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Temporada de balanços: margens das empresas do Ibovespa devem mostrar recuperação no 3º trimestre

Deflação e aceleração da economia devem favorecer a rentabilidade das companhias

Foto: Shutterstock

Após um primeiro semestre de corrosão de margens para a maior parte dos setores da Bolsa de valores, a rentabilidade das companhias que compõem o Ibovespa deve entrar em rota de recuperação no terceiro trimestre, na visão de analistas consultados pela Agência TradeMap.

Ainda que haja particularidades de cada setor, a tendência geral deve ser de melhora de resultados, avalia Victor Penna, head de equity research do BB Investimentos. Essa recuperação, diz o analista, deve refletir a retomada da economia brasileira, com economistas revisando para cima suas expectativas para o PIB (Produto Interno Bruto) do país neste ano.

Na última edição do Boletim Focus, publicada na segunda-feira (21), os analistas de mercado consultados pelo Banco Central revisaram para cima sua projeção para o desempenho do PIB neste ano e no próximo, passando a esperar avanço de 2,71% e 0,59%, respectivamente.

Outro ponto que deve jogar a favor das companhias neste trimestre, de acordo com Penna, é a deflação registrada entre julho e setembro, que alivia os custos das empresas, além do aumento na capacidade de alguns setores de repassar o aumento de custos para os preços dos produtos.

“Viemos de dois trimestres relativamente fracos, e este trimestre deve ser forte, refletindo a melhora na atividade econômica”, avalia Aline Cardoso, chefe de estratégia de ações do Santander.

“No cenário macroeconômico, a atividade interna está boa, com o desemprego surpreendendo positivamente e a inflação comportada. Então, de uma maneira geral, nossa perspectiva é positiva”, completa Phil Soares, analista da Órama Investimentos.

De acordo com os cálculos do Santander, ponderados por valor de mercado, as empresas do Ibovespa devem registrar, em média, crescimento de 16% na receita, na comparação com o terceiro trimestre do ano passado. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) deve expandir 15%, enquanto o lucro líquido deve subir 18%.

Já Pedro Serra, head de equity research da Ativa Investimentos, é um pouco mais cauteloso em sua análise: “De um modo geral, não espero um trimestre brilhante, mas também não espero nenhum desastre”, diz o analista, afirmando que questões como inflação e alta de juros ainda devem pesar sobre os resultados das empesas.

Os principais destaques desta temporada de balanços, que começa a ganhar tração em novembro, devem vir de duas frentes, na visão dos especialistas: das companhias de petróleo, que deverão dar continuidade a sua sequência de bons resultados, e das empresas voltadas à economia doméstica, que devem começar a mostrar alívio nas pressões sofridas nos trimestres anteriores.

Na ponta negativa, por outro lado, as siderúrgicas e mineradoras devem se destacar, juntamente com as companhias aéreas.

Destaques positivos

Petróleo e gás

Enquanto a maior parte das commodities apresentou arrefecimento de preços na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, uma continua em patamares elevados: o petróleo.

Apesar de enxergar uma redução nos preços do petróleo na comparação com o segundo trimestre deste ano e de ver incertezas em torno da demanda global pela commodity, Ilan Abertman, analista da Ativa, projeta uma demanda sólida e preços suficientes para garantir uma robusta geração de caixa para estas companhias, de acordo com relatório da última quarta-feira (19).

Em relatório também publicado na quarta-feira, o Santander projetou crescimento anual de 45% no Ebitda e de 71% no lucro para o setor.

Papel e celulose

Assim como o petróleo, a celulose também não apresentou desvalorização de preço durante o trimestre.

Na realidade, os preços da commodity subiram no período, o que, combinado com volumes resilientes, com a desvalorização do real e com um maior controle de custos, deve garantir resultados fortes para as empresas do setor, segundo Daniel Sasson, Edgard Pinto de Souza, Marcelo Furlan Palhares e Barbara Soares, analistas do Itaú BBA, em relatório de 7 de outubro.

Varejo

Os setores voltados para a economia interna também devem se destacar neste trimestre, com o varejo se benefiando da PEC dos Benefícios e da desaceleração da inflação, que aumenta a renda disponível dos consumidores.

Dentro do varejo, Victor Penna, do BB-BI, destaca o segmento de supermercados, que teve os resultados pressionados pela inflação de alimentos nos últimos trimestres.

