Número de contas correntes por cliente quase dobra com digitalização; saiba os cuidados a tomar

Em média, empresas e consumidores possuem 4,2 contas; número era de 2,07 em 2016

Foto: Shutterstock

A facilidade para abrir uma conta digital, aliada à restrição de mobilidade por causa da pandemia de coronavírus, fez a quantidade de contas correntes por cliente no Brasil quase dobrar de 2020 para cá. Hoje, em média, empresas e consumidores possuem, cada um, 4,25 contas ativas.

Antes de a infecção se espalhar pelo país, o total era de 2,67, de acordo com dados de março de 2020 do Banco Central. Esse número já vinha em leve crescimento desde 2018 — refletindo a aprovação de abertura de contas de forma remota (essa possibilidade foi aprovada em abril de 2016 pelo Conselho Monetário Nacional) e a entrada de bancos digitais no mercado.

A pandemia da Covid-19 acelerou esse processo.

As estatísticas acima levam em conta o número de relacionamentos informado por cada instituição financeira (contas correntes, de pagamento ou de investimento) ao BC. Cada CPF ou CNPJ pode ter mais de um relacionamento — é importante lembrar que, tradicionalmente, empresas possuem maior número de contas correntes que consumidores.

Mas o que esses números querem dizer na prática? Ter muitas contas correntes é bom ou ruim? A recomendação de especialistas em planejamento financeiro é ficar atento às armadilhas que esse excesso pode embutir.

Lorena Farias, planejadora financeira com certificação CFP da Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro), assinala que o excesso de contas pode levar ao descontrole financeiro e endividamento.

“Ter mais de uma conta corrente não é eficaz em um cenário em que poucos brasileiros têm o domínio de como controlar as suas finanças”, diz.

De forma geral, a recomendação é ter no máximo duas contas de relacionamento. Uma pode ser utilizada para investimentos e outra para o consumidor concentrar as operações do dia a dia (pagamentos, transferências, débito automático).

Excesso de oferta de crédito

Do lado do crédito, o risco é muito maior. Farias lembra que, mesmo com a alta dos juros, a oferta de crédito em diferentes modalidades (crédito pré-aprovado, cartão de crédito, Pix parcelado) tem sido vasta. A taxa Selic está em 11,75% ao ano e em trajetória de alta. Por ser a taxa básica da economia, essa elevação se reflete em todas as linhas de crédito.

“Com todos esses limites, há o risco de se criar uma massa de pessoas endividadas ainda maior”, diz.

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O nível de endividamento em novembro de 2021 (dado mais recente do BC) era de 51,9%. Isso significa dizer que as dívidas representam 51,9% da renda acumulada em 12 meses, uma alta de nove pontos percentuais na comparação com igual mês do ano anterior.

Cautela com cartões nunca é demais

A planejadora financeira também recomenda cautela no número de cartões de crédito, que em sua opinião deveriam ser limitados a dois.

Com mais de um cartão, o cliente tem uma alternativa caso o principal dê algum problema em uma viagem, por exemplo. Também é possível aproveitar os benefícios que cada um dos cartões oferece no momento (cash back, pontuação em programas de viagem e seguro-viagem, por exemplo).

O risco da falta de organização

Já na avaliação de Luciana Godoy, presidente da Superdigital Brasil, o risco de ter múltiplas contas é o cliente não conseguir se organizar da forma mais adequada – mesmo que isso não envolva limites de crédito excessivos.

No caso da Superdigital, não há o risco de endividamento, já que a conta é apenas para pagamentos e o cartão ofertado é um pré-pago. Não estar exposto ao crédito não impede, no entanto, outros problemas por falta de organização.

“O cliente pode cadastrar uma conta para débito automático e não lembrar de fazer a transferência do dinheiro. Sem saldo, o débito não será feito. É preciso ter disciplina para saber onde estarão as contas do dia a dia”, explica a executiva.

Além de orientar o cliente na organização dessas contas, a executiva afirma que há o interesse de fazer com que a conta seja de fato utilizada e, por isso, há o incentivo para o uso das funcionalidades da conta (como o cartão virtual, que pode ser usado em aplicativos como o Uber).

Já para o consumidor, o que deve ser levado em conta são as reais necessidades de uso, para justamente não correr o risco de perder o controle das contas a pagar ou mesmo tomar um volume de crédito acima da real capacidade de pagamento.

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