A poupança registrou um resgate de R$ 11 bilhões em outubro, o maior volume já registrado para o mês. No acumulado do ano, os saques já acumulam R$ 102,1 bilhões, segundo dados do Banco Central. Essa captação líquida negativa no mês passado é fruto de aportes de R$ 302,1 bilhões e resgates e R$ 313,1 bilhões.
Os principais fatores que explicam essa sangria na caderneta são os juros elevados, inflação e o retorno às atividades presenciais após o período mais severo da pandemia da Covid-19. O único mês do ano em que não foi registrado resgate foi em maio.
Com saques contínuos, o estoque da poupança está em R$ 991,8 bilhões, menor valor desde agosto de 2020.
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Um dos motivos dessa fuga da poupança está na taxa básica de juros. Com a Selic em alta desde março de 2021, parte dos poupadores tem buscado alternativas mais rentáveis.
Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano, o que equivale a 1,08% ao mês. Já a caderneta está pagando 0,5% ao mês mais a TR, o que totaliza 0,65%.
Enquanto a poupança perde R$ 102,1 bilhões no ano, os fundos de renda fixa registraram captação líquida positiva de R$ 90,1 bilhões, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Aperto na renda
E se de um lado há os poupadores que buscam alternativas mais rentáveis, há também aqueles que recorrem à poupança para lidar com o aumento dos preços.
Embora a inflação tenha desacelerado, não houve redução de preços em grupos de produtos relevantes para as famílias, como gastos com alimentação e moradia.
A inflação calculada pelo IPCA está em 7,2% no acumulado dos 12 meses encerrados em setembro. Considerando apenas o grupo de alimentos, a alta é de 11,7%.
Outro fator que também contribui para um maior resgate da poupança é a volta das atividades presenciais. Em 2020, com o início da pandemia da Covid-19, as famílias deixaram de gastar com serviços presenciais, como viagens. Naquele ano, a captação da poupança ficou positiva em R$ 166,3 bilhões.
O Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB), feito pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), mostrou uma piora em 2022, passando de 57,2 pontos no final de 2020 para 56 ponto no início deste ano – os dados foram coletados entre janeiro e março.
Esse índice vai de zero a 100 e reflete uma avaliação que vai de ruim a ótima. Quando menor, pior. Entre os temas abordados pelo questionário está a comparação entre renda total e gastos. Nessa pergunta, 34,2% dos respondentes disseram que o orçamento está mais curto e gastam mais do que ganham, um aumento 5,1 pontos porcentuais na comparação com a pesquisa de 2020.
Rentabilidade
O brasileiro que tem recursos aplicados na caderneta de poupança recebe uma remuneração de 6,17% ao ano mais a variação da TR. Ao mês, a rentabilidade da poupança está em 0,65%.
A aplicação, mesmo com rendimentos isentos do Imposto de Renda, tem um retorno abaixo de outras alternativas também consideradas seguras, como o Tesouro Selic 2024, que está pagando a taxa básica (13,75% ao ano) mais 0,0373%.
Se o investidor tiver R$ 1 mil na poupança, receberá R$ 6,50 em rendimentos após um mês. Já em um título do Tesouro Selic, após 30 dias o investidor irá receber R$ 8,37, já descontando o IR do período.
Quando o resgate é feito em até 180 dias, a alíquota do IR é de 22,5%. Para o prazo entre 181 e 360 dias, cai para 20%. Ainda há duas faixas, 17,5% (361 a 720 dias) e 15% (acima de 721 dias).
Além do diferencial de rendimento, a poupança rende apenas no aniversário. Os depósitos feitos em 7 de outubro só recebem o rendimento se forem sacados a partir do dia 7 de novembro. Antes disso, o rendimento do período será perdido. Já no Tesouro Selic ou em outras opções de renda fixa, o investidor recebe o rendimento proporcional aos dias em que o dinheiro ficou aplicado.