A B3 (B3SA3) vai lançar um novo serviço para a transferência de custódia, que é quando o investidor quer retirar seus ativos de uma corretora e enviar para outra. A ideia é que o processo seja menos burocrático e mais rápido, possibilitando que a negociação ocorra no mesmo dia que o pedido foi feito.
A estreia da portabilidade automática dos investimentos deve ocorrer no final do semestre.
“A transferência de ativos sempre foi um ponto relevante na relação com o investidor. O mercado financeiro já tinha avançado nessa área, mas no mercado de capitais é ainda muito burocrático”, afirmou Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes da B3, em entrevista à Agência TradeMap.
Esse serviço estará disponível para os produtos de renda variável, como ações, BDRs (Brazilian Depositary Receipts, ou seja, recibo de ações estrangeiras negociadas na B3) , ETFs (fundos de índices) e cotas de fundos imobiliários e Fiagros.
Ainda não há previsão para a entrada no sistema dos demais ativos, como CDBs (Certificados de Depósitos Bancários).
Atualmente, o cliente precisa entrar em contato com a corretora com qual se relaciona e fazer o pedido de transferência dos ativos para uma outra instituição. O prazo estabelecido pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para a finalização dessa operação é de dois dias úteis.
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O método tradicional também envolve o preenchimento de um documento, chamado de STVM (Solicitação de Transferência de Valores Mobiliários), e a validação do usuário por parte da corretora que fará a cessão dos ativos.
“Hoje há mais pessoas com conta em mais de uma corretora. Com esse sistema, ficará mais simples fazer essa transferência de portabilidade.”
Em ambos os casos, o investidor deve ter conta aberta nas duas corretoras. A nova corretora, a que vai receber os seus ativos, é chamada de cessionária. Já a corretora cedente é aquela nos quais estão os ativos antes da migração. Obrigatoriamente, a transferência da portabilidade só ocorre para o mesmo CPF.
Como vai funcionar
No sistema da B3, o cliente irá entrar na Área do Investidor e informar que quer transferir seus ativos da corretora A para a B.
De acordo com Paiva, a transferência da portabilidade será automática, o que possibilitará ao investidor negociar os ativos na instituição escolhida no mesmo dia, como uma transferência bancária.
Esse sistema, no entanto, não é mandatório. Ou seja, a corretora que irá decidir se faz ou não a adesão. A B3 espera que no lançamento do serviço, previsto para a segunda quinzena de junho, entre sete e nove corretoras já tenham feito a adesão.
Essas instituições, de acordo com a B3, representam cerca de 40% do segmento pessoa física. O nome das corretoras dessa primeira fase ainda não foi divulgado. No terceiro trimestre, novas corretoras devem aderir ao sistema, elevando essa fatia para perto de 80%.
Para participar desse sistema, as corretoras precisam fazer desenvolvimentos em seus sistemas internos e, por isso, a adesão de algumas não se dará nessa primeira fase, em especial as que possuem outras prioridades tecnológicas.
Como é uma adesão não obrigatória e que ainda depende desses desenvolvimentos, pode ocorrer que o cliente queira fazer a transferência de ou para uma corretora que ainda não faça parte do serviço. Nesse caso, precisará recorrer ao método tradicional.
O novo sistema foi criado a partir de discussões entre a B3, CVM e as próprias corretoras.
Para os investidores, a transferência automática dá ao investidor uma facilidade maior na escolha da corretora com que deseja trabalhar, com base nos serviços prestados ou custos envolvidos.
5 milhões de contas
A B3 conta atualmente com 4,2 milhões de investidores pessoas físicas, mas o número de contas é de 5 milhões.
Paiva acredita que a trajetória de alta da taxa Selic, que está em 12,75% ao ano, não vai causar um decréscimo nesses números, uma vez que os investidores atualmente têm uma maior consciência sobre a importância da diversificação.
Em momentos de taxa de juros elevadas, instrumentos de renda fixa considerados de menor risco, como títulos do Tesouro Nacional, tendem a chamar mais atenção do investidor em detrimento de opções de maior risco, como ações. Apesar da maior predisposição do investidor em buscar retorno com baixo risco, o executivo acredita que os investidores não irão “zerar” suas posições em renda variável.