Ibovespa cai 0,32% em dia de queda generalizada, impactado por tombo do setor petrolífero

Índice fechou a 98.294, depois de perder os 97 mil pontos ao longo do pregão

Gabriel Bosa

Gabriel Bosa

Foto: Shutterstock

Depois de chegar a ser negociado abaixo dos 97 mil pontos ao longo do pregão, o Ibovespa seguiu a leve recuperação das Bolsas dos Estados Unidos e fechou em queda de 0,32%, aos 98.294 pontos, com R$ 17,54 bilhões em volume negociado.

A queda generalizada dos mercados nesta terça-feira (5) seguiu a divulgação de dados econômicos negativos na Europa, dando fôlego aos temores de desaceleração na economia global. Além das Bolsas, o petróleo e o câmbio também foram fortemente impactados.

Com a baixa de hoje, o Ibovespa agora soma perdas de 0,25% no mês de julho. Desde o início do ano, a desvalorização acumulada é de 6,23%.

Na Europa, fonte das notícias negativas do dia, o índice Euro Stoxx 50 fechou em baixa de 2,68%. Em Wall Street, as Bolsas tiveram recuperação moderada ao longo da tarde. O S&P 500 fechou em alta de 0,16%, o Dow Jones caiu 0,42% e o Nasdaq teve ganhos de 1,75%.

A PEC polêmica

Além de Nova York, outro evento que ajudou a amenizar as quedas do mercado brasileiro foi a afirmação do relator da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Combustíveis na Câmara dos Deputados, Danilo Fortes, de que irá manter o texto aprovado pelo Senado.

Ontem, tanto os juros futuros quanto o dólar foram pressionados pelas falas de Fortes sobre a possível inclusão de um auxílio a motoristas de aplicativo, o que elevaria os gastos para até R$ 50 bilhões, e a exclusão do estado de emergência do texto.

Em dados econômicos, a produção industrial, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cresceu 0,3% em maio na comparação com abril. A expectativa do mercado era de um avanço de 0,5%, segundo analistas ouvidos pela Broadcast.

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Os dados mostraram que maio foi o quarto mês consecutivo de crescimento na produção industrial brasileira, embora esteja no menor patamar do final do ano passado.

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O principal motivo por trás da queda das Bolsas foi a divulgação dos PMIs da Zona do Euro.

Os dados apontaram que o índice sobre a atividade do setor privado europeu caiu para 52 pontos em junho, de 54,8 pontos em maio. A leitura, superior a 50 pontos, ainda aponta expansão da atividade, mas, segundo Chris Williamson, economista-chefe para empresas na S&P Global, sugere que a economia da Europa pode encolher no terceiro trimestre.

Segundo o economista, os números sugerem que o crescimento da economia europeia pode desacelerar para 0,2% no segundo trimestre, e que nos meses à frente o desempenho pode piorar, visto que as empresas reportaram queda nas novas encomendas e nas expectativas de negócios.

O principal temor, explicam analistas da Genial Investimentos, em comentários ao mercado, é que, com a economia em risco de entrar em recessão, o Banco Central Europeu pegue mais leve nos aumentos da taxa de juros. Neste contexto, o euro caiu para uma mínima de 20 anos em relação ao dólar.

A moeda americana também tem forte valorização ante o real e fechou em alta de 5,35%, a R$ 5,40.

Commodities não dão trégua

Outro efeito dos riscos de recessão global foi a queda nos preços do petróleo, com o Brent fechando em baixa de 9,45%, a US$ 102,77 por barril. Com isso, as ações de petroleiras brasileiras dominaram a lista de maiores quedas do Ibovespa.

A maior baixa do dia foi de 3R Petroleum (RRRP3), de 7,44%, seguida de PetroRio (PRIO3), com queda de 7,11%; Petrobras ON (PETR3), que recuou 4,27%; e Petrobras PN (PETR4), com perdas de 3,81%.

O minério de ferro, por sua vez, teve alta de 1,37% na Bolsa de Dalian, a US$ 110,76 por tonelada, seguindo o PMI de serviços da China. O índice em 54,5 confirma a expansão da economia chinesa. Além disso, a commodity foi ajudada por notícias de que um grupo de siderúrgicas do país que está tomando medidas para estabilizar o mercado.

Apesar da valorização do minério, as siderúrgicas e mineradoras brasileiras tiveram um dia negativo, seguindo as notícias de aumento nos casos de Covid-19 no gigante asiático. Destaque para CSN Mineração (CMIN3) e Gerdau (GGBR4), com perdas de 2,16% e 1,76%, respectivamente.

Ainda na China, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, se reuniram para discutir a remoção de algumas tarifas e sanções comerciais adotadas durante o governo do ex-presidente americano Donald Trump. Caso confirmada, a remoção poderia trazer alívio para as pressões inflacionárias.

Outros destaques do pregão

Outros papéis que tiveram forte queda foram os de companhias aéreas, com a Gol (GOLL4) caindo 3,1%.

“As aéreas se beneficiariam da queda do petróleo, mas duas variáveis as afetam negativamente: a alta do dólar e a desaceleração. Com a economia mais fraca, as pessoas viajam menos e há menos transporte de cargas”, explica André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos.

As ações da Eletrobras (ELET3; ELET6) caíram 1,17% e 1,63%, respectivamente. A companhia confirmou que irá convocar uma assembleia para eleger seu novo conselho de administração.

Além disso, a Santo Antônio Energia (Saesa), empresa controlada indiretamente pela Eletrobras, divulgou que as empresas CNO, Andrade Gutierrez e Novonor (antiga Odebrecht) entraram com uma ação judicial contra a companhia pedindo o pagamento de R$ 962 milhões. A ação refere-se a uma disputa antiga entre a Saesa e as construtoras que está sendo resolvida num tribunal de arbitragem.

“A notícia pode se tornar negativa para a Eletrobras, controladora de Furnas que, por sua vez, dispõe de mais de 2/3 do controle de Santo Antônio. Em caso de deferimento, valores seriam incorporados ao balanço da Eletrobras, aumentando a sua vantagem”, afirmam analistas da Ativa Investimentos, em comentários ao mercado.

Na direção oposta, as maiores altas do Ibovespa foram de Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3), com valorizações de 11,74%, 11,48% e 9,73%, nesta ordem.

Na visão de Luzbel, a valorização de ações ligadas à economia doméstica, como varejistas e construtoras, deve ser um movimento pontual.

“Com a fuga de investidores pessoa física, temos visto um movimento maior de institucionais e estrangeiros que, pontualmente, montam posições em ativos que sofreram forte desvalorização”, explica o analista. “Acreditamos que essas altas pontuais sejam um movimento liderado por grandes investidores, e não por uma mudança de cenário para essas empresas”, completa.

Cripto

O mercado de criptoativos se segurou no campo positivo nesta terça-feira com a volta dos mercados americanos, confirmando mais uma vez a correlação com a Nasdaq, a bolsa de tecnologia.

O Bitcoin (BTC) manteve a faixa dos US$ 20 mil e voltou a ignorar as pressões internas do universo cripto com o desdobramento do anúncio de empresas bloqueando o acesso de investidores aos ativos.

Por volta de 16h50, o Bitcoin, a maior cripto em capitalização, operava em alta de 0,5% em 24 horas, cotada a US$ 20.389, conforme dados o Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.

As altcoins seguiam o clima positivo. O Ethereum (ETH) subia 2,4%, enquanto a Solana (SOL) valorizava 3,6% e a Cardano (ADA) tinha ganho de 0,3%, de acordo com informações da CoinGecko.

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