal. Em vez disso, os analistas estarão escrutinizando cada palavra colocada pelos membros do comitê, em busca de dicas para os próximos movimentos.”

Na avaliação do economista, o mais provável é que o Copom precise aumentar a taxa mais uma ou duas vezes em 0,25 ponto percentual, o que levaria a Selic a 14% ou mais.

Leia mais: 
Mercado já aposta em Selic acima de 14%; até onde vai a alta dos juros?

Para a equipe de macroeconomia do Itaú Unibanco, o colegiado do Banco Central provavelmente sinalizará o encerramento do ciclo, mas deixará a porta aberta para uma eventual alta final no mês que vem, “em caso de deterioração adicional do cenário de inflação ou das expectativas de mercado.”

Em relatório, o banco afirmou acreditar que a autoridade monetária também indicará que um eventual novo aumento na taxa teria um ritmo menor, de 0,25 ponto percentual. “Destacamos que as incertezas para as projeções de inflação, sobretudo de curto prazo, estão maiores que o usual, em meio a medidas recentemente adotadas de redução de impostos.”

Neste ano, juntamente com a aprovação da queda das alíquotas para o ICMS de combustíveis, energia e telecomunicações – medida que deve provocar uma deflação em julho e talvez também em agosto – o governo zerou o PIS/Cofins de combustíveis. A medida, entretanto, deve ser revertida em 2023, o que terá impacto na inflação do ano que vem.

Por outro lado, o aumento agressivo de juros no mundo – na semana passada, o Federal Reserve, o banco central americano, voltou a subir a taxa básica americana em 0,75 ponto percentual – deve refrear a atividade econômica global e reduzir as pressões inflacionárias.

“Em comunicação recente, alguns membros do comitê destacaram que a sincronia da retirada de
estímulos em âmbito global favorece o processo de desinflação, possivelmente com impacto maior para emergentes”, ponderaram os economistas do Itaú.

Incerteza maior que a usual

Para o economista Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander, o Copom poderá sinalizar um novo aumento no comunicado. “Na nossa visão, a evolução adversa do cenário para a inflação desde o último Copom, em um contexto de incerteza maior que o usual, poderia impedir o Banco Central de se comprometer com o final do ciclo nesse estágio.”

Ele cita a aprovação de novas rodadas de estímulo fiscal, o mercado de trabalho mais aquecido, com a taxa de desemprego voltando a cair em junho, e aumento nas expectativas para o IPCA de 2023. “No nosso cenário, continuamos a esperar um aumento adicional de 0,50 ponto percentual, provavelmente no encontro de setembro, com a taxa básica atingindo 14,25% ao ano e ficando nesse patamar até o segundo trimestre de 2023.”

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.