Por que meta de inflação mais frouxa seria má notícia para a economia? Itaú e Goldman Sachs respondem

Meta de inflação pode ser alterada por decisão do CMN na quinta-feira

Foto: Shutterstock/Brenda Rocha - Blossom

As críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à manutenção dos juros em níveis altos pelo BC (Banco Central), somadas à hipótese de afrouxamento da meta de inflação, mudaram o cenário esperado pelo mercado e são fatores prejudiciais à economia brasileira, na análise do Itaú Unibanco e do Goldman Sachs.

Recentemente, Lula fez reiteradas críticas ao Banco Central e deixou claro que desconfia da isenção política do presidente da instituição, Roberto Campos Neto, que foi alçado ao cargo por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Além disso, começaram a circular rumores de que na quinta-feira (16), data da próxima reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional), o governo vai afrouxar a meta de inflação para dar mais espaço à queda dos juros.

O órgão é formado por Campos Neto e pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet. Cada um tem direito a um voto nesse tipo de decisão – o que dá maioria para o governo.

“Incertezas sobre o compromisso da política econômica com inflação baixa, inclusive sobre a autonomia do Banco Central para perseguir as metas de inflação, determinadas pelo CMN, têm levantado dúvidas sobre o regime monetário corrente. Nesse contexto, as expectativas dos agentes estão se distanciando da meta de inflação, até para horizontes maiores, e uma revisão da meta do atual patamar de 3,0% poderia ampliar esse movimento de desancoragem”, disse o Itaú Unibanco em um relatório.

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A instituição é, inclusive, um dos “agentes” que revisaram para cima a previsão de inflação. O banco aumentou a estimativa de alta nos preços neste ano de 5,8% para 6,3%, e a projeção para o ano que vem de 3,7% para 4,2% – podendo superar 5% se de fato houver revisão da meta de inflação.

A revisão de 2023 reflete principalmente um novo cálculo sobre os preços esperados da gasolina, dos planos de saúde e da energia elétrica, mas a de 2024 é reflexo direto “da desancoragem das expectativas de inflação”, disse o banco.

“O temor acerca de mudanças no regime monetário já foi relevante e duradouro o suficiente para dificultar, ainda que não inviabilizar, o processo de redução da inflação à frente”, afirmou o Itaú Unibanco.

Receio maior é com 2024, diz Goldman Sachs

Outro bancão, este do exterior, também está preocupado com o cenário para os juros e a inflação no Brasil. Em relatório, o Goldman Sachs disse que as críticas de Lula ao Banco Central são “injustificáveis e contraproducentes”, e que a inclinação do governo a afrouxar a meta de inflação sugere resistência em adotar limites para o crescimento das despesas públicas.

“Portanto, é provável que, se metas mais altas forem anunciadas, as expectativas de inflação se ajustem para cima, possivelmente para perto do limite de tolerância das novas metas”, disse o Goldman Sachs, acrescentando que isso deve aumentar a pressão pela desvalorização do real e levar a uma trajetória mais alta para a inflação.

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“Isto implica que não haverá espaço para cortes de juros no curtíssimo prazo e, no limite, que podem ser necessárias taxas mais altas para alinhar a inflação projetada às novas metas”, reforçou o banco americano.

A instituição também disse que alterar a meta de 2023 é a menor das preocupações, dado que dificilmente a meta de inflação será cumprida neste ano. As consequências maiores virão de mudanças na meta para 2024, que hoje é de 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo.

“O mercado acha que a inflação deve ficar perto de 4% ao fim de 2024, e os modelos do BC preveem que, num cenário sem corte de juros ao longo de 2023 e 2024, a inflação basicamente se alinharia à meta de 3% até o fim do ano que vem”, disse o Goldman Sachs.

“Se a meta de 2024 aumentasse, as expectativas de inflação também se moveriam para cima, levando a uma trajetória de inflação mais alta. Isso implica nenhum espaço tangível para cortes de juros responsáveis no curto prazo”, afirmou.

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