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Quer saber se as ações vão subir em 2023? Fique de olho no Fed e no governo

Bolsa dos EUA tende a ter valorização significativa após Fed parar de aumentar juros, mas será que as ações do Brasil também vão reagir assim?

Foto: Shutterstock/Thapana_Studio

Um dos eventos mais aguardados pelo mercado para 2023 é o fim da alta de juros nos Estados Unidos. A perspectiva é de que as taxas parem de subir em meados do ano que vem. Mas como o investidor de ações pode tirar proveito disso?

Um estudo feito pela LPL Financial analisando dados desde a década de 1970 mostra que há um padrão no comportamento do mercado antes e depois de os juros americanos atingirem um pico.

De acordo com os números, o S&P 500 – um dos principais índices acionários dos EUA – tende a cair cerca de 2% nos seis meses que antecedem a chegada dos juros do país ao nível máximo. No entanto, uma vez alcançado esse teto, o índice tende a apresentar forte alta nos 12 meses seguintes – de até 17%, em média.

“Se você levar em conta a perspectiva de que os juros atingirão um pico entre maio e junho, podemos ter um rali de 11% no S&P 500 no segundo semestre”, disseram Adam Turnquist e Marc Zabicki, da LPL Financial, em um relatório.

Uma outra revelação do estudo é que, nos seis meses que antecedem a chegada dos juros ao ponto mais alto, as ações que têm o melhor desempenho são as de empresas com baixo endividamento e alta rentabilidade – conhecidas no mercado como “de valor”.

Depois que os juros param de subir, o cenário muda um pouco.

Nos seis primeiros meses após a pausa nos juros, as empresas “de valor” continuam avançando, mas também é possível notar recuperação das ações de companhias “de crescimento” – com alto potencial de expansão na receita, mas que geralmente são mais endividadas. Depois dessa janela, quem avança com mais rapidez são as ações “de crescimento”, embora as empresas “de valor” continuem em alta também.

E fora dos Estados Unidos?

O cenário mais provável é que, assim como as Bolsas americanas, os mercados de ações de outros países se recuperem a partir do momento em que o Federal Reserve, o Fed, encerrar a alta nos juros, pois isso significaria, dali para frente, uma tendência mais favorável ao crescimento.

Os juros em alta agem como um freio à atividade econômica. Além de encarecerem o crédito, aumentam o incentivo a poupar dinheiro.

Combinados, esses dois fatores coíbem a demanda, mas colaboram para enfraquecer a inflação. E esse, no momento, é o objetivo maior do Fed.

Uma vez que os preços estejam sob controle, porém, o banco central americano pode pensar em relaxar, e esse suspiro de alívio será sentido em vários mercados financeiros, inclusive em emergentes, como o do Brasil.

“É uma peça em dois atos. O que a gente está vendo agora é o final do primeiro ato, que é o processo de aperto, em que a gente vai tentar avaliar o impacto real na economia americana, se vamos entrar ou não em recessão, e qual será a intensidade e a duração dela”, diz Guto Leite, gestor de renda variável da Western Asset, empresa que administra US$ 375 bilhões em ativos.

“Aí entramos no segundo ato, em que a pergunta é sobre qual o espaço do banco central americano para cortar juros”, disse Leite, acrescentando que a partir daí deve haver sinalizações mais fortes de que a batalha da inflação está sendo vencida, que os juros eventualmente vão cair e que haverá espaço para desvalorização do dólar – todas sinalizações positivas para mercados emergentes.

Historicamente, quando o Fed eleva os juros dos EUA, as taxas nos mercados emergentes também tendem a subir também, aumentando a aversão ao risco e prejudicando os preços das ações nas Bolsas destes países, ressalta Chuck Knudsen, especialista em carteiras de mercados emergentes da T. Rowe Price, empresa que administra mais de US$ 1 trilhão em ativos.

“Quando o Fed decidir sair do ciclo de alta será porque está convencido de que a inflação global atingiu um pico e vai cair. Isso permitirá aos bancos centrais de emergentes não só acompanhar essa pausa, mas a diminuir os juros. A economia dos emergentes – e, por extensão, os mercados financeiros – deve se beneficiar disso”, acrescentou.

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O que pode emperrar a recuperação das ações

Vale ressaltar que o atual contexto econômico dos EUA é bastante peculiar, e talvez o comportamento da Bolsa por lá não seja tão previsível desta vez.

Durante a pandemia, foi injetado muito dinheiro na economia americana – seja por meio do Fed ou por auxílios adotados pelo governo do país.

O efeito inflacionário dessas medidas permanece, e se soma à demora na redução dos preços de bens industriais e de commodities.

“Quando o Fed parar de aumentar os juros, os investidores podem ficar surpresos em descobrir que ele estava falando sério quando avisou que os juros poderiam ficar altos por mais tempo mesmo se o cenário econômico for de fraqueza”, disse Steve Bartolini, gestor de carteiras de renda fixa da T. Rowe Price.

Juros altos por mais tempo podem deixar a recuperação do mercado de ações mais lenta, e favorecer o investimento em títulos da dívida americana ou de empresas dos EUA com baixo risco de calote, aponta o gestor.

Segundo Bartolini, esses títulos mais confiáveis oferecem taxas de retorno “competitivas” que proporcionam renda ao investidor sem a necessidade de se expor a dívidas de baixa qualidade ou ao mercado de ações.

“Por isso, achamos que os títulos podem ter um ano forte em 2023, depois de um ano terrível em 2022, mas aconselhamos os investidores a serem seletivos diante de um ambiente de baixo crescimento e juros maiores.”

No Brasil, cenário político será fator preponderante

Por aqui, o que pode azedar o humor dos investidores e impedir uma recuperação mais intensa da Bolsa após o fim da alta de juros nos EUA é o comportamento do próximo governo. Tanto Leite quanto Knudsen ressaltam que o fator político deve pesar muito sobre a trajetória do Ibovespa em 2023.

“Podemos ver juros menores no Brasil no ano que vem, o que deve ajudar a economia, cujo desempenho foi um pouco melhor que o esperado este ano”, disse Knudsen. “Os preços de várias commodities importantes do Brasil [como minério de ferro] aumentaram, o que deve dar impulso extra à economia. E as ações estão razoavelmente baratas, assim como o real”, disse o especialista da T. Rowe Price.

O que pode jogar água no chope do investidor seriam medidas que aumentassem ainda mais o buraco nas contas públicas. “Provavelmente isso vai repelir qualquer um dos outros fatores positivos e pesar muito sobre os mercados.”

Leite, da Western, diz que a gestora está investindo no momento de forma mais defensiva, visto que desde o fim das eleições o clima na Bolsa azedou.

Entre as empresas preferidas estão as que vendem produtos essenciais, como drogarias, empresas farmacêuticas e do setor de varejo alimentar, que tendem a sofrer menos quando a situação da economia piora.

“Não é que a gente tenha zerado posições mais cíclicas. O que a gente está focado é em manter posições que tenham pontos mais específicos, cortar um pouco os cíclicos e aumentar as posições defensivas”, afirmou.

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