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Ações da Americanas (AMER3) viraram pó ou são oportunidade para o investidor? Confira análise

As ações da Americanas desvalorizaram cerca de 85% em menos de um mês e pode ser que não voltem aos patamares anteriores

Foto: Shutterstock/thiago bacelar

Em menos de um mês, as ações da Americanas (AMER3) foram do céu ao inferno, com uma desvalorização de nada menos que 85%, após a descoberta de um rombo contábil de cerca de R$ 20 bilhões.

Enquanto a crise da varejista vai se desdobrando em novos fatos, há investidores que andam se perguntando: a Americanas virou uma grande oportunidade ou uma grande cilada?

Por enquanto, o mercado segue pessimista em relação a uma recuperação da empresa, principalmente depois de a equipe de administração da recuperação judicial ter descoberto, na semana passada, mais R$ 6,6 bilhões em dívidas, totalizando R$ 47,9 bilhões.

Um exemplo simbólico disso é que a BlackRock, maior gestora de fundos do mundo, resolveu não dar uma segunda chance à varejista e vendeu quase toda a sua participação na companhia, que havia acabado de aumentar em dezembro, para 45,5 milhões de ações, reduzindo a sua fatia de 5% para 0,1%.

Nesse cenário de aversão, os preços das ações não resistiram e foram ladeira abaixo. O papel ordinário da varejista (AMER3), que que era negociado a R$ 12 antes do anúncio de inconsistência contábil no dia 11 de janeiro, chegou a atingir R$ 0,71 no dia 20 de janeiro.

Ainda assim, mesmo com todo o temor em torno da companhia, os papéis esboçaram uma leve recuperação, fechando o pregão de segunda-feira (6) a R$ 1,73, uma alta de 143% desde o dia 20 de janeiro.

Apesar de um suposto otimismo de parte dos investidores que decidiram comprar a ação durante esse momento negativo, a situação financeira da companhia é muito complicada, o que torna improvável a hipótese de uma recuperação dos preços dos papéis.

A baixa capacidade de geração de caixa, combinado ao bloqueio de 90% do caixa disponível, restando apenas R$ 800 milhões, dificulta a continuidade das operações e eleva o risco de insolvência da companhia.

Portanto, o início do processo de recuperação judicial é a última saída para a varejista, que deve apresentar um plano até dia 19 de março. Este projeto conta com a captação de R$ 1 bilhão em recursos dos acionistas referências: Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles — o trio da 3G Capital.

As ações da Americanas viraram pó?

A situação da varejista é difícil de ser revertida, pois, além das complicações financeiras e de governança, alguns desafios operacionais devem surgir e impactar negativamente a geração de caixa da companhia, como por exemplo o distanciamento na relação da varejista com os parceiros, fornecedores, financiadores e consumidores.

Uma vez que o risco de insolvência é maior, pode ser que os fornecedores fiquem receosos em fornecer produtos. Os empréstimos e financiamentos com bancos devem seguir na mesma linha, o que pode levar a companhia a ter dificuldades operacionais com estoques, capital de giro, entre outros.

Já os consumidores podem querer evitar comprar com medo de o produto não chegar. A demanda reduzida impactaria no volume de vendas da companhia e consequentemente em menor geração de caixa, o que elevaria ainda mais o risco de insolvência.

Em adição a todos estes desafios operacionais e financeiros, o cenário macroeconômico não deve facilitar a vida da companhia. A manutenção de juros em patamares elevados para 2023 é um outro aditivo para redução da demanda.

O segmento de varejo de eletrodomésticos e móveis, que tem produtos de alto valor agregado, é altamente impactado pelo maior custo de juros. Uma vez que a maior parte compras é parcelada, os consumidores podem achar caro o custo do crédito e não comprar os produtos.

Diante desses fatores, a companhia deve registrar um menor volume de vendas para 2023, reduzindo a capacidade de gerar caixa e elevando ainda mais o risco de insolvência.

Neste contexto, seria pouco provável a recuperação da companhia e os retornos para os acionistas podem não acontecer, levando a uma queda ainda maior dos papéis.

Quais impactos para o investidor?

Diferentemente de um debenturista, que empresta dinheiro para companhia, o acionista não é credor. A partir do momento da compra do papel, o acionista está disposto a assumir os riscos inerentes a ser sócio da companhia, inclusive o risco de uma falência.

Portanto, queda ou alta dos papéis faz parte dos riscos do negócio e não dá o direito de o acionista receber o dinheiro de volta por isso, ao contrário do credor, como bancos, por exemplo, que emprestaram o dinheiro e esperam ser pagos.

Diante disso, em uma eventual falência da companhia, as ações seriam retiradas da bolsa de valores e o investidor perderia todo o investimento realizado anteriormente.

Há a possibilidade de o investidor entrar na Justiça alegando má-fé dos executivos. No entanto, a chance de sucesso é baixa e o processo é lento.

Além do investidor

A queda de uma das maiores varejistas do Brasil pode levar a um efeito cascata para os fornecedores e parceiros da companhia. Diante disso, pode haver uma massiva demissão no período, impactando negativamente a economia do país.

A companhia conta, hoje, com cerca de 40 mil funcionários diretos e mais de 60 mil de forma indireta.

Até o momento, porém, ainda não houve relatos de demissões em massa por parte da Americanas. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, a varejista encerrou contrato com 50 prestadores de serviços e interrompeu os serviços de venda por telefone.

Outra companhia que já tem sentido os efeitos da desconfiança do investidor é a Ambev (ABEV3), uma das companhias do portfólio do Grupo 3G Capital, sócios referência da Americanas. Recentemente, a cervejeira sofreu acusações de um suposto rombo tributário no valor de R$ 30 bilhões.

No entanto, as acusações foram feitas por uma associação de produtores concorrentes da Ambev, a CervBrasil, que conta, por exemplo, com o Grupo Petrópolis. E a Ambev publicou uma nota no qual afirmou que as acusações feitas pela CervBrasil não têm qualquer embasamento e que calcula todos os créditos tributários estritamente com base na lei.

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E não para por aí: com o caso da Americanas, todo o mercado de ações pode ser colocado em pauta.

As ações da Americanas estavam classificadas dentro do segmento de Novo Mercado, que adota critérios mais rígidos de regras de governança e práticas de administração e transparência.

Diante de uma possível fraude da Americanas, o mercado brasileiro pode ser descredibilizado por investidores estrangeiros e locais, com uma possível fuga de dinheiro da bolsa de valores, o que pode levar a uma queda nos preços de todas as companhias listadas.

É a hora de investir em ações da Americanas?

A companhia está à mercê da apresentação de um plano para recuperação judicial, o que já seria motivo suficiente para ficar de olho no alto risco de se investir nos papéis da varejista.

Para complementar, a baixa capacidade em gerar caixa, o fraco caixa, as dívidas exorbitantes, os desafios operacionais, financeiros e de governança indicam um alto risco ao investir nos papéis da companhia.

Diante disso, pode não ser um bom momento para alocar capital em ações da varejista, a não ser que o investidor seja um especulador tentando aproveitar o momento de alta volatilidade dos papéis para obter lucros.

Neste caso, porém, não é aconselhável que investidores inexperientes pratiquem esse tipo de operação, porque é improvável acertar o próximo movimento dos papéis da Americanas, o que pode levar o investidor a perder dinheiro.

A estratégia preferível é investir em empresas com sólidos balanços e resultados, com ações que estão com preços abaixo do valor justo, gerando um potencial valorização para o acionista.

Não adianta, portanto, comprar uma ação que aparenta estar barata, mas que tem chance de continuar cada vez mais “barata”.

 

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