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Quais ações ganham – e quais perdem – com juros altos e inflação elevada em 2023?

Os setores imobiliário, varejista e de turismo devem encarar cenário adverso no ano, enquanto bancos e seguradoras podem gerar maiores retornos

Foto: Shutterstock/whiteMocca

Em meio a um cenário macroeconômico adverso, com juros elevados e inflação voltando a níveis mais estáveis, as ações de alguns setores podem se sobressair. Empresas de energia elétrica, bancos e seguradoras podem levar vantagem neste contexto, enquanto as companhias do varejo, turismo e construção terão que “se virar nos 30”.

A expectativa é que os juros se mantenham em patamares elevados em 2023. Hoje, a taxa básica está em 13,75% ao ano, maior nível desde 2017, e a previsão é de que ela termine este ano em 12,75%, segundo o Boletim Focus – relatório do Banco Central que reúne as projeções de especialistas do mercado financeiro.

Em relação à inflação, a expectativa é de que a taxa, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), seja de 5,79% em 2023, mesmo nível observado em 2022.

Juros altos encarecem as dívidas das empresas, o que tende a reduzir a rentabilidade dos negócios. Além disso, também podem reduzir a demanda por produtos de alto valor agregado, como eletrodomésticos e imóveis, penalizando a construção civil e o varejo, por exemplo.

Para as seguradoras e os “bancões”, as taxas mais altas propiciam maiores retornos, mas os bancos devem se atentar a uma possível elevação da taxa de inadimplência em 2023, já que os juros elevados dificultam o pagamento de empréstimos pelos clientes.

Vale ressaltar que existem outros fatores domésticos que podem influenciar o desempenho das companhias e da economia no país, como o valor do salário-mínimo, o nível de desemprego, o pagamento de auxílios sociais, entre outros.

Soma-se a eles a provável desaceleração no crescimento da economia global em 2023, que pode ter um efeito negativo generalizado sobre as empresas.

Neste contexto pouco promissor, as empresas que ofertam serviços e produtos essenciais para o dia a dia da população – e que portanto são menos influenciadas pelo ciclo econômico – podem resistir melhor ao cenário adverso. Não por acaso, são conhecidas como defensivas, agindo como um escudo na carteira dos investidores.

De quais ações o investidor deve fugir em 2023?

Os desafios devem ser maiores para as ações de empresas cujos resultados são altamente sensíveis às oscilações macroeconômicas.

Construção civil

Um dos setores que mais deve sentir os impactos dos juros elevados é o de construção civil.

Companhias desse segmento devem encarar uma redução na demanda durante o período de juros altos, o que deve reduzir os lançamentos e, consequentemente, as receitas das companhias.

Isto porque os imóveis, produtos oferecidos pelas empresas de construção, têm um valor alto, o que obriga a maior parte dos clientes a parcelarem a compra.

Os consumidores, portanto, podem adiar o sonho da casa própria à espera de condições econômicas mais favoráveis, dado que o custo dos juros que incide na parcela é maior quando os juros estão altos.

Diante disso, a estratégia de algumas empresas pode ser queimar o estoque para tentar manter a rentabilidade dos negócios.

No entanto, a redução da oferta de imóveis na planta deve prejudicar o volume geral de vendas (VGV) das companhias, e o retorno para o acionista pode ser comprometido.

A entrada de um governo mais inclinado a aumentar os gastos públicos, por um lado, pode beneficiar incorporadoras que atuam com públicos de baixa e média renda, uma vez que investimentos em programas sociais podem ser maiores.

O crédito mais barato liberado em programas sociais, como Minha Casa, Minha Vida, pode facilitar a compra de imóveis e aquecer a demanda. Empresas como Cury (CURY3), MRV (MRVE3) e Direcional (DIRR3) são exemplos de companhias que podem aproveitar a oportunidade.

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Por outro lado, uma política que preveja aumento do gasto público traz na bagagem um maior risco fiscal. No curto prazo, os principais impactos podem ser juros ainda maiores – ou permanência das taxas em níveis elevados – e valorização do dólar frente ao real, o que levaria a menores receitas e queda na rentabilidade das incorporadoras.

Varejo 

O varejo é altamente sensível a variação macroeconômica.

A inflação encarece os produtos, e os juros altos – a arma para evitar que o quadro inflacionário piore – aumenta o custo dos financiamentos.

Juntos, estes fatores reduzem o poder de compra da população e levam o consumidor a comprar mais itens essenciais – como comida – em detrimento de outros produtos – como roupas, calçados, materiais de construção, entre outros.

Dentre os segmentos, o mais afetado tende ser o de varejistas de móveis e eletrodomésticos como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) – esta última já em situação delicada.

Esta área do varejo é naturalmente alavancada – ou seja, precisa de mais recursos de terceiros para funcionar – por causa da alta necessidade de capital de giro para manter as operações em atividade. Isto porque os consumidores, geralmente, pagam de forma parcelada os produtos adquiridos. Então há saída do estoque, mas o dinheiro não entra de imediato no caixa.

