Os 5 pontos do discurso de Lula que azedaram o humor do mercado

Dólar e juros futuros disparam e Ibovespa cai com força na manhã desta quinta-feira

Gabriel Bosa, Ana Ribeiro

Gabriel Bosa, Ana Ribeiro

Foto: Shutterstock/Isaac Fontana

Em um discurso duro com a política fiscal feito na manhã desta quinta-feira (10), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a ampliação de gastos públicos, criticou o teto de gastos e a reforma da Previdência e disse que trabalhará por mudanças na legislação trabalhista.

O mercado considerou a fala uma sinalização de que o novo governo terá pouco compromisso com a responsabilidade fiscal a partir de 2023, e contribuiu para aprofundar as perdas do Ibovespa e impulsionar a alta do dólar e dos juros.

Antes do discurso, o mercado já estava tenso com dados que mostraram inflação acima do esperado em outubro e com uma fala do próprio Lula na noite de ontem, onde havia criticado “guardar dinheiro para pagar juros de dívida para banqueiros”.

Lula se emocionou durante o discurso e chegou a chorar em um trecho ao dizer que sua prioridade é “tentar reestabelecer a dignidade do nosso povo”.

A equipe de transição negocia com o Congresso a abertura de espaço de R$ 175 bilhões no Orçamento de 2023 através de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que terá que ser aprovada ainda neste ano.

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Além do valor elevado de despesas fora do teto de gastos, a fala do presidente eleito reforçou o temor que a proposta exclua benefícios sociais como o Auxílio Brasil da regra que limita o crescimento da despesa pública.

“O Lula fez um discurso muito forte, disse que vai governar para a população, não está preocupado com o fiscal, com austeridade, vai se preocupar com que a população tenha qualidade de vida. Passou o recado de que vai gastar”, disse o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.

Lula ainda não indicou qual será o seu ministro da Fazenda, e declarou que anunciará sua equipe somente após voltar da COP 27 (Conferência das Partes sobre o Clima), que acontece no Egito entre os dias 16 e 17 de novembro.

Veja abaixo os principais trechos da fala de Lula na manhã de hoje.

Gastos sociais

“A prioridade zero, outra vez o mesmo discurso que eu disse em dezembro de 2002, não tem que mudar uma única palavra. Se quando eu terminar esse mandato, cada brasileiro estiver tomando café, almoçando e jantando, outra vez, eu terei cumprido a missão da minha vida.”

“A gente não tem que ter vergonha de dizer que o nosso voto é o voto daquelas pessoas que mais necessitam, que um dia viveram num país que tinha um governo que olhou para elas. Que governou prioritariamente para elas, sem esquecer da responsabilidade da participação de outros segmentos da sociedade.”

“Quem já nasce no asfalto, com luz elétrica e água encanada, não tem noção do que é fazer política para o povo pobre desse país. As pessoas não têm noção do significado de uma cisterna. Parece uma coisa trivial para quem tem água encanada, parece bobagem. Por que fazer 1,4 milhão cisterna? O que isso interessa para a economia brasileira? O que representa para o PIB?”

“A gente não pensa no PIB quando faz isso. A gente não pensa na economia ou na macroeconomia. A gente pensa na sobrevivência da espécie humana que o Estado tem a obrigação de cuidar e dar a possibilidade da igualdade de condições para as pessoas.”

Mudanças trabalhistas

“A gente tem que discutir o mundo do trabalho. A gente não pode viver num mundo em que os trabalhadores parece que são microempreendedores, mas que trabalham como se fossem escravos sem nenhum sistema de seguridade social para protegê-lo no infortúnio.”

Reforma da Previdência

“Parece pouco, mas a reforma da aposentadoria fez com que um trabalhador que receberia normalmente R$ 2 mil, vai receber R$ 1,3 mil. Parece pouco que uma mulher que poderia receber R$ 2 mil de pensão do marido, vai receber metade disso. Os empresários que ficaram chateados porque falamos que vamos rediscutir a legislação trabalhista, a verdade é que nós vamos ter que discutir a relação capital e trabalho no século 21.”

Teto de gastos

“Por que que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gastos não discutem a questão social desse país? Por que que o povo pobre não está na discussão da planilha da macroeconomia? Por que a gente tem meta de inflação, mas não tem meta de crescimento? Por que a gente não estabelece um novo paradigma de funcionamento nesse país?”

“Por que as pessoas são levadas a sofrer em conta de garantir a tal de estabilidade fiscal nesse país? Por que que todas as pessoas falam ´é preciso cortar gastos´? ´É preciso fazer superávit, é preciso fazer teto de gastos´?”

BNDES

“As empresas públicas brasileiras serão respeitadas. A Petrobras não vai ser fatiada. Quero dizer que o Banco do Brasil não será fatiado, a Caixa. O BNDES, BNB e Basa voltarão a ser banco de investimento, inclusive para o pequeno e médio empreendedor.”

Defesa sobre responsabilidade fiscal

“Nós temos que garantir uma política fiscal muito séria porque é preciso pagar o juro com o sistema financeiro. E eu tenho dito durante a campanha, ninguém pode falar de responsabilidade fiscal comigo. Poder falar, pode. Mas ninguém nesse país pode dizer que tem alguém mais responsável do que eu.”

“Ninguém pode dizer que neste país tem alguém mais responsável do que eu. Quando cheguei na presidência em 2003 esse país tinha 12% de inflação. Esse país estava com 12% de desemprego, quando chegou em 2014 tinha 4,3% de desemprego, o menor da história desse país. Vocês lembram que esse país tinha uma dívida pública interna de 60,7%, deixamos a dívida com 37,7%.”

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