O brasileiro tem mais dinheiro aplicado em renda fixa e, no primeiro semestre, o país também ganhou mais alguns milionários. O cliente do varejo tradicional ainda é muito apegado à poupança, enquanto o segmento private passa bem longe da tradicional caderneta – mas também é o público que mais sentiu a volatilidade dos mercados.
Esse é o resumo da distribuição de investimentos no Brasil, segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
O total dos investimentos chegou a R$ 4,6 trilhões em junho, um aumento de 2,8% na comparação com dezembro do ano passado. Esses recursos estão divididos entre contas do varejo tradicional, do varejo de alta renda (em contas como Bradesco Prime, Itaú Personalitté e BB Estilo) e o segmento private (em que os clientes têm pelo menos R$ 3 milhões em aplicações).
Nesse segmento de milionários, que é o menor, o número de contas subiu 2,2%, para 144.823. No entanto, o total investido por esse público, de R$ 1,7 trilhão, caiu 1,7% no semestre.
Para Ademir Correa, presidente do fórum de distribuição da Anbima, essa queda está relacionada à diversificação da carteira desse público. Com mais recursos, eles investem mais no mercado de ações e em fundos de ações e multimercados, que foram os produtos mais atingidos pela volatilidade recente dos mercados.
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Só em ações, esses investidores possuíam em junho R$ 391 bilhões, uma queda de 13,4% na comparação com dezembro. Esse montante equivale a 22,4% do patrimônio do private.
Já o total dos investimentos do segmento varejo e varejo de alta renda cresceu 5,9% e 5,4%, respectivamente, alcançado R$ 1,6 trilhão e R$ 1,3 trilhão.
Correa lembra que esse público, tradicionalmente, investe mais em renda fixa.
E no cenário de juros elevados, com a Selic em 13,25% ao ano e devendo ter nova alta na quarta-feira, o que a Anbima verificou foi o aumento da relevância da renda fixa no total dos investimentos.
A renda fixa atingiu 61,3% do total, ante 57,5% em dezembro de 2021. No mesmo período, a renda variável caiu de 19,5% para 16,7%.
“Vimos um recuo da renda variável com a queda da Bolsa, refletindo Covid-19 e a guerra na Ucrânia. Os investidores optaram por capturar opções mais seguras”, conta.
No varejo tradicional, o principal produto é a renda fixa, seguido pelos CDBs (certificados de depósito bancário). Por sinal, ao considerar as três classes de clientes, o estoque de CDBs ultrapassou a alocação em ações, segundo a Anbima.
Já o cliente do varejo de alta renda tem mais recursos em fundos. No private, a diversificação é maior, mas os fundos de investimento também ficam com a maior parte da alocação – mas aí incluindo os fundos próprios.
Autorregulação
A Anbima está estudando atualizar e padronizar o “suitability“, que é um questionário que as instituições financeiras aplicam para saber quais investimentos são adequados a um determinado tipo de cliente.
De acordo com Correa, essa atualização decorre do período de juros baixos – em março de 2021, a taxa Selic estava em 2% ao ano -, que levou os investidores a procurarem produtos de maior risco para garantir retornos maiores.
“Os clientes buscaram produtos de maior volatilidade e as instituições colocaram tíquetes (valores de aplicação) menores. O que queremos é uma maior transparência para o cliente final”, diz.
Um dos pontos que está em discussão é a adoção de questões padrão por parte das instituições financeiras, além de estabelecer níveis de risco mínimo para cada tipo de produto.
“O investidor brasileiro é mais conservador. Esse cenário recente (pandemia e guerra) o assustou e muitas vezes ele saiu de alguns papéis, quando o recomendado é esperar porque eram investimentos de médio e longo prazo”, explica.
Outra medida em discussão, que também faz parte da agenda de autorregulação da Anbima, é referente à atuação de influencers digitais em canais das instituições financeiras.
Luiz Henrique Carvalho, gerente de representação de distribuição da Anbima, explica que está em estudo a possibilidade de as instituições financeiras verificarem se os influencers contratados seguem as premissas do código de distribuição de produtos.
“Estamos focando nas instituições que utilizam os influenciadores para a oferta de produtos. Tudo ainda está em discussão”, diz, acrescentando que a Anbima não pretende regular diretamente os influencers.