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Inflação e falta de insumos tiram fôlego da indústria, que deve sofrer mais no 2º semestre

Para economistas, setor deve sentir aumento nos juros e recessão global no segundo semestre

Foto: Shutterstock

Em um ambiente de inflação elevada, aumento de custos e falhas na cadeia mundial de suprimentos, a produção da indústria brasileira conseguiu avançar 0,3% em maio, a quarta alta consecutive e superior à observada em abril.

Apesar disso, o crescimento veio abaixo do esperado, em um prenúncio das dificuldades que o setor terá que enfrentar no segundo semestre: um ambiente de juros altos no Brasil e possibilidade de recessão global com o aperto monetário em economias de peso, como a americana.

A expectativa do mercado para a produção industrial do mês retrasado era de uma expansão de 0,5%, na avaliação da mediana dos analistas ouvidos pela Broadcast, e ainda maior, de 0,7%, para os especialistas consultados pela Reuters.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, lembra que desde fevereiro a indústria vem crescendo, mas que esse movimento foi insuficiente para compensar o tombo de 1,9% em janeiro. Em 2022, o saldo ainda está negativo, em 0,1%, e o setor ainda está 1,1% abaixo do patamar pré-pandemia.

“Por um lado, há medidas que favorecem a recuperação, com estímulos como liberação do saque do FGTS. Foram injetados estímulos que estão ajudando a economia a se recuperar, mas de forma gradual”, disse. “Os limitadores a um crescimento maior são a inflação alta, que acaba corroendo o poder de compra do trabalhador, e os custos elevados de produção, consequência das quebras nas cadeias mundiais de suprimentos.”

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É a mesma avaliação de André Macedo, gerente da pesquisa industrial mensal do IBGE, que destacou que a melhora no desempenho da indústria nos últimos meses pode estar relacionada às medidas adotadas pelo governo para aumentar a renda da população – além da liberação de recursos do FGTS, a antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas.

“Isso pode estar trazendo algum impacto positivo para o setor industrial, além da evolução no mercado de trabalho com a redução da taxa de desocupação. São fatores que devem ser considerados para entender o comportamento positivo da indústria nesse momento.”.

Macedo destacou, no documento de divulgação da pesquisa, que a indústria segue sofrendo com as quebras na cadeia mundial de suprimentos.

“Ainda permanecem a restrição de acesso das empresas a insumos e componentes para a produção do bem final e o encarecimento dos custos de produção”, afirmou. “Várias plantas industriais prosseguem realizando paralisações, reduções de jornadas de trabalho e concedendo férias coletivas, com a indústria automobilística exemplificando bem essa situação nos últimos meses.”

O que esperar do segundo semestre

Se no primeiro semestre o setor foi beneficiado pela recuperação pós-pandemia e pelas medidas de estímulo do governo à economia, a expectativa é que o impacto da forte alta na taxa básica, a Selic, comece a ser mais sentido na segunda metade do ano.

Além disso, as grandes economias do mundo, como os Estados Unidos e países da zona do euro, estão no caminho de altas agressivas nos juros, o que pode levar a uma recessão global. “Tudo isso sugere um segundo semestre com crescimento leve ou até estagnação”, diz Rostagno.

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Claudia Moreno, economista do C6 Bank, acredita que a partir de julho a indústria deve apresentar retração, com contribuição negativa para o PIB (Produto Interno Bruto).

“Entre os fatores que pesam para esse resultado estão a desorganização das cadeias produtivas globais e o impacto dos juros altos no setor e na atividade econômica como um todo, que devem ser sentidos mais fortemente na segunda metade do ano.”

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