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Lula x Bolsonaro: candidatos estão de olho nos mais de 67 milhões de inadimplentes

Veja as propostas dos presidenciáveis para lidar com o aumento do endividamento

Foto: Shutterstock

Os mais de 67 milhões de brasileiros inadimplentes estão no radar dos candidatos à presidência nesse segundo turno das eleições. As propostas divergem em mecanismos que podem ser adotados e na abrangência de medidas, mas os dois lados querem conquistar os eleitores que estão com o nome em listas de restrição de crédito.

Ambos os candidatos já sinalizaram o que irão fazer para agradar esses endividados. Entender o que é possível ser feito é importante porque essas medidas, caso (bem ou mal) implementadas, também podem ter efeitos sobre a economia. Afinal, o crédito é um dos motores do consumo – e um menor contingente de pessoas com acesso a operações de financiamento significa um motor mais fraco.

Uma das propostas é a do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), que anunciou na semana passada uma nova etapa do “Você no Azul”, programa para a renegociação de dívidas que pessoas físicas e empresas tenham com a Caixa Econômica Federal.

A campanha de renegociação vai até o dia 29 de dezembro e a promessa é de descontos que cheguem a até 90%. A Caixa pretende renegociar até R$ 1 bilhão em dívidas.

Segundo o banco público, o foco da campanha está na população de baixa renda, beneficiários do Auxílio Brasil e pequenos empreendedores, o que somaria cerca de 4 milhões de pessoas físicas e quase 400 mil empresas. O valor médio da dívida é de R$ 5 mil.

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Bancárias e não bancárias

Já o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, propôs o “Desenrola Brasil”, que divide os débitos em duas categorias: dívidas não bancárias, como carnê de varejistas e contas de consumo, e as bancárias, que abrangem cartões de crédito, cheque especial e outros financiamentos.

Para esse primeiro grupo, a proposta é que seja criado um fundo garantidor para viabilizar a renegociação das dívidas, segundo material de campanha do petista. Em um fundo garantidor, uma entidade (nesse caso, a União) funciona como avalista da operação, garantindo aquela operação.

Em contrapartida a essa garantia, as empresas que quiserem participar do programa terão que dar descontos na dívida. As empresas que derem os maiores descontos teriam prioridade em participar desse programa.

Para as dívidas bancárias, a proposta do PT é fazer uso dos depósitos compulsórios, que são recursos dos bancos recolhidos pelo Banco Central (BC).

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Sobre os depósitos dos clientes nos bancos (poupança, à vista e a prazo) incide uma alíquota, que é o valor que é recolhido ao BC. Atualmente o compulsório soma mais de R$ 500 bilhões.

O programa não detalha a faixa de renda ou valor das dívidas que serão alvo dessas medidas, mas quando anunciou o apoio ao petista no segundo turno, a presidenciável Simone Tebet (MDB) sugeriu que fosse dada uma solução para o endividamento das famílias que ganham até três salários mínimos.

Motor para o consumo

Fabricio Winter, sócio da consultoria Boanerges & Cia, explica que o estímulo ao crédito alinhado a uma política de controle de inflação pode servir como um motor para a atividade econômica.

Para que esse motor seja forte o suficiente, é importante que o crédito seja ofertado de forma disseminada, o que não ocorre quando há uma parcela grande de inadimplentes no país.

Para o consultor, quando o mal já está feito, ou seja, um consumidor já se tornou inadimplente, é preciso pensar na recuperação desse cliente.

“É mais importante recuperar o consumidor do que o valor final. Por isso que muitas campanhas de renegociação dão descontos”, diz.

Mas para uma campanha em larga escala funcionar, Winter afirma que é preciso trabalhar para manter a economia livre de solavancos.

“Esse consumidor precisa de uma situação em que o mercado de trabalho seja mais estável. Dessa forma, vai conseguir ter uma melhor programação da sua vida financeira e não se endividar novamente”, explica.

E para que isso não ocorra, um programa de redução do endividamento deve estar atrelado a iniciativas de educação financeira, em que o consumidor consiga entender qual a sua real capacidade de pagamento e as melhores alternativas.

Daniel Costa, gerente da Serasa, lembra que o Brasil sempre teve um número elevado de inadimplentes, mas a situação se agravou nos últimos anos e o contingente atingiu o recorde de 67,97 milhões de consumidores.

E outro indicador que mostra a dificuldade com que o brasileiro tem lidado com as dívidas é do BC. O nível de endividamento das famílias chegou a 53,1% em julho, alta de 5,1 pontos percentuais em 12 meses. Esse indicador significa que, da renda bruta das famílias recebida em 12 meses, uma fatia de 53,1% foi destinada ao pagamento de dívidas (não necessariamente são dívidas em atraso).

“Nitidamente as pessoas ficaram sem empregos e foram se endividamento para lidar com necessidades básicas”, diz Costa.

Os dados da Serasa mostram que, em média, os inadimplentes possuem uma dívida de R$ 4.258,25 e o valor médio de cada dívida é de R$ 1.215,19. As dívidas bancárias são as mais relevantes, com uma fatia de 29% do total, mas as contas de serviços básicos, como energia e gás, já respondem por 22% do total de atrasos.

Para lidar com esse problema, a Serasa tem feito feirões de renegociação. Nesse modelo, o endividado pode consultar no sistema da Serasa quais os credores que dão desconto para o pagamento da dívida. No último feirão, as condições de financiamento permitiam parcelamento em até 72 vezes.

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