A possibilidade de os bancos concederem crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil é lei desde a semana passada — aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Em resumo, o beneficiário que conseguir tomar um empréstimo nessa modalidade terá que destinar parte do valor que recebe do benefício para pagar as parcelas da dívida assumida. O máximo que ele pode comprometer do benefício para quitar a prestação é 40%.
Os grandes bancos, porém, já disseram que não pretendem entrar nessa. Como os beneficiários do programa social são brasileiros em situação de vulnerabilidade, instituições como Bradesco e Itaú acreditam que o risco de tomar calote é alto demais e não compensa. Não seria bom para o banco e nem para o cliente, eles avaliam.
O Banco Pan, no entanto, informou na segunda-feira (8) que se prepara para oferecer algo do tipo para seus clientes. A instituição, controlada pelo BTG Pactual, tem uma atuação focada em conceder crédito para as classes C, D e E. Já conta, portanto, com uma experiência vasta com os brasileiros de renda mais baixa.
A instituição tem uma ideia inicial de oferecer o produto com juros mensais que vão de 3,5% a 4,9%, e estima que tem cerca de 1,5 milhão de clientes que podem se encaixar nesse perfil, de uma base total de 21 milhões de usuários.
O produto entraria no mercado assim que estiver totalmente liberado pelas autoridades, o que se espera que ocorra já em agosto.
Em relatório distribuído a clientes nesta quarta-feira (10), os analistas do Itaú BBA reconhecem que operar esse tipo de crédito não é trivial e que sua execução terá de ser cuidadosa.
No entanto, afirmam que o Pan tem as “ferramentas e a mentalidade para estar à frente da indústria com esse produto” e lembram que a instituição já trabalha com crédito consignado com a garantia de outro programa social, o FGTS.
“Está muito bem adaptado aos seus canais, perfil de cliente e alinhado ao seu apetite de risco”, escrevem os analistas Pedro Leduc, Matheus Raffaelli e William Barranjard.
Apesar da avaliação positiva sobre o Auxílio Brasil, o Itaú BBA revisou para baixo as projeções para o lucro líquido do banco em 2022 e 2023. As estimativas agora são de R$ 829 milhões neste ano e R$ 931 milhões no ano que vem, números 18% e 11% menores que as previsões anteriores.
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As novas projeções consideram os resultados apresentados pelo Pan para o segundo trimestre, quando a instituição teve lucro líquido de R$ 194 milhões, queda de 4% ante igual período do ano passado.
“Gostamos da história a longo prazo, mas acreditamos que a dinâmica dos lucros permanece desfavorável no curto prazo”, disseram os analistas, que lembraram que a inadimplência está em alta.
A projeção para a carteira de crédito também foi revisada para baixo, para R$ 40,5 bilhões neste ano, 6% a menos que na estimativa anterior.
O BBA, contudo, afirma que há um potencial de alta para a carteira por parte dos créditos apoiados por programas sociais, como o FGTS e o Auxílio Brasil. O crédito consignado com o Auxílio Brasil, eles acreditam, deve começar a operar no quarto trimestre deste ano e entrar por 2023.
“As transferências sociais sob essa bandeira podem ultrapassar R$ 100 bilhões em 2023, tornando este um produto de crédito de alto rendimento e alto risco potencialmente significativo”, disseram.
Por volta das 13h20, as ações do Pan subiam 5,82%, a R$ 7,27. O BBA estima preço-alvo de R$ 10, com uma classificação para a empresa de market perform (em linha com a média do mercado), o equivalente a uma visão neutra para o papel.