TradeMap explica: o que o Fed, o BC dos EUA, tem a ver com o mercado brasileiro?

Mercados têm sessão de perdas generalizadas em meio a sinalizações do presidente do Fed de retirada antecipada dos estímulos à atividade dos EUA

Com algumas frases pronunciadas no início da tarde desta terça-feira, 30, o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, derrubou ainda mais as bolsas mundiais, que já estavam em um dia de mau humor com o impacto da nova variante do coronavírus, a Ômicron, sobre a economia.

O chefe da política monetária da maior economia do mundo indicou que o processo de retirada de estímulos à atividade dos EUA (o chamado tapering) pode ser intensificado a partir da próxima reunião do Fomc (comitê de política monetária do Fed), que acontece em 14 e 15 de dezembro.

Powell disse ainda que o banco central dos EUA deixou de encarar a inflação como temporária, indicando que um aumento de juros será necessário. Depois das declarações, os investidores, que vinham acreditando em uma alta de juros mais moderada nos Estados Unidos após a descoberta da variante Ômicron, passaram a apostar com mais convicção nesta elevação a partir de junho do ano que vem.

Para se ter uma ideia, a probabilidade saiu de 58,6%, ontem, para 72,8%, após a fala do presidente do Fed. O mercado também passou a ver maior chance de elevação das taxas a partir de maio de 2022, de 44,6%, ante 34,3% ontem, segundo dados compilados pelo CME Group. Os juros nos EUA estão no patamar entre zero e 0,25% ao ano desde março de 2020, quando a taxa básica americana foi reduzida em meio à pandemia de coronavírus.

Como reação, no Brasil, o Ibovespa caía 2,31% por volta das 15h10, para 100.439 pontos. Nos Estados Unidos, as bolsas também operam no vermelho no último pregão de novembro, com quedas de 1,81% dos índices Nasdaq e Dow Jones e de 1,75% do S&P 500.

Flight to quality

Afinal de contas, por que as decisões sobre juros e estímulos à economia nos EUA acabam tendo tanto impacto no mercado brasileiro?

Para entender isso, é importante saber que, quando os juros sobem em países desenvolvidos, em especial na maior economia do mundo, que é a americana, a tendência é que aconteça um fenômeno batizado de “flight to quality” (quando investidores deixam ativos de maior risco, como os de países emergentes como o Brasil, para buscarem papéis considerados mais seguros).

Como os títulos da dívida pública dos EUA, conhecidos como treasuries, são considerados os ativos mais seguros do mundo, o interesse por eles sobe consideravelmente quando passam a pagar mais ao investidor.

Nessas horas, os investidores comparam os juros e a inflação dos EUA com esses mesmos indicadores para Brasil, calculando o chamado diferencial de juros. A partir dessas informações, avaliam o que vale mais a pena para a alocação de recursos em termos de risco e retorno.

Os estímulos dados pelo Fed à economia, como a compra mensal de títulos, também são observados de perto. Com mais estímulos, há mais liquidez (ou seja, mais dinheiro circulando no mercado). Isso aumenta o apetite a risco, e possibilita que mais recursos sejam aplicados em economias emergentes como a nossa.

Se os estímulos são reduzidos, a tendência é que “sobre” menos dinheiro para países como o Brasil. Na última reunião do Fomc, o colegiado decidiu dar início ao chamado tapering, que é o processo de redução gradual dessas compras, que foram elevadas durante a pandemia de coronavírus.

Em momentos de elevação de juros ou retirada de estímulos, as decisões do Fed tendem a desvalorizar ativos nacionais, como ações negociadas em Bolsa. E os ciclos de aperto monetário nos EUA tendem a elevar os juros futuros no mundo todo, incluindo no Brasil.

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O raciocínio é parecido para o movimento oposto, ou seja, ocasiões em que o Fed reduz os juros americanos. Se a taxa americana cai, ativos mais arriscados mas que oferecem um retorno maior se tornam mais interessantes, o que pode valorizar os preços de papéis de empresas brasileiras.

Juros foram mantidos na última reunião

Na última reunião do Fomc, em 3 de novembro, a taxa básica dos EUA foi mantida no intervalo entre zero e 0,25% ao ano. Analistas acreditam que o Fed vai elevar os juros em meados do ano que vem, mas cada vez mais investidores estão apostando que esse processo de aperto monetário comece antes desse prazo.

A recondução do presidente do Fed para um segundo mandato de quatro anos a partir do ano que vem reforçou essa possibilidade.

Nesta terça, em um momento em que parte do mercado apostava que a variante Ômicron reduziria as chances de uma alta de juros antecipada, Powell apontou para o caminho contrário.

No Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou os juros básicos em 1,5 ponto percentual, para 7,75% ao ano, em outubro. O BC indicou outra alta de igual magnitude na próxima reunião, que acontece no início de dezembro.

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