Diante disso, o segmento apanha de dois lados: primeiro, da menor demanda pelos produtos (que reduz as receitas) e em segundo, do aumento das despesas financeiras (que corrói os lucros).

Isso sem contar a elevada concorrência no setor, que pressiona as margens de lucro das empresas, em particular a de varejistas de eletrodomésticos.

Neste contexto, as companhias podem apresentar lucros menores ou até mesmo prejuízos.

O setor de varejo alimentício, no entanto, tende a ser mais resiliente em momentos de crise. Empresas como Carrefour (CRFB3), Assaí (ASAI3) e Pão de Açúcar (PCAR3) costumam ver menos volatilidade na demanda, pois oferecem produtos essenciais para o dia a dia da população.

Diante disso, é possível que este segmento leve vantagem em relação aos pares do varejo e mantenha resultados mais sólidos. A Vivara (VIVA3) é outra companhia que se enquadra no grupo dos resistentes, pois a maior parte dos produtos é voltado ao público de alta renda, que tende a ser menos impactado pela inflação.

Aéreas e Turismo

O turismo é um dos setores mais dependentes da macroeconomia para alçar voos mais altos. Entre as empresas do setor que fazem parte do Ibovespa, temos a Azul (AZUL4) e a Gol (GOLL4) do setor aéreo e a CVC (CVCB3), operadora de viagens.

Entre os principais desafios para 2023 estão a valorização do dólar frente ao real, taxas de juros elevadas e preço dos combustíveis.

O dólar caro é uma preocupação para as aéreas, uma vez que mais de 50% dos custos destas empresas são dolarizados. Além disso, a demanda por viagens internacionais tende a ser menor nestes períodos.

O preço do combustível é outro fator de pressão sobre os resultados. O produto está duas vezes mais caro que antes da pandemia de Covid-19 e representa cerca de 40% das despesas das companhias aéreas. A expectativa é que isso mantenha as margens destas empresas pressionadas em 2023.

Em relação à CVC, o cenário deve arrefecer a demanda por viagens e as receitas podem ser menores. É possível que os viajantes optem por viagens mais curtas de menor custo ou posterguem as viagens devido ao menor poder de compra.

Além disso, todas as três companhias estavam entre as maiores alavancagens financeiras até setembro de 2022.

Isto pode indicar que a capacidade dessas companhias em honrar dívidas é menor que a de outras empresas do Ibovespa.

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Estas companhias ainda sofrem com os impactos causados durante a pandemia e devem continuar com as margens pressionadas pela inflação de custos e maiores despesas financeiras em 2023.

Quais ações podem se dar bem em 2023?

Estes são considerados aqueles mais seguros, geralmente, menos sensíveis às variações macroeconômicas e que ainda podem se beneficiar de uma alta dos juros, como os bancos, seguradoras.

Bancos

O nível elevado dos juros aumenta o retorno proporcionado pelo capital emprestado pelos bancos – em particular no caso dos bancões, como, Itaú e Banco do Brasil, que apresentam uma carteira de crédito de maior qualidade em relação aos pares do setor.

A fonte de receita dessas instituições é a diferença entre os juros cobrados dos clientes e os juros pagos por quem toma empréstimos. Portanto, quanto maior os juros, maior tende a ser esta diferença, que é chamada de spread.

Por outro lado, os juros altos aumentam a chance de inadimplência. Isto porque o custo dos empréstimos cresce, afetando a capacidade dos devedores de pagar as dívidas no prazo combinado.

Os bancos obrigatoriamente devem reservar parte do lucro para cobrir perdas futuras gerada por calotes. Esta provisão é lançada como uma despesa, impactando negativamente a rentabilidade.

Ainda que os juros altos exerçam esse efeito ambíguo sobre o resultado dos bancos, estas empresas são consideradas defensivas, uma vez que a demanda por produtos financeiros é menos sensível às variações macroeconômicas.

Seguradoras

Este segmento pode ser o mais beneficiado em um cenário de juros elevados, pois obtém grande parte da receita a partir de investimentos.

As seguradoras ganham dinheiro a partir de pagamentos recebidos dos seus clientes (os chamados prêmios). Em troca, oferecem proteção financeira. Geralmente, a maior parte dos recursos captados dos clientes são alocados em investimentos de renda fixa com rentabilidade indexada ao CDI ou IPCA, que acompanham a taxa básica de juros (Selic) e a inflação.

Portanto, quando a Selic está alta, os investimentos feitos pelas seguradoras rendem mais.

Além disso, a sinistralidade – ou o acionamento do seguro pelos clientes – tem sido cada vez menor, após passar por um “boom” durante a pandemia de Covid-19, diminuindo os custos destas empresas.

Maiores retornos com menores custos são a combinação perfeita para maiores retornos e tornam as seguradoras um dos melhores setores para 2023.

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