Ibovespa começa a semana em queda, de olho em juros e decisão do Fed

No ano até aqui, porém, o saldo do principal índice da Bolsa de valores brasileira segue sendo de alta, de 2,97%

Foto: Freepik

À espera da decisão sobre juros nos Estados Unidos e prejudicado também por questões domésticas, o Ibovespa passou o dia no vermelho e fechou o pregão desta segunda-feira (24) em baixa de 0,92%, aos 107.937 pontos.

Ao longo do dia, foram R$ 30,7 bilhões em volume negociado. No ano até aqui, o saldo do principal índice da Bolsa de valores brasileira segue sendo de alta de 2,97%.

O risco da decisão do Federal Reserve segue no radar, com o mercado de olho na reunião de quarta-feira. Ainda que esta reunião ainda não deva trazer aumento nas taxas de juros, deve servir como uma preparação para o que está por vir em março e dar mais pistas sobre o tamanho do aperto monetário à frente.

O mercado americano também reage à temporada de balanços do quarto trimestre, com 70% das empresas até agora tendo divulgado resultados abaixo das expectativas, com destaque para Goldman Sachs e Netflix.

As tensões geopolíticas envolvendo Estados Unidos e Rússia também vêm contribuindo para o aumento da aversão ao risco. O temor de um conflito entre Rússia e Ucrânia, que os EUA vêm tentando mediar, tem segurado ainda os preços do petróleo. O Brent fechou em baixa de 1,84%, a US$ 86,27.

A chance de um potencial conflito armado entre a Ucrânia e a Rússia aumentou no fim de semana. Os russos mantêm tropas na fronteira e o Reino Unido divulgou que Moscou pretende instalar um governo pró-Rússia em Kiev. Nesta segunda-feira, os EUA enviaram tropas militares para a região.

As preocupações também culminaram na alta do dólar, que fechou com avanço de 0,88%, a R$ 5,50.

Em Nova York, o Nasdaq fechou em alta de 0,49%, o S&P 500 teve ganhos de 0,28% e o Dow Jones subiu 0,29%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 teve queda de 4,14%.

Cenário doméstico não ajuda

Por aqui, o Orçamento continua sendo um peso. O presidente Jair Bolsonaro vetou somente R$ 3,1 bilhões em despesas previstas para este ano, um terço dos R$ 9 bilhões de corte recomendados pelo Ministério da Economia. O reajuste salarial de R$ 1,7 bilhão aos policiais federais, ponto sensível pelo fato de ser o gatilho para movimentações de outras categorias de servidores por aumento, foi mantido.

A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que pretende reduzir o preço dos combustíveis por meio da diminuição de impostos federais sobre o produto também está no radar. A medida preocupa principalmente por significar uma perda de R$ 50 bilhões em arrecadação pelos cofres públicos. Na visão do UBS-BB Investment Bank, a PEC teria impacto mínimo sobre os preços nas bombas no curto prazo e poderia aumentar a desvalorização do real, consequentemente deixando estes produtos mais caros para o consumidor.

Na frente de dados econômicos, os analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) no Boletim Focus voltaram a subir as apostas para a inflação em 2022. De acordo com dados divulgados nesta segunda, as projeções são de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará o ano em 5,15%. Há uma semana, a expectativa era que o índice oficial de inflação subiria 5,09%.

As projeções da mediana dos especialistas para alta do Produto Interno Bruto (PIB), câmbio e taxa básica de juros no final de 2022 foram mantidas em 0,29%, R$ 5,60 e 11,75%, respectivamente.

Destaques do pregão

No fechamento, as maiores quedas do Ibovespa eram de Magazine Luiza (MGLU3), Banco Inter (BIDI11) e Banco Pan (BPAN4), com perdas de 7,39%, 7,28% e 5,88%, respectivamente. Na ponta oposta, Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), Marfrig (MRFG3) e Braskem (BRKM5) registraram as maiores altas, com avanços de 7,44%, 4,68% e 3,63%.

As empresas de tecnologia tiveram as piores quedas do dia, por serem vistas como as mais vulneráveis ao aumento de juros pelo mundo.

As ações ligadas a commodities também ajudaram a puxar o Ibovespa para baixo, o contrário do ocorrido na semana passada, quando estes papéis impulsionaram os ganhos do índice. “As ações das mineradoras têm movimento de queda, como também as da Petrobras (PETR4), que acompanham a queda do petróleo”, afirma o economista, head de conteúdo e sócio da BRA, Alexsandro Nishimura.

A IRB (IRBR3) fechou em forte queda de 5,39%, mesmo depois de ter reduzido seu prejuízo líquido para R$ 113,8 milhões em novembro, de acordo com os resultados prévios divulgados na manhã de hoje. No acumulado do ano, o resultado foi negativo em R$ 510,4 milhões, quase a metade do resultado alcançado em igual período de 2020, quanto totalizou R$ 1 bilhão.

A Gol (GOLL4) também teve perdas significativas, fechando em queda de 3,75%, depois de informar que fechou um financiamento de até US$ 600 milhões com a Castlelake LP para a aquisição de novas aeronaves Boeing 737 MAX 8. A companhia disse que isto acelerará sua estratégia de possuir metade dos aviões que usa sob arrendamentos financeiros até 2026.

Apesar de a novidade ser positiva, as ações foram pressionadas principalmente por notícias sobre o crescimento praticamente ininterrupto de casos de Covid-19 no Brasil, que pode prejudicar o deslocamento de pessoas em viagens aéreas.

Em dia negativo para o varejo, as ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) dispararam em um movimento de ajuste técnico.

A alta da Marfrig (MRFG3), para Nishimura, é sustentada pelo perfil exportador da companhia. “A alta do dólar poderia beneficiar as ações da empresa, mas isto deveria influenciar o setor como um todo. Observando os players com maior atuação sobre o papel, percebe-se um saldo comprador maior de instituições normalmente ligadas ao fluxo estrangeiro, como Citigroup, UBS, Credit Suisse, Goldman Sachs e JP Morgan”, comenta.

A alta da Braskem (BRKM5) antecede a precificação dos papéis da companhia no follow-on, que será realizada na quinta-feira.

Outro destaque de alta foi Usiminas (USIM5), que subiu 2,4% apesar da queda no preço do minério de ferro. No domingo, o BTG publicou um relatório no qual acredita que o mercado pode estar mal avaliando a empresa. Segundo o banco, há espaço para que os analistas revisem para cima seus números para o Ebitda da empresa em 20% a 30%.

As ações da BB Seguridade (BBSE3) tiveram alta de 1,5% depois de a presidente da controlada Brasilprev, Angela Assis, reiterar planos de buscar novos canais de distribuição para a empresa em entrevista ao Valor Econômico. Os planos incluem, segundo a executiva, aumentar o relacionamento com corretores, ampliar vendas com outros bancos e plataformas e utilizar estratégias de marketing e venda direta. A diversificação é positiva, segundo a Genial Investimentos, pois diminui a dependência do balcão do BB.

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