Nem Lula nem Bolsonaro buscam rigor fiscal, e isso afetará o mercado, diz Capital Economics

Para consultoria, nenhum dos dois candidatos demonstra apetite pela austeridade fiscal, o que deve pesar nos mercados financeiros no Brasil

Foto: Shutterstock

Para a consultoria britânica Capital Economics, nenhum dos dois candidatos com mais chance de vencer a corrida presidencial no Brasil demonstra apetite pela austeridade fiscal, o que provavelmente pesará nos mercados financeiros do país, apontou em relatório divulgado nesta terça-feira (30).

Tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto o presidente Jair Bolsonaro (PL), que aparecem respectivamente em primeiro e em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto no primeiro turno, têm sinalizado intenção de manter o valor do Auxílio Brasil em R$ 600 mensais, além de prometerem isenção de Imposto de Renda para uma faixa maior de trabalhadores, o que implicaria em maior gasto fiscal.

Levantamento da Unafisco (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal) mostra que a proposta de Lula de isentar o IR de quem ganha até R$ 5 mil mensais resultaria em renúncia de R$ 199,8 bilhões. Já a promessa de Bolsonaro de liberar do IR quem ganha até 5 salários mínimos teria impacto de R$ 226,8 bilhões na arrecadação.

Além disso, a dúvida sobre qual será a nova âncora fiscal no próximo governo é outro ponto que preocupa o mercado. Lula já afirmou ser contra manter o teto de gastos (que limita o aumento de despesas do governo à inflação). Já Bolsonaro indicou, durante o debate na TV Bandeirantes, no dia 28 de agosto, que pode manter o teto, embora tenha contornado esta regra fiscal para pagar, por exemplo, precatórios.

“Ambos os candidatos parecem a favor de uma política fiscal mais frouxa, o que faria com que o déficit orçamentário aumentasse ainda mais”, diz a Capital Economics em relatório.

Apesar da piora da perspectiva fiscal, os juros dos títulos do Brasil em dólar estão levemente maiores que os de economias em situação semelhante, segundo a Capital Economics, o que mostra que ainda não há uma grande desconfiança dos estrangeiros com a capacidade de pagamento do país.

A consultoria destaca que os dados de atividade mostram que a economia do Brasil perdeu força no final do segundo trimestre.

Enquanto a inflação está em trajetória de queda, beneficiada pelo corte do ICMS sobre os preços de energia e combustíveis, as pressões dos preços no núcleo da inflação continuam altas e os riscos fiscais estão crescendo, diz a Capital Economics.

Segundo a consultoria, o Banco Central deve a fazer um aumento final de 0,25 ponto na taxa básica de juros, a Selic, em setembro, para 14% ao ano.

Apesar da valorização de 3% do real em relação ao dólar em agosto, com o melhor desempenho entre as moedas emergentes, a Capital Economics espera uma desvalorização do câmbio até o fim do ano, prevendo uma alta do dólar do atual patamar de R$ 5,072 para R$ 5,50.

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