Com Selic lá em cima, busca por LCIs e LCAs dispara; saiba como escolher bem

Veja quanto letras de crédito com isenção fiscal precisam pagar do CDI para compensar rendimento de CDB

Foto: Shutterstock/rafastockbr

Os papéis de emissão bancária ganham mais espaço na carteira do investidor e essa demanda deve continuar em 2023, em especial quando se fala nas opções com benefício fiscal. Enquanto o estoque de CDBs (certificados de depósitos bancários) cresceu 20,1% no ano passado, as letras de crédito imobiliário e agrícola (LCIs e LCAs) avançaram mais de 70%.

Os juros em patamares elevados, a garantia dada pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos) e as opções com prazo curto de liquidez justificam esse crescimento.

“Esse tipo de renda fixa é resiliente nesse cenário. Enquanto o juro estiver em patamar alto, os papéis bancários vão se beneficiar da demanda por parte dos investidores”, diz Philliph Detweiler de Macedo, gestor de portfólio da G5 Partners.

O estoque de CDBs era de R$ 1,89 trilhão ao final de 2022, e teve um crescimento de 20,1% em 12 meses. Já as LCAs totalizavam R$ 337 bilhões, expansão de 74,6%, e as LCIs chegaram a R$ 239 bilhões, avanço de 69,5%.

As LCIs e LCAs são isentas do Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos.

Todos esses papéis possuem a garantia do FGC até o limite de R$ 250 mil. Isso significa que caso o banco emissor tenha algum problema e não consegui pagar o investidor, o fundo irá cobrir.

Com base nessa cobertura e características do papel, o investidor deve escolher qual a melhor alocação.

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Para Macedo, para os recursos da reserva de emergência ou os que têm a função de caixa, o melhor é deixar em papéis emitidos por bancos de primeira linha, leia-se, grandes bancos.

“Pensando em bancos de primeira linha, a gente acha que é uma alocação para carregar caixa. Não são ativos que têm tanta gordura [rentabilidade] como debêntures ou outros de crédito privado, justamente pela solidez”, diz Phil, lembrando que a remuneração vai mudar de acordo com o segmento do cliente: quando mais varejo, menor o retorno.

LCI e LCA x CDB

Como saber se as LCIs e LCAs compensam em relação a um CDB de mesmo prazo? Antonio Santos, especialista em renda fixa da Veedha Investimentos, afirma que, de forma geral, uma LCI e LCA que pague acima de 85% do CDI já equivale um CDB pagando 100% do CDI.

No TradeMap, é possível consultar as ofertas de LCI e LCAs e, no dia 25 de janeiro, era possível encontrar esses papéis pagando mais de 85% do CDI e com prazos de vencimento relativamente curtos, com aportes a partir de R$ 1 mil.

As LCIs do BTG Pactual com vencimento em dois meses estão pagando 88% do CDI e as do Sicoob, para o mesmo prazo, 87%. Para quem tem um pouco mais de prazo, é possível aplicar nas LCAs do Santander com vencimento em 11 meses e rentabilidade de 93% do CDI, entre as opções disponíveis.

A alíquota do IR da renda fixa varia de acordo com o prazo de investimento e é regressiva. Quando o resgate é feito em até 180 dias, a alíquota é de 22,5%. Para o prazo entre 181 e 360 dias, cai para 20%. Ainda há duas faixas, 17,5% (361 a 720 dias) e 15% (acima de 721 dias).

Como a alíquota é maior nos prazos mais curtos, em tese, as LCIs e LCAs de vencimento em até seis meses podem pagar até menos para compensar os 100% do CDI. Nas contas de Santos, quando o prazo é até seis meses, 78% do CDI já compensa. Entre seis meses e um ano, o cálculo é de 80% do CDI, e acima de dois anos, 85%.

“Vemos uma crescente dos papéis isentos, principalmente dos bancos, devido ao FGC. Esses produtos são mais fortes nos bancos tradicionais, já que conseguem gerar o lastro necessário para as LCIs e LCAs”, diz o especialista da Veedha Investimentos.

As LCIs precisam obrigatoriamente ter lastro no setor imobiliário. O lastro pode ser o pagamento das prestações de um mutuário, o aluguel de um empreendimento. O mesmo ocorre com a LCA, já que os recursos precisam ser destinados a uma operação que vá financiar alguma fase da cadeia do agronegócio.

“A instituição emissora deverá ter um mercado tomador de crédito para esse tipo de operação e vemos que são os grandes bancos que possuem essa penetração. Já para o investidor o que torna atrativo é a isenção de imposto”, explica.

Selic em alta

Santos lembrou ainda que essa demanda por renda fixa de forma geral e, mais especificamente, por papéis bancários, está atrelada ao cenário macroeconômico. Se em 2019 e 2020, com juros baixos, os investidores migraram para a renda variável, em 2022 a renda fixa se fortaleceu com a taxa Selic em 13,75%.

E esse interesse na renda fixa irá continuar ao longo de 2023. O relatório Focus aponta que a taxa Selic irá terminar o ano em 12,50%, ou seja, irá ceder muito pouco e provavelmente esse movimento de afrouxamento monetário começará só no segundo semestre.

Essa migração para a renda fixa, no entanto, não tem sido uniforme. Em 2022, os fundos de renda fixa registraram uma saída líquida de R$ 48,9 bilhões, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Essa “preferência” para os papéis bancários é justificada, em parte, pela isenção que parte deles possui, mas também pela rentabilidade que algumas instituições oferecem. No caso dos CDBs, é possível encontrar no TradeMap CDBs pagando mais de 120% do CDI, embora os prazos de resgate sejam mais longos. E, sendo isento ou não, há a proteção do FGC.

Outro motivo, segundo Macedo, da G5 Partners, é a volatilidade que os fundos de renda fixa sofreram ao longo de 2022, o que assustou parte dos investidores.

A volatilidade se dá quando há uma mudança na taxa de juros de mercado. Quando a Selic sobe, os preços dos papéis emitidos anteriormente com taxas mais baixas caem. Isso é chamado de “marcação a mercado”, em que os fundos precisam atualizar essa “perda” e isso se reflete na cota do fundo.

“Às vezes o investidor pensa que renda fixa não vai perder dinheiro, mas pode ocorrer essa volatilidade ou um caso de inadimplência, como o da Americanas (AMER3). Quando isso ocorre, a rentabilidade fica prejudicada nesse período. Já os papéis bancários não têm essa marcação”, diz, acrescentando ainda a existência de benefício do FGC e, em alguns casos, liquidez diária.

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