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Outro segmento que pode chamar atenção, na avaliação de Penna, é o de farmácias. Com o prolongamento das temperaturas frias, estas empresas conseguiram vender mais remédios para gripe, o que favorece suas receitas.

Dentro do varejo discricionário, Aline Cardoso, do Santander, destaca as companhias voltadas para o público de alta renda, que vêm entregando resultados fortes trimestre após trimestre – aqui, a analista cita Arezzo (ARZZ3), Grupo Soma (SOMA3) e Vivara (VIVA3) como exemplos.

O cenário, contudo, não é tão positivo para as empresas de e-commerce, como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3), que devem seguir sentindo os impactos da alta taxa de juros, que pressiona seus resultados financeiros e, consequentemente, seu lucro líquido. Isso, na análise de Penna, pode ser capaz de ofuscar uma possível melhora no desempenho operacional.

Além disso, o patamar ainda elevado da inflação prejudica a demanda por bens duráveis, ainda que em menor medida do que nos trimestres anteriores.

“O destaque positivo devem ser as varejistas de alta renda, enquanto as varejistas alimentares e farmácias devem permanecer como as mais resilientes, apesar do crescimento orgânico desacelerar na base trimestral”, escrevem Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday, analistas da XP Investimentos, em relatório publicado na quinta-feira (20).

“Quanto aos destaques negativos, o e-commerce deve permanecer com o crescimento de receita pressionado, enquanto as varejistas de moda de média e baixa renda devem ser impactadas pelo clima, cenário macro e níveis de inadimplência elevados”, completa o time da XP.

Bancos

O setor de bancos também deve se destacar no trimestre, na visão de Cardoso, com um crescimento médio de 20% no lucro. Phil Soares, da Órama, por sua vez, projeta ROE (retorno sobre o patrimônio) entre 18% e 20%, em linha com os trimestres anteriores.

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Ainda que a expectativa seja de desaceleração no crescimento da carteira de crédito, reflexo da maior cautela dos bancos diante do cenário macroeconômico, a expansão da inadimplência também deve ser mais leve neste trimestre. Isso, junto com os spreads em patamares elevados, deve garantir fortes resultados para o setor, avalia Cardoso.

Matheus Amaral, analista do Inter Invest, complementa, em relatório da última quinta-feira, que o maior spread deve ser capaz de compensar o aumento no custo de crédito, com maiores provisões.

Destaques negativos

Siderurgia e mineração

Na contramão das petroleiras, as siderúrgicas e mineradoras devem ter seus resultados pressionados neste trimestre, de acordo com Victor Penna.

“O preço do minério está caindo ano contra ano, e o preço de aços longos e planos também. Isso acaba se refletindo em todas as linhas: a receita fica menor e, com a desalavancagem operacional, a margem e o lucro também caem”, explica Aline Cardoso.

Do lado da mineração, a sazonalidade típica do terceiro trimestre deve implicar maiores volumes de venda – o que deve ser ofuscado pelo preço realizado, refletindo a queda no preço médio do minério de ferro ao longo dos últimos três meses, explica Penna.

No segmento de siderurgia a pressão deve ser ainda maior, pois, além da compressão de preço, os volumes de venda também devem apresentar retração, na avaliação do analista do BB-BI. Estes dois fatores devem compensar o alívio esperado nos custos destas empresas, devido à queda nos preços de combustíveis e carvão.

Aviação

Mais uma vez, as companhias aéreas devem ocupar posição de destaque negativo nesta temporada de balanços, ainda pressionadas pelo aumento dos custos, mais do que compensando a melhora do lado operacional.

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Ainda que a Gol (GOLL4) e a Azul (AZUL4) venham apresentando recuperação na demanda por voos de lazer, corporativos e transporte de cargas, e escalada nos preços dos combustíveis e a valorização do dólar, que aumenta as despesas com leasing (contratos de arrendamento de aeronaves), devem levar as companhias aéreas a reportar prejuízos, de acordo com Penna.

“Se do lado positivo tivemos bons volumes e precificações assertivas de passagens, do lado negativo observamos mais pressão de custos. Os grandes vilões seguem sendo a combinação de dólar alto e querosene de aviação ainda não reajustado”, resume Ygor Araujo, analista da Genial Investimentos, em relatório da última terça-feira (18).

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